Os mais perigosos foram embora, diz carcereiro de presídio de fuga do PCC
Resumo da notícia
- Agente de Pedro Juan Caballero afirma que houve corrupção de carcereiros
- Para ele, brasileiros incluíram paraguaios na fuga para tomar tempo da polícia
- Carcereiro diz que há presença de membros do PCC em presídios do Paraguai
"Aqueles mais perigosos que foram. Os mais perigosos foram embora. Todos do PCC (Primeiro Comando da Capital), que estavam no pavilhão A. Não sobrou nenhum chefe, mas ainda tem uns brasileiros", afirmou, em português, ao UOL, um carcereiro da prisão regional de Pedro Juan Caballero, 10 dias após 75 homens terem fugido do local.
O carcereiro aceitou conversar com a reportagem enquanto trabalhava, mas sem ser identificado. Ele estava em frente ao portão principal do presídio, abrindo-o e fechando-o para visitas e autoridades que entravam e saíam do local na manhã de 29 de janeiro passado. Filho de mãe brasileira e de pai paraguaio, ele cresceu na fronteira entre os dois países.
"Quase todo mundo aqui de Pedro Juan Cabellero fala português. Nós somos irmãos. Nunca tivemos problemas", disse. Ele trabalhava em um outro presídio, a 200 quilômetros de distância, antes de a fuga ocorrer. Após a saída dos 75, toda a equipe de segurança foi trocada. Para o carcereiro, a mudança foi boa. "Agora, estou em casa, onde nasci. Para mim, foi bom", afirmou.
Segundo ele, a presença do PCC é visível nos presídios do Paraguai, sobretudo da capital, Assunção, e da região da fronteira, nos últimos anos. "Também há muitos paraguaios batizados. O tráfico de maconha gera dinheiro. Quando já não tem nada, acaba entrando para o PCC, porque é mais vantajoso", disse.
Ele mesmo acredita que os integrantes do PCC não saíram da prisão pelo túnel cavado entre o pavilhão A e o lado de fora. Segundo policiais nacionais da capital paraguaia, entrevistados pelo UOL, a fuga está estimada em US$ 1,5 milhão, subdividido entre propina paga pelo PCC a agentes penitenciários, além de estrutura para sair da região.
Do pavilhão onde os 75 homens fugiram, atualmente há 106 presos: 87 no andar superior e 19 no andar inferior. O buraco do túnel foi fechado, mas a cela onde a escavação aconteceu está interditada. O carcereiro afirmou que há cerca de 1.100 presos no local, o que não configura uma superlotação.
Familiares de presos disseram à reportagem que os brasileiros acrescentaram os paraguaios na fuga para que a polícia se ocupe os prendendo e, assim, terem mais tempo para fugir do país. Segundo o carcereiro, essa lógica é válida. "Os paraguaios vão para onde? Não têm para onde ir. Vão ficar por aqui e são os que devem ser presos", afirmou.
O presídio fica numa região periférica de Pedro Juan, a sete quilômetros de distância da fronteira com a cidade de Ponta Porã (MS). No entorno da prisão não há ruas asfaltadas. As ruas, de barro e de paralelepípedos, são bastante esburacadas.
Na principal via de acesso, que liga a penitenciária ao centro da cidade, há pequenos mercados e casas simples. Em dias de forte calor, os vizinhos colocam cadeiras nas calçadas e ficam se abanando. Dentro do perímetro da prisão, além de agentes carcerários, há policiais nacionais e membros do Exército.
Nem agentes, nem policiais nem militares impediram a reportagem de, com câmera nas mãos, caminhar e gravar, com calma, o entorno do presídio, considerado de segurança máxima pelo governo local. Dez dias após a fuga, o túnel já havia sido tapado com terra.
Em dezembro, o governo paraguaio já havia identificado um suposto plano de fuga de membros do PCC no presídio da cidade. Nada, no entanto, foi feito. Toda a equipe de carceragem foi mudada após a saída dos 75 presos.
A reportagem entrevistou integrantes que estão trabalhando atualmente no local. Para eles, para além de dinheiro, havia medo no local. "Se imagine trabalhando aqui dentro, com pouco dinheiro, muitas bocas para sustentar e criminosos perigosos ameaçando matar você e toda sua família. O que você faria?", questionou.
Pedro Juan Caballero é um território extremamente estratégico para o PCC. Como o Paraguai é um dos principais produtores de maconha e tem facilidade para a entrada e saída da cocaína que chega via Peru, Colômbia e Bolívia, Pedro Juan Caballero é utilizada como um local de passagem para o tráfico internacional de drogas e de armas.
Uma vez no território nacional, a droga é enviada aos principais portos do país e, de lá, exportada para Europa, África e Ásia dentro de navios, o que é tido como a principal forma de ganhar dinheiro da facção.
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