Celso Lafer diz que Brasil não deve tomar partido nem da China nem dos EUA
O jurista e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer disse que o Brasil não deveria tomar partido nem da China nem dos Estados Unidos e defendeu o entendimento com os dois países, durante entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura.
"O Brasil não deveria, porque China e EUA estão hoje vivendo uma tensão, e é uma tensão de hegemonia, quem vai exercer uma preponderância na vida internacional", avaliou Lafer.
"A agenda dos EUA, bem ou mal, é uma agenda de contenção da China. E a agenda da China, bem ou mal, é uma agenda de ascensão da China. Acho que o papel do Brasil não é nem ingressar numa pauta nem em outra, é justamente buscar caminhos de entendimento com os dois, porque é aquilo que é compatível conosco como país, impossível para nós na situação em que nos encontramos", completou.
Os Estados Unidos e a China têm enfrentado troca de farpas cada vez mais intensa nos últimos meses. A maioria dos casos envolve questões da política externa de ambos os países. Houve brigas, retaliações (de um lado e de outro) e promessas de "cessar-fogo".
Uma dessas questões pendentes envolve a empresa chinesa de telecomunicação Huawei. Ela foi banida pelo governo americano de fazer negócios com companhias do país, alegando sempre que a sua tecnologia para redes de dados e a proximidade com o governo chinês representam uma ameaça à segurança nacional nas nações que a adotam. Em novembro, executivos da Huawei reuniram-se com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Embora admita não ser um bom conhecedor da tecnologia, Lafer considera a decisão difícil.
"Esta é talvez uma das decisões mais difíceis que temos pela frente, mas acho que devíamos fazer uma avaliação significativa e não excluir a hipótese de escolher uma ou outra. É uma escolha que requer, inclusive, uma discussão mais ampla com a sociedade brasileira. Não pode ser uma decisão tomada apenas num circuito muito fechado."
Vírus chinês?
Em março, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) usou as redes sociais para dizer que a "culpa" era da China pela proliferação do vírus. Alguns bolsonaristas, inclusive, passaram a adotar a expressão "vírus chinês", assim como já fazia o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Para o ex-ministro Celso Lafer, tratar a China dessa forma é um grande erro que está sendo cometido pelo governo brasileiro.
"Você não trata um parceiro comercial da envergadura da China da maneira pela qual ele foi tratado por figuras do governo Bolsonaro. Como você também não trata a Argentina, como não trata a França, a Alemanha. Volto a história da cortesia internacional. Há meios e modos. A China é uma compradora importante de produtos agrícolas que ela compra do Brasil porque o Brasil é um grande fornecedor", afirma.
"Eu tenho essa preocupação porque você está excluindo do capítulo de sua vida internacional atores importantes sem nenhum ganho. Mencionei que gestão de risco é uma coisa importante. Pandemia, gestão de risco. Economia, gestão de risco. Ora, o Itamaraty, a política externa, é também algo que tem que se preocupar com gestão de risco. no caso da China não está se fazendo gestão de risco, não é do interesse do país."
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