Ex-conselheiro de Trump concorda em pagar fiança de US$ 5 mi e deixa prisão
Ex-conselheiro de Donald Trump na Casa Branca e um dos maiores gurus da direita atual - inclusive tendo apoiado a campanha presidencial de Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018 -, Steve Bannon concordou em pagar fiança de US$ 5 milhões e saiu da prisão.
Ele pagou hoje US$ 1,75 milhão de adiantamento, que poderia ser em dinheiro ou propriedade. Porém, ele será obrigado a depositar o resto do dinheiro como parte do apoio.
Ao sair da cadeia, ele retirou a máscara de proteção contra a covid e cumprimentou apoiadores. Bannon disse ser inocente das acusações de fraude. Ele foi preso na manhã de hoje.
Mesmo respondendo em liberdade, ele terá restrições: poderá ir apenas aos distritos sul e leste de Nova York, distrito de Connecticut e distrito de Washington, DC; e também será impedido de usar aviões, iates ou barcos privados sem permissão do tribunal.
A Procuradoria de Nova York indiciou Bannon e outras três pessoas - Andrew Badolato, Brian Kolfage e Timothy Shea - de enganarem doadores no esquema de arrecadação de fundos online "We Build The Wall ("Nós Construímos o Muro").
A motivação da campanha - que juntou mais de US$ 25 milhões (cerca de R$ 140 milhões) - seria arrecadar dinheiro para construir um muro na fronteira com o México, mas os acusados teriam usado os recursos para uso pessoal.
De acordo com a acusação, Bannon prometeu que 100% do dinheiro doado seria usado para o projeto, mas os réus usaram coletivamente centenas de milhares de dólares de uma maneira inconsistente com as representações públicas da organização.
Eles fraudaram centenas de milhares de financiadores capitalizando o interesse deles em financiar a construção do muro na fronteira e com o falso pretexto de que os recursos seriam gastos na obra
procuradora Audrey Strauss, do Distrito do Sul de Nova York
A acusação alega que eles falsificaram recibos, entre outras formas, para esconder o que realmente estava acontecendo.
Questionado sobre a prisão, Trump disse não saber nada sobre a campanha alvo de investigação. "Não sei nada sobre este projeto", disse no Salão Oval. "Não tenho contato com ele [Bannon] há muito tempo", acrescentou.
Estilo luxuoso e gastos pessoais
De acordo com a acusação, Kolfage ficou com US$ 350 mil dólares para financiar seu "luxuoso estilo de vida", e Bannon desviou US$ 1 milhão para uma organização sem fins lucrativos que pagou secretamente a Kolfage "e cobriu centenas de milhares de dólares de gastos pessoais de Bannon".
Os quatro detidos foram acusados de dois crimes: fraude bancária e conspiração para lavagem de dinheiro. Cada delito pode resultar em uma pena máxima de 20 anos de prisão.
Campanha de Trump e fake news
Steve Bannon comandava o site conservador Breitbart, cujo conteúdo dissemina informações duvidosas ou até mesmo falsas, e no segundo semestre de 2016 foi escolhido para liderar a reta final da campanha presidencial de Donald Trump, também acusada de promover fake news. Vencida a eleição, ele passou a ocupar um cargo importante de estratégia na Casa Branca, mas lá ficou por menos de um ano.
Combativo e contundente, Bannon era a voz de um conservadorismo nacionalista e pressionou Trump a cumprir algumas de suas promessas de campanha mais controversas, incluindo a proibição de entrada para alguns turistas estrangeiros e a saída do acordo de Paris sobre o meio ambiente.
Mas Bannon também entrou em conflito com outros conselheiros importantes, e seu perfil combativo às vezes irritava o presidente norte-americano. Ele foi afastado em agosto de 2017.
Guru da direita
Bannon é considerado um dos 'gurus' da direita no mundo. Ao longo dos últimos anos, ele fortaleceu laços com a extrema-direita europeia, como o italiano Matteo Salvini e a francesa Marine Le Pen, e se aproximou da família Bolsonaro.
Ele também tem conexões na ala ultraconservadora da Igreja Católica americana, que faz oposição ao papa Francisco.
Relação com a família Bolsonaro
Em outubro de 2018, Bannon declarou publicamente seu apoio a Jair Bolsonaro na campanha presidencial. "O capitão Bolsonaro é um brasileiro patriota e, acredito, um grande líder para seu país nesse momento histórico", disse ele à época, em mensagem enviada à agência Reuters. À BBC, afirmou que o então candidato era "brilhante".
A relação com a família Bolsonaro já havia começado antes, porém. Em agosto daquele ano, o deputado federal Eduardo Bolsonaro esteve nos Estados Unidos e se reuniu com Bannon. "Conversamos e concluímos ter a mesma visão de mundo", escreveu Eduardo na ocasião, postando uma foto com o americano.
Em março de 2019, Steve Bannon esteve entre os convidados de um jantar com o presidente Jair Bolsonaro em sua primeira visita oficial aos Estados Unidos como presidente do Brasil. Outro 'guru' da família Bolsonaro, Olavo de Carvalho, também estava presente. Na ocasião, Bannon disse ter ficado "incrivelmente impressionado" com a equipe do presidente.
* Com agências internacionais
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