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Itamaraty procura por brasileiro que pediu ajuda no Afeganistão

17.ago.2021 - Membros do Taleban circulam armados por uma área de comércio popular em Cabul, no Afeganistão - Hoshang Hashimi/AFP
17.ago.2021 - Membros do Taleban circulam armados por uma área de comércio popular em Cabul, no Afeganistão Imagem: Hoshang Hashimi/AFP

Do UOL, em São Paulo

19/08/2021 18h14

O Itamaraty procura pelo paradeiro de um brasileiro que pediu ajuda ao Consulado para deixar o Afeganistão, país tomado pelo grupo extremista Taleban no último domingo. O rapaz que não teve a identidade revelada entrou em contato através de mensagem de texto no telefone da embaixada. A informação foi confirmada por Olyntho Vieira, embaixador do Brasil responsável pelo Paquistão, Afeganistão e Tajiquistão, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo".

"Temos um caso que ainda não está claro. Um brasileiro que entrou em contato com o plantão consular, por mensagem de texto no telefone da embaixada. Mas não temos muita informação ainda, estamos tentando saber mais", disse ele, ao ser questionado sobre qual era a situação dos brasileiros no Afeganistão.

"Houve uma troca de mensagens, pedimos mais informações, mas ele certamente está com dificuldade de comunicação. Conforme ele for dizendo mais coisas, vamos tentando saber mais e, se chegar a esse momento, pensamos em como vamos fazer para retirá-lo do país. Eu prefiro não dizer [o nome dele]. É melhor manter isso reservado", acrescentou.

Segundo o embaixador, um segundo caso envolvendo brasileiros no Afeganistão foi resolvido com ajuda da Argentina —o Brasil não possui embaixada no país.

"Uma brasileira casada com um argentino que trabalhava numa ONG, mas os dois já partiram, estão no Uzbequistão. Houve uma movimentação diplomática, mas não sei dizer como eles saíram do Afeganistão. Os argentinos cuidaram de tudo", completou.

Retomada do Taleban ao Poder

Extremistas do Taleban tomaram a capital do Afeganistão, além de 26 das 34 capitais provinciais em um período de 7 dias, em um avanço rápido embora não surpreendente para observadores internacionais. O atual presidente, Ashraf Ghani, e seu vice, Amrullah Saleh, fugiram do país às pressas.

Durante a entrevista, Vieira se disse surpreendido com a rapidez na retomada do grupo ao Poder e a ausência de resistência das tropas afegãs.

"O que surpreendeu realmente muito foi a rapidez com que aconteceu tudo e o que levou a essa rapidez foi a ausência de resistência. Isso leva à pergunta: Por que não houve resistência? Seria muito ingênuo dizer que as pessoas estavam todas cooptadas pelo movimento. Acho que não. Mas, por outro lado, talvez nunca estivessem totalmente convencidas da presença ocidental no país. Pode ser que seja por aí", avaliou.

Após a retomada a Cabul, os radicais passaram a ter acesso também às aeronaves A-29 Super Tucano, produzidas pela Embraer. O modelo é o avião de ataque leve e treinamento mais moderno fabricado no país, e também conta com uma linha de montagem nos Estados Unidos, na Sierra Nevada Corporation. Hoje, é o principal avião das Forças Armadas do Afeganistão, com capacidade de atacar e bombardear alvos estratégicos no país.

Sobre esse assunto, o embaixador disse: "Eu sei de notícias da imprensa que seriam um total de 26 aviões, mas parece que a maior parte teria ido para o Uzbequistão. O jornal local do Paquistão exibiu uma foto de um grupo Taleban diante de um Super Tucano. Então um sabemos que ficou no Afeganistão, mas se desconhece o paradeiro dos demais. O que se especula é que os Taleban não têm pilotos. Mesmo que tenham acesso, são equipamentos extremamente sofisticados, e você pode transformá-los em inúteis se a parte de aviônica deixar de funcionar. Eles teriam como pilotar? Teriam mísseis para equipar os aviões? Teriam acesso ao software para fazer o avião funcionar? Hoje são perguntas que ninguém é capaz de responder", afirmou.

Brasil pede respeito aos direitos das mulheres

Um dia depois do Taleban reassumir o poder no Afeganistão, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) revelou preocupação com a crise humanitária desencadeada no país e pediu ação da ONU (Organização das Nações Unidas) por canais de diálogo. O Brasil solicitou ainda "respeito aos direitos das mulheres".

No comunicado enviado à imprensa, o Itamaraty manifestou "apreensão" com o aumento da instabilidade na região e seu potencial "impacto" em outros países. Diante disso, o Brasil pediu ajuda das Nações Unidas para o estabelecimento de canais de diálogo, "além da atuação do Conselho de Segurança para assegurar a paz na região".

O governo citou também a necessidade do acesso desimpedido da ajuda humanitária e o respeito aos direitos fundamentais do povo afegão, em especial de mulheres e meninas.

Entre 1996 e 2001, o governo Taleban impôs uma visão ultraortodoxa da lei islâmica que impedia as mulheres de estudar ou trabalhar, sair de casa se não acompanhadas por um membro de sua família do sexo masculino e obrigá-las a usar a burca em público. Flagelações e execuções, incluindo apedrejamento por adultério, eram práticas comuns em praças e estádios da cidade.