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Biden aprova saída do Afeganistão: 'Não estenderia uma guerra para sempre'

Do UOL, em São Paulo

31/08/2021 17h11Atualizada em 31/08/2021 19h18

Em meio a críticas de opositores e da opinião pública, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, elogiou a saída de tropas americanas do Afeganistão e reafirmou que "não estenderia uma guerra para sempre", durante discurso feito direto da Casa Branca, na tarde de hoje. Biden classificou ainda a evacuação de militares americanos como "sucesso extraordinário" e chamou a missão de "misericórdia".

"O extraordinário sucesso desta missão foi devido à incrível habilidade, bravura e coragem altruísta dos militares dos Estados Unidos e de nossos diplomatas e profissionais de inteligência. Esta foi a escolha: entre a saída ou a escalada. Não estenderia esta guerra para sempre e não estenderia uma saída para sempre", disse o presidente americano.

"Agora, alguns dizem: 'Devíamos ter começado as evacuações em massa mais cedo' e 'Não poderia ter sido feito de uma maneira mais ordeira?' Eu respeitosamente discordo", acrescentou.

Depois de quase 20 anos, US$ 2 trilhões (R$ 10,3 trilhões, na cotação atual) e milhares de vidas perdidas, os Estados Unidos terminaram a retirada de suas tropas do Afeganistão ontem. Joe Biden tem sofrido críticas pelo modo como a operação foi conduzida e suas possíveis repercussões para afegãos e o resto do mundo.

Eu assumo a responsabilidade pela decisão. Presidente Joe Biden durante discurso na Casa Branca, em Washington

China e Rússia, as novas ameaças

Durante o seu discurso, Biden também citou a China e a Rússia dizendo se tratar de novas ameaças para argumentar a saída do Afeganistão. "A principal missão de um presidente não é proteger a América das ameaças de 2001, mas das ameaças de agora e do futuro", afirmou ele.

Biden afirmou ainda que o fim da guerra no Afeganistão marca "uma nova era". "Esta decisão sobre o Afeganistão não é apenas sobre o Afeganistão. Trata-se de encerrar uma era de grandes operações militares para refazer outros países", destacou.

Vimos uma missão de contraterrorismo no Afeganistão, levando os terroristas e interrompendo ataques, se transformando em uma contra-insurgência, construindo uma nação, tentando criar um Afeganistão democrático, coeso e unido, algo que nunca foi feito ao longo de muitos séculos de história do Afeganistão . Seguir em frente com essa mentalidade e esse tipo de envio de tropas em grande escala nos tornará mais fortes, eficazes e seguros.

O presidente americano também destacou que grupos terroristas se espalharam como uma "metástase" em vários países, no mundo. "Esperávamos que as forças afegãs, que treinamos e equipamos, fossem aguentar por mais tempo. Mas isso não aconteceu."

Desde que o Talibã assumiu o controle do Afeganistão, em meados de agosto, 123 mil pessoas foram retiradas do país. Entre elas, 5.400 mil americanos, sendo que 1.200 afegãos foram retirados apenas nas últimas horas da presença militar no país. Cerca de 80 mil afegãos com visto especial de imigrante e aproximadamente 200 americanos que não conseguiram embarcar em um dos últimos voos continuam no país, segundo levantamento feito pela agência RFI.

A retirada aérea de emergência chegou ao fim antes do prazo estabelecido por Biden, que herdou um acordo de retirada de tropas feito com o Talibã por seu antecessor Donald Trump.

Mais de 100 americanos seguem no Afeganistão

O presidente americano disse que "mais de 5.500 americanos deixaram o Afeganistão ao longo de 17 de dias de operação", mas estima que outros 130 ainda estejam no país.

"Ao longo de de 17 dias, operamos em Cabul depois que o Talibã chegou ao Poder. Nós trabalhamos ininterruptamente. Mais de 5.500 americanos saíram do país. Acreditamos que de 100 a 130 americanos ainda estejam no país. Alguns são residentes que decidiram continuar por lá. A questão é que 90% que saíram", afirmou Biden. "Quanto aos afegãos, nós e nossos parceiros, conseguimos retirar mais de 100 mil pessoas. Nenhuma outra força conseguiu fazer isso."

Ameaças em alta

A ameaça de atentados terroristas e violência agora no Afeganistão segue alta. Diversos grupos terroristas, além do grupo Al Qaeda, têm marcado cada vez mais presença no país. O desafio maior e mais imediato para o Talibã será o grupo Estado Islâmico-Khorasan.

Na semana passada, ataques ocorridos nos arredores do aeroporto de Cabul, no Afeganistão, que deixou, ao menos, 108 mortos, incluindo 13 militares americanos. O atentado foi reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan, braço regional do grupo terrorista.

Nos últimos dias, há pessoas tentando escapar do país até a pé, sendo que os vizinhos Irã e Paquistão já receberam milhares de refugiados afegãos.

O general Kenneth Mckenzie Jr., do Comando Central, disse ontem que a missão militar chegou ao fim, mas que agora há uma sequência diplomática que negociará com o Talibã para conseguir retirar todas as pessoas que ficaram para trás. No entanto, os EUA não terão presença diplomática no Afeganistão. A missão diplomática será conduzida de Doha, no Qatar.

Apesar de o governo Biden ter prometido uma nova era nas relações internacionais americanas, privilegiando a diplomacia, a credibilidade da Casa Branca está em baixa até com seus aliados. O governo americano também deixou para trás milhares de afegãos que contribuíram com as operações dos EUA no seu país.

*Com informações da agência RFI.