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Quase 200 vértebras humanas enfiadas em varetas são encontradas no Peru

Achados arqueológicos datam da época da chegada dos colonizadores europeus na América do Sul - C. O"Shea/Universidade de Cambridge
Achados arqueológicos datam da época da chegada dos colonizadores europeus na América do Sul Imagem: C. O'Shea/Universidade de Cambridge

Do UOL, em São Paulo

06/02/2022 08h38Atualizada em 06/02/2022 09h39

Quase 200 exemplares de vértebras humanas enfiados em varas de junco, simulando a coluna vertebral, foram encontrados no Vale de Chincha, no sul do Peru, por arqueólogos da Universidade de Cambridge. Em estudo publicado em fevereiro, os pesquisadores explicaram que os restos mortais estavam em grandes sepulturas indígenas, conhecidas como "chullpas", e datam da época em que colonizadores europeus chegaram ao continente sul-americano.

É a primeira vez que pesquisadores documentam a prática de colocar vértebras em varetas. O estudo, publicado na revista de arqueologia Antiquity, indica que o processo é uma tentativa de reconstruir o corpo dos mortos após danos causados por saques em sepulturas indígenas ocorridos no período colonial.

"Sugerimos que estes restos mortais alterados por ação humana constituem um processo social que envolvia a colocação de restos humanos em sepulturas, a colheita de varas de junco, a revisitação de sepulturas e a inserção das varas de junco através das vértebras. Argumentamos que esse processo reconstituiu o corpo dos mortos em resposta aos saques do período colonial", diz um trecho do estudo.

Tipos de sepulturas indígenas - JL Bongers/Universidade de Cambridge - JL Bongers/Universidade de Cambridge
A) Chullpa com teto; B) chullpa de pedreira com abertura; C) plataforma interior em chullpa; D) chullpa com materiais de pedreira e adobe
Imagem: JL Bongers/Universidade de Cambridge

O estudo também sugere outras possíveis explicações para a colocação de varas de junco por dentro das vértebras, como facilitar o transporte dos restos mortais.

A prática pode ter facilitado o transporte de restos mortais de indivíduos que morreram para longe de suas comunidades; também é possível que ''vértebras sobre varas' fossem troféus, símbolos de status e poder, ou representações de certos indivíduos. Além disso, não podemos descartar que esses restos modificados tenham sido exibidos como parte de cerimônias.
Trecho do estudo sobre vértebras humanas em varas de junco

A maioria das 192 vértebras pertencia a um único indivíduo, segundo o estudo. Os dados também indicam que a prática ocorria com corpos de diferentes faixas etárias —acima e abaixo de 20 anos.

Saques em sepulturas indígenas

A pesquisa detalha um período turbulento para os povos Chinca durante a colonização europeia. Entre 1533 e 1583, o número de chefes de família documentado caiu de 30 mil para 979 —a queda pode ser explicada por uma série de eventos históricos, incluindo epidemias em 1546 e 1558, fomes em 1539 e 1548, e mesmo disputas territoriais com europeus.

Os saques em sepulturas indígenas também se tornaram uma prática generalizada. Segundo o cronista da história peruana, Pedro Cieza de León, "havia um enorme número de sepulturas neste vale nas colinas e terrenos baldios. Muitos deles foram abertos pelos espanhóis, e eles retiraram grandes somas de ouro".

Segundo o estudo da Universidade de Cambridge, as "colinas" provavelmente se referem ao sopé que circunda o meio do vale de Chincha, onde pesquisas recentes documentaram mais de 500 sepulturas violadas e quase 200 vértebras em varas.

O estudo é assinado por Jacob L. Bongers, Juliana Gomez Mejía, Thomas K. Harper e Adesivo Susanna Seiden.