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Mãe de menina agredida em Portugal tenta trocá-la de escola: 'Sem chão'

Lorena Barros

Do UOL, em São Paulo

15/02/2022 04h00Atualizada em 15/02/2022 10h18

Pouco mais de uma semana após o relato sobre uma agressão sofrida pela filha de 11 anos em uma escola de Entroncamento, em Portugal, viralizar nas redes sociais, a brasileira Antônia Melo ainda tenta realocar a menina, que deixou de ir ao colégio por causa da violência, para outra instituição de ensino da cidade.

"A escola entrou em contato comigo e disse que as medidas estão sendo tomadas. Me chamaram hoje para falar das faltas da minha filha, já que ela não está indo para a escola. Já manifestei o meu interesse em ela ser trocada de colégio", pontua Antônia, em conversa com o UOL.

A garota passa por acompanhamento psicológico e a mãe, que tinha escolhido morar em Portugal para fugir da violência no Brasil, ainda estuda como vai acionar a Justiça para resolver o caso, já que não tem o dinheiro que um processo judicial demandaria.

Ainda estou sem chão, sem meios, sem saber o que fazer juridicamente. Aqui, a Justiça acaba sendo cara, tem os custos a serem pagos. Eu saí do Brasil para ser só mais uma assalariada. Hoje eu recebo, pago minhas despesas e vivo bem, mas se eu tiver despesas altas é mais complicado de ficar administrando.
Antônia Melo, mãe

"Eu sei que foi muito grave o que me aconteceu aqui, mas a insegurança no Brasil é bem maior. Lá, o meu problema também era em andar nas ruas; eu não tinha paz. Eu não conseguia andar na rua, eu tinha medo e a sensação era a de que seria assaltada o tempo inteiro", lembra.

Antônia morava em São Gonçalo (RJ) e conheceu Portugal em 2016, fazendo turismo. Ela se apaixonou após fazer uma viagem de norte a sul do país.

"Pensei 'vou morar aqui'; aqui é tranquilo, não tem violência, até mesmo na capital. Eu não saía à noite, até porque era eu e minha filha [passeando], mas, de dia, o país era muito tranquilo", afirma.

Ela voltou para o país, se programou e, dois anos depois, levou o marido para conhecer Portugal, decidindo morar lá pensando na segurança como principal fator — no Rio de Janeiro, o marido sofreu dois roubos ao carro em um mesmo mês.

O caso de violência sofrido pela criança na escola fez com que ela considerasse, momentaneamente, deixar a Europa, ideia que logo descartou.

"Foi a primeira vez que eu cheguei a cogitar ou pensar em voltar para o Brasil, mas hoje eu não tenho mais nada com o Brasil. Tenho o meu filho, que já tem a vida dele, a carreira dele, que está se programando para vir me visitar, mas começar do zero no Brasil? Eu já não tenho mais o meu trabalho, poderia voltar para casa, mas tenho as minhas questões", reflete.

Ela se disse surpresa por relatos semelhantes vividos por brasileiros em outros países, como a França, recebidos desde que publicou seu relato. O fator xenofobia, na verdade, era um aviso antigo que ela já tinha recebido antes de se mudar para a Europa.

Me preparei muito para isso, porque quando eu disse que viria morar aqui, muitas amigas, pessoas conhecidas falavam mesmo do preconceito, mas aí é como eu sempre ensinei para os meus filhos: a vida é feita de escolhas. Eu escolhi falar: 'Eu não estou nem aí para o que vocês acham, para o que vocês falam' e ter segurança.

Além dos brasileiros, pessoas de nações africanas também prestaram solidariedade ao relato de Antônia nas redes dela, assim como cidadãos portugueses que repudiaram o caso.

Em resposta à imprensa portuguesa, a Direcção do Agrupamento de Escolas (AE) do Entroncamento informou que um inquérito foi instaurado para averiguar o ocorrido. A escola informou que "medidas estão sendo tomadas" em relação às agressoras menores de 18 anos.

Relembre o caso

A filha de Antônia, de 11 anos, foi vítima de uma agressão dentro da escola EB 2,3 Dr Ruy D'Andrade, instituição de ensino pública da cidade de Entroncamento, no último dia 4.

A menina, que levou socos e pontapés de colegas de classe, foi gravada pelas próprias agressoras, que já haviam enviado mensagens para ela praticando bullying e dizendo que a menina deveria "se matar".

Além de prestar uma queixa sobre o caso na Polícia de Segurança Pública do país, Antônia fez um vídeo de desabafo nas redes sociais.

Nas imagens, ela pediu que os pais denunciem atitudes semelhantes nas escolas portuguesas. "Quem estiver em uma situação dessa, não se cale. Eu tenho como bem mais precioso os meus filhos. Nunca vou aceitar que alguém venha a agredi-lo de tal maneira. E o que mais me preocupa e me choca é que aconteceu dentro da escola e ninguém viu."