Brasileiro que foi à Ucrânia a trabalho há 8 dias sofre para deixar o país
O jogador de futebol Joanderson Normandes dos Santos e a esposa, Julia Fonseca, já não sabem mais a quem recorrer para conseguir ajuda desde que a Ucrânia foi invadida pela Rússia nesta quinta-feira (horário de Brasília), em conflito que já deixou mais de 130 mortos. Após ter que lidar com a realidade do relacionamento a distância e se despedir da esposa no último dia 15 de fevereiro, ele chegou há oito dias na cidade de Kharkiv, a segunda maior do país, onde vivencia o ataque russo com medo e sem domínio da língua local.
Joanderson embarcou para a Ucrânia para jogar em um time local. Julia ficou em casa, no estado de Alagoas, no Brasil. E agora os dois, mesmo separados pela distância, tentam unir forças para conseguir tirá-lo da zona de conflito. Ambos tentam contatar a embaixada brasileira em Kiev, mas os funcionários que os atendem, segundo eles, não falam português.
O jogador, de 20 anos, é conhecido em Alagoas por sua atuação na Agremiação Sportiva Arapiraquense. Ele conta que estava muito animado com a possibilidade de mostrar seu talento em um país tão distante. Porém, a animação durou apenas uma semana.
Em entrevista ao UOL, ele afirmou que, desde que as tropas russas começaram a invadir a Ucrânia, praticamente tornou-se impossível deixar Kharkiv. Não há gasolina nos postos para abastecer os veículos e serviços de táxi e o transporte público foram suspensos. Ruas, avenidas e estradas tornaram-se áreas perigosas, sujeitas a bombardeios a qualquer momento.
Hoje o dia todo a gente passou escutando as bombas. De manhã, parecia longe. Mas quando foi chegando o final da tarde, as bombas começaram a ficar mais perto e começou até a tremer o apartamento. Agora à noite, houve uma rajada de bombas, bem perto. Os sons são altos e a gente vê os clarões das explosões pela janela.
Joanderson Normandes dos Santos, jogador de futebol na Ucrânia
O atleta está em um apartamento, na companhia de outros quatro desportistas brasileiros. Ele diz que ainda há comida e água e garante que os empresários brasileiros que os contrataram para jogar na Ucrânia tentam de várias maneiras tirá-los de lá — mas eles enfrentam também, além da escassez de combustível, a barreira da língua, difícil de ser transposta.
"A gente está tendo todo o apoio dos empresários, da forma que eles podem. É que não tem muito o que fazer. A gente está tentando entrar em contato com a embaixada, mas não consegue. Eles atendem falando em russo e a gente não consegue falar com eles", contou.
Desde que os bombardeios começaram, ninguém mais dorme no edifício em que o jogador está hospedado. Até os cochilos são breves, tamanho o medo do local se tornar um alvo.
Eu só penso que vou morrer, que vai cair alguma bomba. Já cheguei a gravar uns três vídeos para a minha família, um especialmente para a minha mulher, me despedindo. É só isso que passa pela minha cabeça agora.
Esposa nutre esperança de reencontro
Julia, esposa de Joanderson, disse que está lutando, com o apoio dos empresários sediados aqui no Brasil, para conseguir contatar alguma autoridade brasileira na Ucrânia ou a própria embaixada para conseguir tirar o grupo de atletas da cidade de Kharkiv.
"Não tem combustível, não tem carro lá. Só quem pode ajudar a gente agora é a embaixada. E é isso que a gente quer. Que eles ajudem", afirma Julia.
Mesmo com o coração apertado e preocupada, ela diz que não perde as esperanças de ver o marido de volta. "Estou confiante de que eles vão conseguir sair de lá bem, com fé em Deus".
Itamaraty não tem prazo para resgatar brasileiros
O governo brasileiro orientou que os brasileiros que estejam em Kiev, capital da Ucrânia, sigam as orientações do governo local sobre descolamento e segurança, e aguardar informações da Embaixada. O Ministério das Relações Exteriores também forneceu uma série de orientações para quem está em outras regiões do país.
Quem estiver ao leste do pais, por exemplo, deve deixar a região por meios terrestres: "os que não puderem deixar o país por meios próprios, ou de modo seguro, devem se deslocar a Kiev e contatar imediatamente a embaixada", orienta o Itamaraty. Já os que estão em Odessa ou Lviv devem ir para a Moldávia ou para a Polônia, respectivamente, por ser "mais simples e seguro".
O secretário de Comunicação e Cultura do Itamaraty, Leonardo Gorgulho, reforçou algumas das indicações da Embaixada do Brasil na Ucrânia. Mais cedo, brasileiros que estão no país foram instruídos a deixar o país caso tenham os meios necessários para isso. A embaixada estima a presença de cerca de 500 brasileiros na Ucrânia entre estudantes, executivos de multinacionais e familiares de ucranianos.
A embaixada do Brasil, ou de qualquer outro país, não tem condições de fazer operações de resgate.
Leonardo Gorgulho, secretário de comunicação e cultura do Itamaraty
O secretário também pediu aos brasileiros que não circulem durante o toque de recolher e se abriguem em local distante de instalações militares, de infraestrutura energética e de telecomunicações. Ele explicou que as Embaixadas em Varsóvia, Minsk, Bratislava e Moscou, "estão em alerta e regime de plantão, para atender aos brasileiros que precisem de assistência ao deixar a Ucrânia".
Gorgulho disse ainda que a embaixada estuda o melhor momento e maneira para implementar um trabalho de evacuação dos brasileiros que queiram deixar o país. A retirada dos cidadãos seria por via terrestre, mas ainda não tem data para ocorrer.
O Itamaraty disponibiliza, para casos de emergência consular de brasileiros na Ucrânia e seus familiares, o número de telefone de plantão consular: +55 61 98260-0610.
O UOL contatou a embaixada brasileira na Ucrânia para questionar sobre o atendimento em português para os brasileiros vulneráveis, mas não obteve retorno até o momento. Também procuramos os empresários dos jogadores em Kharkiv, mas ainda não houve resposta. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.
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