Escalada da guerra pode causar crise humanitária intensa, analisa professor
As operações militares da Rússia começaram na madrugada desta quinta-feira (24) e ainda não há certeza sobre como isso vai terminar. Paulo Velasco, professor de relações internacionais, participou do UOL News nesta manhã e admitiu que está "temeroso", porque uma possível escalada da guerra pode causar graves consequências.
"Se houver uma escalada das operações de guerra da Rússia, isso tende a causar uma crise humanitária de proporções intensas. A Ucrânia tem regiões muito povoadas que já foram alvos de ataque. Então podemos ver, em pouco tempo, um fluxo migratório para países vizinhos, o que causa preocupação. E a guerra por si só é um drama. Não se sabe a escala que isso vai ter, mas quem mais sofre é a população civil. É uma realidade que tende a se complicar", analisou Paulo Velasco.
Sobre a postura dos Estados Unidos na guerra, o professor acredita que não deve haver envio de tropas para apoiar a Ucrânia.
"É muito improvável que os EUA enviem tropas. O Biden não quer bancar uma presença americana em um território tão complicado. É dificil imaginarmos. Não tivemos algo semelhante nem na Guerra Fria. O que pode ser feito sim é intensificar o apoio bélico, com envio de armas, o que já vinha acontecendo", apontou Velasco.
Do outro lado, a China aparece como importante aliada da Rússia. Mas Velasco acredita que a participação do país não será tão intensa.
"A China tem um papel importante, mas tem uma política externa pragmática. Claro que não vai condenar a ostensiva russa, mas também não vai apoiar o reconhecimento feito pelo Putin da independência dos territórios separatistas. A China tem apreço por soberania, por causa de situações domésticas delicadas. Não interessa apoiar situações que podem fraturar o próprio território", explicou o professor.
Em relação ao Brasil, Paulo Velasco entende que haverá efeitos econômicos.
"Os efeitos econômicos vão ser sentidos. Os efeitos diretos são a elevação no preço de hidrocarbonetos, como a gasolina; e alguns produtos que o Brasil compra da Rússia, como fertilizantes, devem ter preço aumentado, o que pode impactar o agronegócio. E pode haver um sobrepreço do dólar, que vinha caindo, e agora pode voltar a subir, porque é uma moeda segura, para a qual os investidores tendem a recorrer neste momento", declarou Velasco.
O professor também recomendou que o governo federal adote uma postura menos tímida na guerra.
"Claro que o Brasil não vai tomar partido e romper com a Rússia. Não ganhamos nada com isso. Mas houve uma ruptura do direito internacional, do princípio de soberania. Temos que assumir uma posição mais clara contra isso, porque ocupamos uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU", concluiu Velasco.
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