Topo

Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Só ONU pode evitar 'chicken game' entre Rússia e EUA, diz professor

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

24/02/2022 04h00Atualizada em 24/02/2022 13h54

Acompanhada pelo mundo há algumas semanas, a crise envolvendo Ucrânia e Rússia precisa do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) para ser resolvida, na análise do professor de História das Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília) Virgílio Arraes.

"O mais adequado agora é levar para o Conselho de Segurança porque você envolve a comunidade internacional, tira um eventual brilho de algum país", diz Arraes, que conversou ontem (23) com o UOL, antes de o presidente russo, Vladimir Putin, ter iniciado uma ação militar em território ucraniano, que já tem registro de mortos.

A tensão na Ucrânia, hoje, é vista como um conflito em que se disputa o nível de força de Estados Unidos e Rússia, que não querem demonstrar debilidade no embate. A negociação para entrada da Ucrânia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) —liderada pelos americanos— é um dos pontos de crise com os russos.

"Aí você tem aquele 'chicken game' [jogo da galinha, em inglês] em política internacional, que é cada um em um carro, em uma mesma pista, mas em lados opostos, que depois aceleraram para ver quem, na última hora vai desviar o carro", compara Arraes.

"Se os dois seguirem na mesma linha, os dois vão bater. Se desviarem muito antes de se aproximar, vão ser considerados fracassados, covardes. Então, você tem que desviar naquele limite em que você não pareça fraco, e que você também não saia desmoralizado. Mas aquele que se mantiver na linha reta é o vitorioso", diz.

Quem vai recuar agora sem parecer fraco?
Virgílio Arraes, professor da UnB

Onde fica a Ucrânia? - UOL - UOL
Onde fica a Ucrânia?
Imagem: UOL

Partes

Entre os europeus —que tem ligação com a Otan—, as lideranças estão mais fracas neste momento para liderar uma negociação.

Já uma mediação da China —que tem pedido moderação às duas partes— poderia ser vista como "humilhação" pelos Estados Unidos. "Seria reconhecer um papel da China que as lideranças norte-americanas não gostariam", diz Arraes.

Para o professor, com o conselho, é possível diluir "tanto o eventual prestígio quanto o eventual desgaste porque foi o Conselho de Segurança que tomou determinada decisão, que recomendou isso, deliberou aquilo."

Além da questão da Otan, o movimento de separatistas russos na Ucrânia, país vizinho, também contribui para a crise na região. Os separatistas no leste ucraniano já tiveram a independência reconhecida pelo governo russo.

A ONU defende a diplomacia para a solução pacífica da tensão, e criticou a Rússia.

Provocação

A Otan também tem o simbolismo da Guerra Fria, embate entre americanos e a União Soviética, encerrado há três décadas.

"A Rússia se sente insatisfeita. Em vez de o papel da Otan diminuir, que é um instrumento da Guerra Fria, que acabou, por que ampliar a Otan se o pacto de Varsóvia já nem existe mais?", pontua Arraes.

Ele indica que, para a política externa russa, essa ampliação da Otan pode soar como "uma provocação".

Jogo de prestígio

A Ucrânia e antigos estados soviéticos seriam uma "zona tampão", uma área neutra, entre Rússia e países da Otan, segundo o professor. Com a Ucrânia, a Otan ficaria na fronteira russa.

Na opinião de Arraes, apenas o Conselho de Segurança da ONU poderia permitir uma "saída honrosa". "Agora é jogo de prestígio", diz. "Porque política, tanto externa quanto interna, você não deveria constranger ou humilhar seu adversário a ponto de ele não ter como manter o mínimo de prestígio pelo menos interno." Para a Rússia, as ações na Ucrânia também têm o recado político de mostrar a força do país internamente para o controle de Vladimir Putin.

Para o professor, não haverá uma saída fácil para a tensão na Ucrânia. "Mas, certamente, não é do interesse de ninguém que haja um conflito de grandes proporções", diz. "O importante agora é resolver."