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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Como os caças da União Europeia vão chegar à Ucrânia?

Caças russos MiG-29 travam simulação de batalha aérea com modelos Sukhoi Su-27, da "Russkiye Vityazi" - Maxim Shemetov/Reuters
Caças russos MiG-29 travam simulação de batalha aérea com modelos Sukhoi Su-27, da "Russkiye Vityazi" Imagem: Maxim Shemetov/Reuters

Saulo Pereira Guimarães

Do UOL, no Rio de Janeiro

01/03/2022 04h00Atualizada em 01/03/2022 17h03

Sob ataques da Rússia desde a semana passada, a Ucrânia deve receber por terra os caças cedidos pela União Europeia para o combate, pelas fronteiras entre países do bloco —Polônia, Hungria ou Eslováquia ou Romênia. A avaliação é de especialistas em relações internacionais entrevistados pelo UOL.

"Por conta do bloqueio naval russo e da relativa superioridade aérea, a única forma aparentemente segura para levar caças MIG-29 para Ucrânia seria por via terrestre", afirma Tito Lívio Barcellos Pereira, mestre em ciência política pelo Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense.

Segundo ele, as aeronaves precisariam ser desmontadas, colocadas em comboios terrestres e chegar à Ucrânia por meio das fronteiras de um dos quatro países vizinhos ligados à UE. Todos eles também integram a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). De lá, os aviões seriam levados para Lviv, para serem remontados em uma base aérea ucraniana para entrarem em operação.

Mapa Otan - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Transportar os caças desmontados por avião seria mais rápido, mas menos seguro, por conta do risco de interceptação da carga por aeronaves russas no caminho. O mesmo acontece com a alternativa marítima, já que Odessa, cidade portuária ucraniana, se encontra ocupada pelos invasores.

"Houve navios cargueiros turcos e da Moldávia que foram atingidos quando o porto de Odessa foi atacado", diz Pereira.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Outros desafios

A montagem das aeronaves não é o único desafio envolvido no processo. Pereira lembra que, nos primeiros dias de conflito, os ataques russos se concentraram na infraestrutura militar e logística ucraniana.

Por conta disso, não se sabe se o país conta hoje com meios para manter os aviões abastecidos, por exemplo. Além disso, a falta de pilotos em função da deterioração das forças armadas ucranianas também pode ser um problema.

Ainda assim, o professor de Direito Internacional da UFMG Lucas Carlos Lima vê a chegada dos caças como uma notícia positiva para a Ucrânia. "O país passa a contar com um armamento que poderá fazer frente aos helicópteros russos, que têm sido muito eficientes no terreno. A comparação com tanques voadores não é por acaso", diz.

De acordo com os especialistas, a iniciativa pode ter diferentes efeitos na guerra. "Por um lado, essa ação por ser lida como uma resposta aos pedidos de auxílios mais significativos feitos por Kiev. Por outro lado, Moscou pode acirrar e escalar o conflito. Esse tipo de tensão tende a aumentar enquanto as partes não chegarem a um cessar-fogo e acordo satisfatório", afirma Lima.

  • Veja as últimas informações sobre a guerra na Ucrânia no UOL News com Fabíola Cidral:

Envio foi anunciado no domingo

A União Europeia anunciou o envio dos aviões à Ucrânia neste domingo. "Pela primeira vez, a União Europeia financiará a compra e entrega de armas e outros equipamentos a um país que está sob ataque. Este é um momento divisor de águas", afirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão da União Europeia.

O pedido de ajuda foi feito por Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia. A ideia é que Polônia, Eslováquia e outros países hoje no bloco —que, no passado, fizeram parte do Pacto de Varsóvia—, forneçam caças MIG-29 e outros modelos já operados pelos militares ucranianos.

Além das aeronaves, a Alemanha se comprometeu a enviar 1.000 armas antitanque e 500 mísseis Stinger. A Bélgica deve contribuir com 3.000 metralhadoras e 200 lançadores de granadas antitanque e a Dinamarca, com 2.700 armas antitanque.

Já a Hungria destinará 100.000 litros de combustível e 28 toneladas de alimentos à Ucrânia, enquanto a Suécia deve colaborar com 5.000 armas antitanque, 5.000 capacetes, 5.000 escudos corporais e 135.000 rações de campo —além de 50 milhões de dólares (cerca de R$ 250 milhões) em financiamento direto para os militares ucranianos.