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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Frio, 30 km a pé e 20 h na fronteira: brasileiro relata fuga da Ucrânia

Brasileiro Leovitor dos Santos conta como foi a fuga da Ucrânia em meio ao conflito com os russos - Reprodução da internet
Brasileiro Leovitor dos Santos conta como foi a fuga da Ucrânia em meio ao conflito com os russos Imagem: Reprodução da internet

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

02/03/2022 04h00

O brasileiro Leovitor dos Santos, 30, estava na capital Kiev quando sentiu os primeiros impactos dos bombardeios após a invasão russa à Ucrânia. Santos diz que percorreu 30 quilômetros a pé até enfrentar uma fila por 20 horas, em temperaturas de até 0º C, para conseguir cruzar a fronteira com a Polônia na madrugada da última segunda-feira (28).

Longe do conflito, pensa nas pessoas que permaneceram em território ucraniano. "É difícil ter um sentimento de alívio e de que deu tudo certo porque os amigos e as pessoas que ajudaram no meio do caminho ainda estão lá. Porque a gente não sabe quando a guerra vai terminar. O meu maior medo é pelo que pode acontecer com o país".

Por volta das 6h do último sábado (26), dois dias após a invasão russa, o brasileiro entrou em um carro emprestado com a namorada ucraniana, a irmã dela e um outro brasileiro para iniciar a rota de fuga do país em guerra.

Leovitor, que abriu uma empresa de marketing digital na Ucrânia, onde morava há dois anos, disse ter saído apenas com a roupa do corpo e um traje extra do seu apartamento na capital Kiev, atingida ontem por bombardeios a uma emissora de TV que deixaram cinco mortos. Contudo, relata os momentos que antecederam o começo da fuga como um dos mais tensos.

No terceiro dia, comecei a escutar que as tropas russas estavam a caminho para invadir Kiev. Aí, as coisas ficariam bem mais perigosas. Não conseguia dormir, porque ouvia barulho de bomba na madrugada. Quando o bombardeio parou, a gente entrou no carro para sair do país"
Leovitor dos Santos

Congestionamento, caminhada e frio

Nesse momento, o conhecimento da namorada ucraniana sobre o território fez a diferença —ela traçou uma rota alternativa para chegar até a fronteira com a Polônia. Mesmo assim, não foi possível escapar do engarrafamento após 12 horas de viagem. Eles então decidiram procurar por ajuda em um vilarejo em meio a um pântano, onde havia conhecidos da namorada e menos riscos de cruzarem com tropas russas.

"Dificilmente os tanques conseguiriam atravessar por ali. Nós fomos para um buncker para dormir um pouco e seguimos viagem na manhã seguinte", conta o brasileiro. "A minha namorada queria ficar e preparar aqueles coquetéis molotov para defender o país."

O grupo então precisou abandonar o veículo em algum lugar da estrada para seguir até a fronteira, em uma caminhada de cerca de 30 quilômetros, diz. "Não foi fácil. Eu estava sem comer e sem dormir direito".

Após chegar à fila na fronteira entre Ucrânia e Polônia, o grupo enfrentou um frio de até 0º C e uma espera de 20 horas. Na casa de uma ucraniana na Polônia, ele agora tenta assimilar tudo pelo que vem passando.

É difícil assimilar o que aconteceu. É como se eu ainda estivesse em estado de transe. Estamos na casa de uma ucraniana que está pensando em voltar para Kiev porque prefere voltar e morrer com a família do que estar aqui em segurança"
Leovitor dos Santos

Torre de TV é atingida em Kiev

Imagens captaram o momento em que um ataque do Exército russo atingiu um prédio do governo no centro de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia. O ataque aconteceu ontem de manhã, sexto dia da invasão da Rússia ao país. Ao menos dez pessoas morreram, segundo o governo ucraniano.