Frio, 30 km a pé e 20 h na fronteira: brasileiro relata fuga da Ucrânia
O brasileiro Leovitor dos Santos, 30, estava na capital Kiev quando sentiu os primeiros impactos dos bombardeios após a invasão russa à Ucrânia. Santos diz que percorreu 30 quilômetros a pé até enfrentar uma fila por 20 horas, em temperaturas de até 0º C, para conseguir cruzar a fronteira com a Polônia na madrugada da última segunda-feira (28).
Longe do conflito, pensa nas pessoas que permaneceram em território ucraniano. "É difícil ter um sentimento de alívio e de que deu tudo certo porque os amigos e as pessoas que ajudaram no meio do caminho ainda estão lá. Porque a gente não sabe quando a guerra vai terminar. O meu maior medo é pelo que pode acontecer com o país".
Por volta das 6h do último sábado (26), dois dias após a invasão russa, o brasileiro entrou em um carro emprestado com a namorada ucraniana, a irmã dela e um outro brasileiro para iniciar a rota de fuga do país em guerra.
Leovitor, que abriu uma empresa de marketing digital na Ucrânia, onde morava há dois anos, disse ter saído apenas com a roupa do corpo e um traje extra do seu apartamento na capital Kiev, atingida ontem por bombardeios a uma emissora de TV que deixaram cinco mortos. Contudo, relata os momentos que antecederam o começo da fuga como um dos mais tensos.
No terceiro dia, comecei a escutar que as tropas russas estavam a caminho para invadir Kiev. Aí, as coisas ficariam bem mais perigosas. Não conseguia dormir, porque ouvia barulho de bomba na madrugada. Quando o bombardeio parou, a gente entrou no carro para sair do país"
Leovitor dos Santos
Congestionamento, caminhada e frio
Nesse momento, o conhecimento da namorada ucraniana sobre o território fez a diferença —ela traçou uma rota alternativa para chegar até a fronteira com a Polônia. Mesmo assim, não foi possível escapar do engarrafamento após 12 horas de viagem. Eles então decidiram procurar por ajuda em um vilarejo em meio a um pântano, onde havia conhecidos da namorada e menos riscos de cruzarem com tropas russas.
"Dificilmente os tanques conseguiriam atravessar por ali. Nós fomos para um buncker para dormir um pouco e seguimos viagem na manhã seguinte", conta o brasileiro. "A minha namorada queria ficar e preparar aqueles coquetéis molotov para defender o país."
O grupo então precisou abandonar o veículo em algum lugar da estrada para seguir até a fronteira, em uma caminhada de cerca de 30 quilômetros, diz. "Não foi fácil. Eu estava sem comer e sem dormir direito".
Após chegar à fila na fronteira entre Ucrânia e Polônia, o grupo enfrentou um frio de até 0º C e uma espera de 20 horas. Na casa de uma ucraniana na Polônia, ele agora tenta assimilar tudo pelo que vem passando.
É difícil assimilar o que aconteceu. É como se eu ainda estivesse em estado de transe. Estamos na casa de uma ucraniana que está pensando em voltar para Kiev porque prefere voltar e morrer com a família do que estar aqui em segurança"
Leovitor dos Santos
Torre de TV é atingida em Kiev
Imagens captaram o momento em que um ataque do Exército russo atingiu um prédio do governo no centro de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia. O ataque aconteceu ontem de manhã, sexto dia da invasão da Rússia ao país. Ao menos dez pessoas morreram, segundo o governo ucraniano.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.