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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Que risco corre o Brasil em um ataque a uma usina nuclear na Ucrânia?

Zaporizhzhia, maior usina nuclear da Europa, foi conquistada pelos russos - Reprodução/Twitter @NEXTA
Zaporizhzhia, maior usina nuclear da Europa, foi conquistada pelos russos Imagem: Reprodução/Twitter @NEXTA

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

05/03/2022 04h00

Conquistada pela Rússia após uma semana de guerra na Ucrânia, a usina nuclear de Zaporizhzhia ("Zaporíjia", na pronúncia em português) provocou um debate sobre a exposição destas estruturas a um possível dano, mesmo que acidental. A tomada da usina, a maior da Europa, foi feita à base de um bombardeio e marcada por um incêndio no entorno.

Segundo as autoridades do setor, não houve vazamento de radiação, mas o problema segue no horizonte porque a Rússia tenta conquistar outra usina nuclear ucraniana. O país já assumiu também o controle de Chernobyl, hoje desativada. Os riscos dessas investidas para o mundo e especialmente para o Brasil, no entanto, ainda são remotos, segundo dois especialistas consultados pelo UOL.

No caso do Brasil, o principal temor seria uma eventual contaminação de carne e produtos agrícolas que tiveram algum contato com radiação. No desdobramento da tragédia de Chernobyl, em 1986, o Brasil importou toneladas de alimento contaminado da Europa em meio a uma crise de abastecimento.

Na ocasião, produtos como leite e carne contaminados chegaram às prateleiras dos supermercados. Mais tarde, a Justiça determinou o recolhimento das mercadorias. Só três décadas depois, porém, o governo brasileiro admitiu que os alimentos poderiam causar danos às pessoas que manuseassem ou consumissem os itens.

No caso atual da Ucrânia, porém, analistas apontam que os riscos de um acidente nuclear não são concretos no momento. Um dos principais motivos é a evolução na segurança das usinas, que são razoavelmente protegidas mesmo para situações como uma guerra.

Segundo Odair Dias Gonçalves, professor do Instituto de Física da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), nem mesmo o choque de um avião Boeing atingiria o núcleo do reator de uma usina.

A explosão desse núcleo, caso ocorresse, seria a hipótese mais catastrófica, com potencial de espalhar radiação por toda a Europa. Foi uma explosão do núcleo do reator que provocou a tragédia de Chernobyl, em 1986. Desta vez, segundo os analistas, a segurança das usinas teve uma grande evolução, mas os efeitos de um ataque bélico sobre uma usina nuclear ainda são desconhecidos.

"Mesmo que se tentasse bombardear uma usina, não é possível saber exatamente o impacto. Não sei se elas são testadas para mísseis, mas são testadas, por exemplo, para um avião, um Boeing. Se um Boeing atingir a parede, não consegue atingir o núcleo. Então elas são extremamente seguras", diz.

Para Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) e vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), há sempre um grau de vulnerabilidade em uma usina, como em qualquer outra obra, mas as proteções são avançadas.

"Elas são vulneráveis, evidentemente, como qualquer infraestrutura. Mas o núcleo do reator não vai ser atacado por bombas, porque ele tem um vaso de contenção muito resistente. Pode cair um avião em cima e não destruí-lo", afirma Artaxo. Para ele, no entanto, não se pode descartar o risco de acidentes menores, de impacto limitado.

"A explosão do núcleo do reator não é o único acidente possível. Se a água de refrigeração do reator, por exemplo, sofrer um problema no circuito de manutenção [da água], o núcleo do reator pode ser afetado. Isso é possível. A torre de resfriamento de água radioativa pode ser atingida e pode haver algum vazamento", diz o professor da USP.

Gonçalves considera que há um problema antecedente: é difícil acreditar que uma usina nuclear fosse atingida por um míssil, por exemplo, por acidente. E ainda mais difícil, segundo o cientista, é cogitar uma destruição proposital.

"Atacar uma usina nuclear seria como alguém botar fogo numa casa enquanto está lá dentro. A Rússia conhece a arquitetura desses reatores. Se algo conseguisse explodir o núcleo do reator, o impacto provável seria semelhante ao de uma bomba nuclear. Mas é improvável que a Rússia ou a Ucrânia coloquem ele em risco", diz Gonçalves.