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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Drama das crianças na Ucrânia em guerra: mais de 1 milhão estão refugiadas

9.mar.2022 - Mulher carrega bebê ao cruzar a fronteira para a Polônia  - Louisa Gouliamaki/AFP
9.mar.2022 - Mulher carrega bebê ao cruzar a fronteira para a Polônia Imagem: Louisa Gouliamaki/AFP

Colaboração para o UOL

14/03/2022 04h00

Nas últimas semanas, cerca de 1 milhão de crianças e adolescentes fugiram da Ucrânia para tentar escapar dos ataques provocados pela invasão russa, de acordo com a ONG (Organização Não-Governamental) Save the Children.

São quase a metade dos 2,5 milhões de civis em fuga registrados pelo Acnur (Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). Na vizinha Moldávia, uma em cada oito crianças é refugiada ucraniana, segundo a primeira-ministra do país, Natalia Gavrilita. Em muitos casos, deixam o pais acompanhadas apenas das mães, já que os homens ucranianos de 18 a 60 anos foram proibidos de deixar o país.

Há menores, até mesmo com menos de 14 anos, que chegam sozinhos a postos de fronteira "depois de serem enviados por parentes que não podiam deixar a Ucrânia", alerta a ONG, que atua na Ucrânia desde a ocupação da Crimeia, em 2014.

Pais e mães recorrem a "medidas desesperadas", como enviá-los com vizinhos e amigos ao exterior "enquanto permanecem com pessoas mais velhas ou para proteger seus lares", afirmou a diretora para o Leste Europeu, Irina Saghoyan.

Esta é exatamente a história de um dos rostos que mais chamou a atenção no conflito. Aos 11 anos, um garoto identificado como Hassan atravessou sozinho a fronteira com a Eslováquia, e acabou sendo chamado de "herói da noite". Hassan carregava apenas uma mochila, um saco plástico, o passaporte e tinha um número de telefone escrito na mão.

Em um vídeo publicado pela polícia eslovaca, a mãe de Hassan agradece a todos por cuidarem do filho e explicou a decisão de colocá-lo sozinho em um trem. "Perto da minha cidade está a usina nuclear atingida pelos russos. Eu não podia deixar minha mãe - ela precisa de ajuda para se locomover. Então decidi mandar meu filho para a Eslováquia", disse Julia Pisecka, que é viúva.

A família é de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia, onde fica a maior usina nuclear da Europa, tomada pelos russos após uma semana de conflito.

Nem todas as crianças que permanecem no país ou que tentam escapar junto com suas famílias tiveram a mesma sorte de Hassan.

Daily Mirror chama Putin de "covarde" - Reprodução - Reprodução
Daily Mirror chama Putin de "covarde"
Imagem: Reprodução

Vestida de unicórnio

Há dez dias, a imagem de uma menina vestindo pijama de unicórnio e deitada em uma maca dentro de uma ambulância estampou os principais jornais britânicos. A garota de 6 anos acabou morrendo após um ataque aéreo em Mariupol, no sudoeste do país.

Na época, o Daily Mirror chamou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de "covarde" e disse que o mundo estava "ao lado da Ucrânia na luta pelos inocentes".

Já o The Times chama o ataque de "bárbaro" e conta que um dos paramédicos chegou a dizer para o fotógrafo: "Mostre isso para Putin: os olhos dessa criança e o choro dos médicos." A frase também foi destaque no The Telegraph e no Metro.

Alise morreu com a mãe e o irmão em ataque na Ucrânia - Reprodução/Facebook/ - Reprodução/Facebook/
Alise morreu com a mãe e o irmão em ataque na Ucrânia
Imagem: Reprodução/Facebook/

Alise

Outras crianças morreram ao tentar fugir do país. Alise Perebeinis, de nove anos, perdeu a vida em um bombardeio em Irpin, perto de Kiev, capital da Ucrânia. Ela estava ao lado da mãe, Tatiana, 43, e do irmão, Nikita, 18, que também morreram.

Uma foto dos três caídos no chão, feita para o The New York Times, rodou o mundo. A imagem mostra soldados ucranianos que tentavam salvar a vida de um homem que estava próximo dos corpos.

Antes do ataque, a família resistiu para deixar o apartamento onde morava. A mãe de Tatiana tinha problemas de locomoção e não poderia ficar sozinha. Porém, os três decidiram deixar o local após o apartamento de baixo ser bombardeado. Não há informações sobre o que houve com a mãe de Tatiana.

Sofia e Ivan

Logo no começo da invasão, Sofia, de 6 anos, e Ivan, de 1 mês, foram mortos a tiros ao lado dos avós e da mãe. A família tentava fugir de Vesele para Nova Kakhovka, onde moravam outros parentes. Porém, no caminho o carro foi parado por soldados russos.

Parte da abordagem foi ouvida por um tio das crianças, que entrou em contato com a mãe, que estava no carro. "Eu estava tentando convencer ela a não ir para Nova Kakhovka e a não ficar em Vesele", disse ele. "Eu disse a eles: 'Vão para Odessa, tenho um apartamento lá para vocês'."

Naquele momento, ele contou, ouviu sua mãe gritar: "Meu Deus, é uma criança, como você pode fazer isso". A cunhada, disse ele, também gritava.

"Então, eu ouvi o som de tiro", disse ele. "O carro parou e ouvi o barulho da porta sendo aberta. Ouvi o bebê chorar. Ele chorou, chorou, chorou. Então, ouvi [mais] tiros."

Desde o início da invasão russa, pelo menos 71 crianças foram mortas na Ucrânia, segundo Liudmyla Denisova, responsável pelos direitos humanos no Parlamento ucraniano.

Segundo a Save The Children, no leste da Ucrânia há 400 mil crianças em áreas onde correm alto risco de serem mortas, feridas, ou terem suas casas destruídas pela presença de soldados e da artilharia russa.

Órfãos

Em meio à guerra, há crianças que perderam os pais ou que foram entregues para cerca de 600 instituições ucranianas porque os genitores não tinham condições financeiras de mantê-las.

Na semana passada, um grupo de associações polonesas montou uma central de acolhimento para cerca de 100 mil crianças órfãs que vivem na Ucrânia. A ideia é que, após um cadastro, as crianças e adolescentes possam ir para diferentes cidades.

Um dos trens que levou as crianças de Kiev até Varsóvia, capital da Polônia, tinha cerca de 200 crianças com deficiência e seus acompanhantes, sendo um adulto para cada seis crianças, segundo a representante da ONG católica Cáritas, Monika Figiel, à ANSA.

Além de fugirem para o exterior, os órfãos também estão sendo levados para a região de Transcarpátia, no oeste da Ucrânia. Isolada do resto do país pelas montanhas, a área faz fronteira com Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia, países membros da União Europeia (UE) e da Otan. A região é uma das poucas que não foi atacada pela Rússia.

"É uma ilha de paz, um lugar seguro, por isto as autoridades decidiram trazer as crianças para cá", declarou à AFP Mykhailo Glynka, diretor do complexo para onde os órfãos estão sendo levados.

Ao todo, 93 crianças estão no local. Elas moravam na região de Donetsk, mas estavam no acampamento infantil de Artek, perto de Kiev, quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.

"Nós havíamos acabado de chegar quando ouvimos duas explosões de bombas e soubemos que os russos haviam atacado", disse Mykola Topolov, de 17 anos, integrante do grupo que chegou ao orfanato improvisado na localidade de Perekhrestya. "Foi assustador. Alguns dias depois, quando fomos colocados em um trem, ele ficou parado na estação de Kiev por oito horas."

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL