Topo

Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Esse conteúdo é antigo

Ucrânia diz ter achado 410 corpos perto de Kiev; Rússia nega massacre

Do UOL, em São Paulo*

03/04/2022 08h14Atualizada em 03/04/2022 15h06

Os corpos de 410 pessoas foram encontrados pelas forças ucranianas nos territórios da região da capital Kiev, após a retirada das tropas russas, informou hoje a procuradora-geral do país, Iryna Venediktova, que está reunindo informações sobre possíveis crimes de guerra praticados desde o início da invasão, há 39 dias, que a Rússia nega praticar.

"Os peritos forenses já examinaram 140 deles", acrescentou Venediktova durante uma transmissão em vários canais de televisão ucranianos, sobre os corpos encontrados.

Apenas na cidade de Bucha, a noroeste de Kiev, corpos de 20 civis foram encontrados, espalhados em uma rua. Alguns dos homens mortos encontrados estavam com as mãos amarradas. Os corpos estavam espalhados por várias centenas de metros.

"Todas estas pessoas foram alvos de tiros", declarou à AFP o prefeito de Bucha, Anatoly Fedoruk. "Estas são as consequências da ocupação russa".

Todos usavam roupas civis: casacos, jaquetas ou suéteres, jeans, tênis ou botas. Dois estavam ao lado de bicicletas e outro perto de um carro abandonado. Alguns estavam de bruços e outros de costas. O prefeito da cidade disse que 280 pessoas foram enterradas em valas comuns.

A Rússia diz que as imagens de corpos nas ruas de Bucha são "outra produção do regime de Kiev para os meios de comunicação ocidentais".

"Durante o tempo em que esta localidade esteve sob controle das Forças Armadas russas nenhum morador sofreu ações violentas", diz um comunicado do Ministério da Defesa russo. "Todos os moradores tiveram a oportunidade de partir livremente da localidade para o norte", acrescentou a pasta.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também acusou os soldados russos de instalar minas e outras armadilhas em seu recuo para o norte da Ucrânia.

Líderes falam em 'genocídio' e 'atrocidade'

As imagens de Bucha causaram indignação da comunidade internacional, que classificou a morte de civis como "atrocidade" e prometeu novas sanções contra a Rússia.

"Os corpos encontrados em Bucha levantam sérias questões sobre possíveis crimes de guerra", anunciou a ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra.

Zelensky afirmou que as tropas russas cometem um "genocídio" na Ucrânia.

"Somos os cidadãos da Ucrânia. Nós temos mais de 100 nacionalidades. Trata-se da destruição e extermínio de todas essas nacionalidades", afirmou ele, numa entrevista ao programa Face the Nation, do canal CBS, que irá ao ar hoje nos Estados Unidos.

"Chocado com imagens assustadoras de atrocidades cometidas pelo exército russo na região libertada de Kiev", escreveu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, no Twitter. "A UE (União Europeia) está ajudando a Ucrânia e ONGs na coleta de provas necessárias para perseguição em tribunais internacionais. Mais sanções e apoio da UE estão a caminho.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que as imagens são "insuportáveis". "Nas ruas, centenas de civis assassinados covardemente. Minha compaixão pelas vítimas, minha solidariedade com os ucranianos. As autoridades russas terão que responder por esses crimes."

O chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, divulgou uma nota em que promete trabalhar em conjunto com as autoridades ucranianas para levar o caso ao TPI (Tribunal Penal Internacional) e "garantir que esses atos não fiquem impunes".

O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse hoje que aliados ocidentais concordarão com novas sanções à Rússia nos próximos dias devido à invasão da Ucrânia e a "atrocidades" cometidas por tropas russas na cidade.

A Ucrânia diz ter retomou no fim de semana o controle de toda a região de Kiev do exército russo.

Mísseis atingem Odessa

Fumaça após ataque do exército russo em Odessa, na Ucrânia - Bulent Kilic/AFP - Bulent Kilic/AFP
Fumaça após ataque do exército russo em Odessa, na Ucrânia
Imagem: Bulent Kilic/AFP

Mísseis russos atingiram hoje a cidade portuária de Odessa, no sul da Ucrânia, disse o conselho da cidade, com a Rússia dizendo que destruiu uma refinaria de petróleo usada pelos militares ucranianos. Não há informações sobre vítimas.

A cidade estava livre de ataques russos há alguns dias. A nova ofensiva pode indicar um interesse renovado da Rússia em capturar a área à medida que se retira da capital Kiev e se concentra no sul e no leste.

Ontem os russos afirmaram que destruíram uma grande refinaria de petróleo ucraniana em Kremenchuk.

Corredores humanitários

Hoje, a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, havia informado que a expectativa é de que o trabalho de evacuação de civis com a ajuda da Cruz Vermelha de Mariupol continuasse, com um ônibus tentando se aproximar da cidade sitiada pelas tropas russas.

No entanto, a chefe da unidade de crise de Lviv, Nataliya Smikh, disse à ANSA que "os corredores humanitários para a chegada de alimentos e evacuações em Mariupol e Kharkiv estão bloqueados e o de Odessa funciona a 50%".

Negociações

A Rússia disse hoje que as negociações de paz com a Ucrânia não avançaram o suficiente para uma reunião de líderes e que a posição de Moscou sobre o status da Crimeia e Donbas permaneceu inalterada. Uma nova rodada de conversas deve ocorrer amanhã.

"O esboço do acordo não está pronto para ser submetido a uma reunião no topo", disse o negociador-chefe russo, Vladimir Medinsky, no Telegram. "Repito várias vezes: a posição da Rússia sobre a Crimeia e Donbas permanece inalterada."

Os dois lados mantêm conversas periódicas desde que a Rússia lançou sua invasão, mas não houve avanço e eles permanecem distantes na questão do território.

Medinsky disse que a Ucrânia começou a mostrar uma abordagem mais realista para as negociações de paz. Ele disse que a Ucrânia concordou que seria neutra, não teria armas nucleares, não se juntaria a um bloco militar e se recusaria a sediar bases militares.

Mas, sobre as questões da Crimeia, que a Rússia anexou da Ucrânia em 2014, e duas regiões rebeldes apoiadas pela Rússia no leste de Donbas que o presidente Vladimir Putin reconheceu como independentes em fevereiro, Medinsky indicou que não houve progresso.

Medinsky disse que não compartilha do otimismo do negociador ucraniano David Arakhamia, que disse à televisão ucraniana no sábado que o esboço do acordo era avançado o suficiente para permitir consultas entre Putin e o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy. "Infelizmente, não compartilho do otimismo de Arakhamia", disse Medinsky.

* Com AFP, ANSA e Reuters