Integrante da Otan, Turquia diz que bloqueará entrada de Suécia e Finlândia
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, confirmou hoje que se opõe à entrada de Finlândia e Suécia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), grupo militar internacional que está no centro da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. "Não diremos 'sim' a nações que aplicam sanções à Turquia para se juntar à organização de segurança", afirmou o mandatário turco.
A manifestação ocorre após autoridades dos dois países terem declarado a intenção de ingressar no grupo, citando sua proximidade territorial com o país eurasiático. A entrada na aliança requer consentimento unânime dos 30 Estados-membros do bloco militar —e a Turquia é um deles.
A justificativa dada por Erdogan é que a Suécia suspendeu venda de armas para a Turquia desde 2019 devido à operação militar de Ancara (sede do governo turco) na Síria. A Turquia também acusa a Finlândia de abrigar grupos terroristas, incluindo militantes curdos.
Os Estados Unidos, que têm papel-chave na aliança, têm dito que há amplo apoio à adesão das nações nórdicas à Otan. Jen Psaki, secretária de imprensa da Casa Branca, disse na sexta-feira que "não há dúvida" sobre o apoio da maioria dos membros da Otan.
Na semana passada, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmaou que estava "confiante" de que as negociações para a aliança avançariam rapidamente.
Putin ameaça retaliação
O presidente Vladimir Putin disse hoje que a Rússia não tem problemas com Finlândia e Suécia, mas que a expansão da aliança militar em seu território exigiria uma reação de Moscou.
Em fevereiro, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, havia sinalizado eventual retaliação contra Finlândia e Suécia se esses dois países passassem a integrar a Otan.
"Todos os Estados-membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa [OSCE] em sua capacidade nacional, incluindo Finlândia e Suécia, reafirmaram o princípio de que a segurança de um país não pode ser construída à custa da segurança de outros", disse ela no mesmo dia em que representantes dos dois países europeus se reuniram com o conselho da Aliança Atlântica.
A OSCE é a maior organização regional de segurança do mundo, abrangendo todos os Estados europeus, a Federação Russa, os países da Ásia Central, a Mongólia, os EUA e o Canadá, totalizando 57 membros.
Se Ucrânia, Finlândia e Suécia se juntarem à Otan, a Rússia teme que as forças dos países-membros da aliança ocupem suas fronteiras.
"A adesão à Otan provocaria graves retaliações militares e políticas", afirmou a porta-voz do MRE russo.
Procuradas pelo UOL, as embaixadas da Finlândia e da Suécia no Brasil não haviam se manifestado sobre a declaração do governo russo até a última atualização desta reportagem.
A manifestação do governo russo sobre a possível entrada de Finlândia e Suécia na Otan ocorre depois de o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, convidar esses dois países para participarem de cúpula virtual sobre a situação dentro e ao redor da Ucrânia.
Rússia x Otan: 7 décadas de rivalidade
Fundada no fim da década de 1940, a Otan é uma aliança militar com o mandato de trabalhar em uma política de segurança comum. Se um país membro da Otan for invadido, isso será considerado um ataque a todas as nações membros do grupo, que devem, então, reagir.
A Otan nasceu em um contexto pós-Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e a União Soviética emergiram como as duas principais superpotências.
Em dezembro de 1991, a União Soviética foi dividida em 15 novos países: Armênia, Azerbaijão, Belarus, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.
Liderada pelos norte-americanos, a Otan continuou sua expansão e os países que saíram da União Soviética começaram a aderi-la. Estônia, Letônia e Lituânia entraram em 2004. Geórgia e Ucrânia receberam oferta de adesão à Otan em 2008, mas não puderam aderir à aliança militar.
Putin se opõe à expansão da Otan, com o argumento de estremecimento da soberania de suas fronteiras. "A América está à nossa porta com mísseis. Como os EUA se sentirão se mísseis forem implantados nas fronteiras do Canadá ou do México?", disse o presidente russo em dezembro ao pedir aos EUA garantias de que a Ucrânia não se juntaria à Otan.
O que a Ucrânia tem a ver com isso?
A Rússia quer que a Otan pare sua expansão na Europa Oriental.
Além de exigir garantia da Otan de que a Ucrânia não receberá sua adesão, Putin também quer que o grupo recue para o status anterior a 1997 e interrompa a implantação de armas na vizinhança da Rússia.
Além disso, a Rússia contestou a adesão de 14 países que faziam parte do Pacto de Varsóvia, que foi assinado em resposta à formação da Otan em 1955.
Seu objetivo era fornecer proteção militar aos países membros. No entanto, após a desintegração da União Soviética, o tratado tornou-se redundante.
Antes de 1917, a Rússia e a Ucrânia faziam parte do Império Russo. Quando o Império Russo se desfez após a Revolução Russa, a Ucrânia declarou sua independência. Mas juntou-se à União Soviética em poucos anos.
A Ucrânia obteve a independência em 1991, após a desintegração da União Soviética. Existem duas partes da Ucrânia: oriental e ocidental. Os ucranianos que vivem na parte oriental consideram-se mais próximos da Rússia e os da parte ocidental estão alinhados com a União Europeia.
Os rebeldes apoiados pela Rússia têm controle sobre grandes áreas dos territórios do leste da Ucrânia. Nessa região, a Rússia reconheceu Donetsk e Luhansk como nações separadas. Em 2014, a Rússia anexou a Crimeia.
O exército ucraniano é consideravelmente menor em comparação com o da Rússia: enquanto as forças do país europeu têm 261 mil militares, o número de soldados russos chega a 900 mil.
Além disso, o orçamento de defesa da Rússia é 10 vezes superior ao da Ucrânia. Dadas as circunstâncias, a Ucrânia precisa de uma organização militar que possa garantir sua proteção.
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