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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Militar russo é condenado à prisão perpétua; Zelensky é ovacionado em Davos

Do UOL*, em São Paulo

23/05/2022 05h45Atualizada em 23/05/2022 11h56

O militar russo Vadim Shishimarin, 21, foi condenado hoje à prisão perpétua em um tribunal de Kiev, na Ucrânia. Ele foi o primeiro membro das forças russas a responder em um tribunal ucraniano por crimes de guerra desde a invasão do país, que hoje chega ao 89º dia.

Segundo a acusação, em 28 de fevereiro, o sargento Shishimarin, comandante de uma unidade de ataque do exército russo, matou um idoso de 62 anos em Chupakhivka, cidade na região de Sumy, 325 quilômetros a leste da capital Kiev. Na semana passada, ele já havia se declarado culpado. "O tribunal decidiu que Shishimarin é culpado e o condenou à prisão perpétua", anunciou hoje o juiz Sergiy Agafonov. Os advogados do militar pretendem recorrer da sentença.

De acordo com a Procuradoria-Geral da Ucrânia, ao fugir do exército ucraniano, ele e outros militares roubaram um carro. Na fuga, "eles viram um morador desarmado da aldeia andando de bicicleta pela beira da estrada e falando ao telefone". "Pela janela aberta do carro, com um rifle Kalashnikov, o réu disparou vários tiros na cabeça da vítima de 62 anos", disse a Procuradoria-Geral. "O homem morreu no local, a apenas alguns metros de sua própria casa."

Na semana passada, em depoimento, o sargento disse que um dos militares que o acompanhava na fuga pediu que ele atirasse para que não fossem denunciados. Shishimarin relatou que, inicialmente, recusou, mas que houve insistência. "Ele me disse em tom firme para atirar, que se eu não o fizesse, estaríamos em perigo". Pressionado pela promotoria, Vadim Shishimarin admitiu, porém, que este homem não era seu superior e que não era obrigado a obedecê-lo.

Na última quarta-feira (18), ele ficou frente a frente com a viúva de sua vítima. "Você tem remorso pelo crime que cometeu?" perguntou Katerina Chelipova. "Sei que você não poderá me perdoar, mas ainda assim peço seu perdão", respondeu o sargento. "Mas por que você veio aqui? Para nos libertar do quê? O que meu marido fez para você?", disse a mulher.

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O militar russo Vadim Shishimarin ouve a sentença em que foi condenado à prisão perpétua
Imagem: Sergei Supinsky/AFP

Zelensky ovacionado

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, falou hoje, por meio de vídeo, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Ele foi ovacionado em sua participação, na qual disse que o mundo está em um "ponto de virada". Não houve representantes russos no evento.

"Este é realmente o momento em que se decide se a força bruta governará o mundo", disse Zelensky. "Se assim for, a força não está interessada em nossos pensamentos. E não há necessidade de mais reuniões em Davos, pois não haveria razão para isso. A força bruta não discute, mas mata de uma vez e a Rússia faz isso na Ucrânia enquanto falamos."

Zelensky pediu o fim de todo o comércio com a Rússia e a imposição do "máximo" de sanções ao país,. "Acredito que ainda não existem tais sanções [máximas] contra a Rússia, e deveria haver", disse. "Deveria haver um embargo ao petróleo russo. Todos os bancos russos deveriam ser bloqueados, sem exceções. O setor de tecnologia russo deveria ser abandonado. Não deveria haver nenhum tipo de comércio com a Rússia."

O presidente ucraniano também voltou a pedir mais armas. "A Ucrânia precisa de todas as armas que pedimos, não apenas das que foram fornecidas", disse, antes de completar que, se o país tivesse recebido o equipamento em fevereiro, "o resultado teria sido dezenas de milhares de vidas salvas".

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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, participou, por vídeo, de reunião do Fórum Econômico Mundial
Imagem: Arnd Wiegmann/Reuters

89º dia

Hoje, a guerra entrou em seu 89º dia. O Ministério da Defesa da Rússia disse, em seu relatório de hoje, que, com "mísseis de longo alcance de alta precisão baseados no mar", atacou ontem a estação ferroviária em Malin, cidade a cerca de 110 quilômetros a oeste de Kiev. Prefeito da cidade, Oleksandr Sytailo informou que ao menos um funcionário da estação morreu e outros três ficaram feridos. Residências da região também foram atingidas.

Segundo a Defesa russa, o ataque teve como objetivo destruir "armas e equipamentos militares" que iriam para o Donbass, área com separatistas pró-Rússia no leste ucraniano. A Rússia também disse ter atingido ao menos quatro postos de comando da Ucrânia, além de depósitos de armas. Os russos também disseram ter atacado aeronaves ucranianas.

A invasão russa ao território ucraniano completa três meses amanhã. Neste momento, o Ministério da Defesa da Ucrânia disse ver a Rússia aumentando "a intensidade do uso de aeronaves para destruir a infraestrutura crítica dos assentamentos na área de hostilidades ativas".

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O Ministério da Defesa da Rússia divulgou imagens do lançamento de mísseis de longo alcance contra estação ferroviária em Malin
Imagem: Ministério da Defesa da Rússia

A Ucrânia, porém, também responde. Hoje, o Comando das Tropas de Assalto das Forças Armadas do país divulgou imagens de um ataque a um grupo russo no qual morreram ao menos 14 militares. De ontem para hoje, os ucranianos informaram ter matado 150 integrantes das forças russas. Os russos, por sua vez, dizem ter assassinado 230. As informações não puderam ser verificadas com fontes independentes.

Movimentos

Em Donetsk e Lugansk, "o inimigo não para de tentar romper as defesas de nossas tropas e atingir as fronteiras administrativas da região", avaliou a Defesa ucraniana, que também disse observar a tentativa russa de "manter as fronteiras anteriormente ocupadas na direção de Kharkiv", região também no leste ucraniano, onde está cidade homônima, a segunda maior do país.

O Ministério da Defesa da Ucrânia também disse que as forças de Belarus, país vizinho e aliado dos russos, "estão realizando reconhecimento intensivo" e que "unidades adicionais" são posicionadas nas áreas de fronteira, indicando que a "ameaça de ataques aéreos" permanece.

De acordo com a Defesa ucraniana, em razão de "perdas durante as hostilidades", a Rússia foi forçada a "recrutar grupos táticos de batalhão de reserva, que estão sendo formados, para serem enviados à Ucrânia.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Três meses

A inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido avaliou que, nesses três meses de guerra, a Rússia mostrou "uma combinação de táticas de baixo nível ruins, cobertura aérea limitada, falta de flexibilidade e uma abordagem de comando preparada para reforçar falhas e repetir erros".

Esse conjunto, teria levado à quantidade de mortes de soldados russos, que, para o Reino Unido, provavelmente é "semelhante ao experimentado pela União Soviética durante sua guerra de nove anos no Afeganistão". Foram cerca de 15 mil baixas na ocasião.

No conflito atual, a guerra promovida pela Rússia em território ucraniano teria matado cerca de 29,2 mil combatentes russos, segundo a Ucrânia. O governo russo não costuma divulgar o número.

Para os britânicos, aliados dos ucranianos, "o público russo, no passado, mostrou-se sensível às baixas sofridas durante as guerras". "À medida que as baixas sofridas na Ucrânia continuam a aumentar, elas se tornarão mais aparentes, e a insatisfação pública com a guerra e a vontade de expressá-la podem crescer."

(Com Reuters, DW e AFP)