Por que calor de 40ºC é mortal na Europa e no Brasil é 'normal'?

Além de um agosto quente no Brasil, o verão do hemisfério norte tem batido recordes de calor, a ponto de o mês passado ter sido o julho mais quente da história, segundo os registros oficiais. Mas por que o "pessoal do Norte" sofre mais com isso, com maior incidência até de mortes?

Temperaturas de 40º C em países como França ou Reino Unido são muito piores de serem enfrentadas do que no Brasil, tanto por questões naturais quanto por questões estruturais.

Uma das principais diferenças está na umidade do ar. Enquanto no Brasil o calor é mais úmido, o calor europeu é mais seco.

O calor na Europa é diferente porque é muito quente e seco. Com isso, o corpo perde mais líquido, porque tem menos vapor d'água no ar. Então, o suor evapora muito mais. É daí que vêm os problemas da desidratação e insolação.

Isso é semelhante ao que acontece no clima dos desertos, onde a umidade relativa do ar é baixa.

No Brasil, suamos muito, mas essa água não evapora tanto. Logo, não perdemos tanto líquido.

Falta de estrutura contra o calor

Outro motivo para as altas temperaturas afetarem tanto os europeus é a falta de estrutura contra o calor, já que a maioria das casas não possui equipamentos de ar condicionado ou ventiladores.

A maioria das casas têm apenas sistema de aquecimento, mas, quando bate o calor, eles não estão preparados.

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De acordo com um relatório de 2021 do Departamento de Energia Empresarial e Estratégia Industrial da Grã-Bretanha, menos de 5% dos imóveis residenciais possuem ar condicionado no país. Além disso, as casas do Reino Unido não foram projetadas para o calor extremo. As casas são historicamente projetadas para manter os moradores aquecidos.

Em alguns prédios antigos, por exemplo, os canos que fornecem água quente podem não estar bem isolados, então o uso de água durante o banho pode fazer com que o calor se espalhe por todo o apartamento.

População desacostumada a calor

Cada população tem adaptações ambientais. O clima e a vegetação do Brasil e da Europa são muito diferentes, por exemplo. A Amazônia fornece uma quantidade importante de umidade que impacta o clima do país inteiro, o que não acontece nos biomas presentes na Europa.

Quanto menos umidade, mais difícil fica suportar um calor com que não se está acostumado. A umidade é importante para manter a troca de calor do corpo com o ambiente, e, assim, manter o corpo numa temperatura em que ele possa funcionar de maneira saudável. Se o ar está seco em condições atípicas, o corpo tem mais dificuldade de equilibrar a temperatura interna, e isso pode levar a alguns colapsos que para algumas pessoas não são suportáveis.

Como os europeus não estão fisiologicamente acostumados com o calor, uma mudança brusca na temperatura pode acarretar problemas mais severos.

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Com humanos espalhados por todo o globo, populações específicas se adaptaram especificamente aos seus locais. Uma hipótese é que as condições ambientais mudaram de forma rápida e chegaram num patamar que as pessoas não estão acostumadas.

Fontes: Yuri Silva, biólogo mestre em biodiversidade tropical; Lucas Ferreira, doutor em meteorologia; Adriane Formigosa, bióloga

*Com reportagem de 21/7/2022

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