Zelensky diz não acreditar que Putin use armas nucleares
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reagiu à fala de seu homólogo russo, Vladimir Putin, de que teria acesso a "vários meios de destruição" — sugerindo eventual utilização de armas nucleares — ao anunciar, mais cedo, a convocação de mais de 300 mil homens para lutar na guerra contra Kiev.
"Não acredito que ele use essas armas, não acho que o mundo permitirá que ele faça isso", disse Zelensky em entrevista ao jornal alemão Bild. Ele, porém, não descartou totalmente a possibilidade. "Não dá para saber o que acontece dentro da cabeça dele, há riscos. Mas, amanhã, Putin pode dizer: 'Além da Ucrânia, também queremos parte da Polônia, caso contrário usaremos armas nucleares'. Não podemos fazer essas concessões."
Durante o anúncio da primeira mobilização militar desse porte desde a Segunda Guerra Mundial, Putin afirmou que vai usar "todos os meios disponíveis" diante do que chama de tentativa do Ocidente de "destruir o país".
Não estou blefando. Os cidadãos da Rússia podem ter certeza da integridade territorial da nossa nação, nossa independência e liberdade serão garantidas. Vou enfatizar isso novamente, com todos os meios ao nosso dispor. E os que tentarem nos chantagear com armas nucleares devem saber que os ventos predominantes podem se virar na direção deles. Vladimir Putin, em discurso televisionado
Zelensky disse que a atitude da Rússia não surpreende. "Não é nada novo para mim. Putin já fez a mobilização parcial, nossos serviços de inteligência e aliados já avisaram. Ele está se mobilizando há um mês."
Ele, porém, nega preocupação com o aumento no efetivo russo. "Eles já mobilizaram cadetes que nem sabiam lutar, não terminaram o treinamento deles. Essas pessoas não sabem lutar. Eles vieram até nós e morreram."
As forças russas sofreram diversos reveses nos últimos dias nas regiões de Kherson e Kharkiv, no sul e nordeste da Ucrânia, respectivamente, e foram obrigados a ceder uma grande parte do território sobre o qual tinham avançado.
Rússia perdeu parte dos territórios conquistados
Em uma ação aparentemente coordenada, líderes regionais pró-russos anunciaram, ontem, referendos entre os dias 23 e 27 de setembro nas províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, que representam cerca de 15% do território ucraniano.
A Rússia já considera Luhansk e Donetsk, que juntos formam a região de Donbas ocupada parcialmente por Moscou em 2014, como Estados independentes. A Ucrânia e o Ocidente consideram todas as partes da Ucrânia mantidas pelas forças russas como ilegalmente ocupadas.
A Rússia detém agora cerca de 60% de Donetsk e havia capturado quase toda Luhansk até julho, após avanços lentos durante meses de intensos combates.
Esses ganhos estão agora sob ameaça depois que as forças russas foram expulsas da vizinha província de Kharkiv este mês, perdendo o controle de suas principais linhas de abastecimento para grande parte da linha de frente de Donetsk e Luhansk.
'Putin começou o processo que vai enterrá-lo'
O prefeito da capital ucraniana, Vitali Klitschko, reagiu à fala do presidente russo. "O tirano finalmente começou o processo que vai enterrá-lo no país dele", publicou em seu canal no Telegram. "O mundo civilizado deve finalmente entender que o mal deve ser destruído completamente, e não ficar falando de 'negociações de paz' ilusórias."
A mobilização anunciada por Putin e as ameaças nucleares não ajudarão o agressor em sua missão de conquistar e destruir a Ucrânia e os ucranianos Vitali Klitschko, prefeito de Kiev
Para o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podoliak, o movimento era previsível. "Um apelo absolutamente previsível, que parece mais uma tentativa de justificar seu próprio fracasso", disse Podolyak à agência de notícias Reuters. "A guerra claramente não está indo de acordo com o cenário da Rússia."
O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, na Assembleia-Geral da ONU em Nova York, disse que Putin só desistirá de suas "ambições imperiais" se reconhecer que não pode vencer a guerra.
"É por isso que não aceitaremos nenhuma paz ditada pela Rússia, e é por isso que a Ucrânia deve ser capaz de se defender do ataque da Rússia."
A embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, Bridget Brink, afirmou que a medida representa um "sinal de fraqueza" de Moscou, que precisa lidar com uma escassez de militares em sua ofensiva na Ucrânia, em seu sétimo mês.
O Reino Unido seguiu a mesma linha. O secretário britânico de Defesa, Ben Wallace, afirmou que a decisão de Putin mostra que sua ofensiva "está falhando" e destacou que "a comunidade internacional está unida, enquanto a Rússia está virando um pária global".
*Com AFP, Reuters e RFI
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