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Camisinha, drogas e burca: o que pensava Bento 16 sobre temas polêmicos

Papa Bento 16 acena para fiéis na Praça São Pedro, no Vaticano - Tiziana Fabi/AFP
Papa Bento 16 acena para fiéis na Praça São Pedro, no Vaticano Imagem: Tiziana Fabi/AFP

Do UOL, em São Paulo

31/12/2022 10h23

O papa emérito Bento 16 lançou o livro "Light of the World: The Pope, the Church and the Signs of the Times" (Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais do Tempo), em 2010, e o texto surpreendeu. Nele, o religioso defendeu pela primeira vez o uso de camisinha:

Pode haver alguns casos justificados [do uso do preservativo], por exemplo, quando um prostituto utiliza um preservativo".

"Concentrar-se apenas no preservativo significa banalizar a sexualidade e é justamente essa banalização a razão pela qual tantas, muitas pessoas não veem na sexualidade uma expressão de amor, e sim um tipo de droga, que é autoadministrada", justificou.

A declaração veio um ano após o papa causar um alvoroço internacional ao dizer, em viagem a África, que os preservativos não deveriam ser usados, porque poderiam aumentar a propagação da Aids.

A doutrina católica proíbe o uso do preservativo, porque considera que o sexo é para procriação. Mas, embora não exista uma posição formal do Vaticano, a maioria dos líderes da Igreja diz, há décadas, que o uso de camisinha não tem relação com o combate à Aids.

Judeus reagiram

Outra passagem que gerou polêmica foi quando escreveu que o antigo papa Pio 12 foi um homem "grande e justo" que "salvou mais judeus que qualquer um" —sendo que muitos judeus acusam Pio, que foi papa entre 1939 e 1958, de ignorar o Holocausto.

O Vaticano diz que ele trabalhou discretamente, pois fazer declarações públicas teria gerado represálias nazistas contra católicos e judeus na Europa.

"Os comentários do papa Bento 16 enchem-nos de dor e tristeza e lança uma sombra sobre as relações vaticano-judaicas", disse na época Elan Steinberg, vice-presidente da Assembleia Americana de Sobreviventes do Holocausto e seus Descendentes.

Escândalos de pedofilia

Embora seja apresentado pelo Vaticano como um "guia" contra a "cultura do silêncio" na Igreja Católica de esconder os casos de padres pedófilos, o papa foi acusado de proteger e por não puni-los. Ao falar sobre isso no livro, disse:

"Não me pegaram totalmente de surpresa. Na Congregação para a Doutrina da Fé havia me ocupado dos casos nos Estados Unidos, havia visto como crescia a situação na Irlanda. Mas a dimensão do escândalo foi um choque enorme."

Veja outras frases que aparecem no livro:

Mídia

"Nesta época marcada pelos escândalos, experimentamos tristeza e dor por uma Igreja miserável e pelos fracassos de seus membros. É evidente que a ação da mídia não era guiada apenas pela busca da verdade, mas sim que havia uma satisfação em ridicularizar a Igreja e, se fosse possível, desacreditá-la. Apesar disso, deve ficar claro que, quando se trata de expor a verdade, devemos agradecê-la."

Drogas

"O Ocidente tem uma responsabilidade terrível. Tem a necessidade de drogas e cria países que as disponibilizam, o que termina por consumi-los e destruí-los. Muitos bispos da América Latina me disseram que a via do comércio da droga passa por lá."

Mulheres sacerdotes

"Não se trata de não querer, e sim de não poder. Não fomos nós que criamos esta forma da Igreja, segui-la é um ato de obediência, talvez uma das obediências mais pesadas. Não podemos fazer o que queremos, temos que nos ater à vontade do Senhor."

Burca

"Sobre a burca, não vejo nenhuma razão para proibi-la de forma generalizada. Diz-se que algumas mulheres não a utilizam de forma voluntária e que na realidade ela é imposta com certa violência. Claro que não posso concordar com isto. Mas se quiser utilizá-la voluntariamente, não sei por que deve ser proibida."

Conclave

"Estava convencido de que este cargo não era para mim e que Deus, depois de tantos anos agitados, iria me conceder um pouco de paz e tranquilidade."

Curiosidades

"Visto-me sempre com batina, nunca levo um casaco. O relógio que tenho era de minha irmã, ela me deixou."

"Não tenho carteira nem conta corrente."

"Preciso economizar energia e reservar tempo para o descanso. Não uso mais a 'cyclette' (bicicleta ergométrica), não faço esportes."

"Vejo as notícias da televisão com meus secretários e às vezes um DVD. Nós gostamos de Don Camillo e Peppone (famoso livro e filme italiano sobre o confronto entre um padre de uma cidade e o prefeito comunista no pós-guerra). Escuto música e rezo."

(Com agências internacionais)

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