Denúncia, corte de verbas: o escândalo envolvendo agência da ONU em Gaza

A acusação feita por Israel de que funcionários de uma agência da ONU que dá assistência a refugiados palestinos participaram dos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 desencadeou uma investigação interna, demissões e cortes de verba.

Entenda o caso:

Agência acusada de participação em ataque. Na última sexta-feira (26), Israel acusou diversos funcionários da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente) de envolvimento no ataque do Hamas em seu território em 7 de outubro do ano passado.

Após as alegações, a ONU anunciou que abriu investigações. "As autoridades israelenses forneceram à UNRWA informações sobre o suposto envolvimento de vários funcionários [nossos] nos terríveis ataques a Israel em 7 de outubro", disse Philippe Lazzarini, comissário-geral da agência.

Para proteger a capacidade da agência de prestar assistência humanitária, tomei a decisão de rescindir imediatamente os contratos desses funcionários e iniciar uma investigação para estabelecer a verdade sem demora.
Philippe Lazzarini

Documento tem nomes e fotos. Em um dossiê de seis páginas, a inteligência israelense alega que cerca de 190 funcionários da UNRWA, incluindo professores, também são militantes do Hamas ou da Jihad Islâmica.

No entanto, não foi revelado o número de funcionários supostamente envolvidos nos ataques, nem a natureza das ações. Extraoficialmente, porém, diplomatas falam em até 12 pessoas envolvidas.

Um deles seria um conselheiro escolar acusado no dossiê israelense de fornecer assistência não especificada a seu filho no sequestro de uma mulher durante o ataque do Hamas em 7 de outubro do ano passado.

Um assistente social da UNRWA é acusado de envolvimento não especificado na transferência do corpo de um soldado israelense morto para Gaza e de coordenar os movimentos de caminhonetes usadas pelos invasores e de suprimentos de armas.

Um terceiro palestino no dossiê é acusado de participar de um ataque no vilarejo israelense na fronteira, Beeri, em que um décimo dos moradores foi morto. Um quarto é acusado de participar de um ataque a Reim, local de uma base do Exército que foi invadida e de uma rave onde mais de 360 pessoas morreram.

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Israel já havia acusado a agência da ONU de corrupção e conivência com o Hamas, o que a UNRWA sempre negou. Agora, as novas acusações representam um duro golpe para a agência, que já vinha tendo dificuldades para financiar suas operações nos últimos anos.

Corte de verbas

Os Estados Unidos anunciaram imediatamente depois das alegações que estavam suspendendo seu financiamento à UNRWA. Desde então, outros países fizeram o mesmo, como Alemanha, Austrália, Canadá, Itália, Finlândia, Holanda, Reino Unido, Suíça, França e Japão.

Já a Noruega declarou que vai continuar a financiar agência. "Apoio internacional à Palestina é mais necessário do que nunca", disse o escritório de representação norueguesa na Palestina nas redes sociais. "Precisamos distinguir o que indivíduos podem ter feito do que a UNRWA faz. A organização [...] tem um papel crucial de distribuir ajuda, salvar vidas e resguardar necessidades e direitos básicos".

A agência, por sua vez, demitiu vários funcionários após a denúncia israelense e prometeu uma investigação completa, enquanto Israel disse que interromperá a operação da organização na Faixa de Gaza após a guerra.

Crise amplia tensão entre o governo de Israel e a cúpula da ONU. A entidade é acusada desde o começo da guerra de não agir "de forma suficiente" contra o Hamas. Em 7 de outubro, combatentes do grupo extremista mataram 1.140 israelenses e sequestraram outros 250.

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O que é a UNRWA?

A UNRWA foi criada em dezembro de 1949 pela Assembleia Geral da ONU. Sua implantação se deu após o primeiro conflito árabe-israelense, que eclodiu depois da criação do Estado de Israel em maio de 1948. A agência fornece assistência humanitária e proteção aos refugiados palestinos registrados em sua área de operação, "à espera de uma solução justa e duradoura para sua situação".

Braço da ONU é financiado quase inteiramente por contribuições voluntárias. Os cinco principais doadores são, em ordem, Estados Unidos, Alemanha, União Europeia, Suécia e Noruega. Também contribuem Turquia, Arábia Saudita, Japão e Suíça.

Agência também opera no Líbano, na Jordânia e na Síria. Há mais de 5,9 milhões de pessoas cadastradas para receber apoio da UNRWA.

Na Faixa de Gaza, situação humanitária era crítica mesmo antes da guerra. Segundo dados divulgados pela ONU em agosto do ano passado, 63% dos habitantes enfrentavam o cenário de insegurança alimentar e dependiam de ajuda internacional, enquanto mais de 80% viviam em condições de pobreza.

*Com AFP, Reuters e Deutsche Welle

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