Líbano: Jovem brasileiro 'saiu de casa por medo de mísseis e acabou morto'
O adolescente brasileiro que morreu em um ataque aéreo promovido por Israel no Vale do Beqaa, no sul do Líbano, decidiu acompanhar o pai até o trabalho, por medo de sofrer um atentado a bomba em casa. Hoje foi confirmada a segunda morte brasileira no conflito, de uma adolescente de 16 anos.
O que aconteceu
Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, morreu durante um ataque aéreo no Líbano. O adolescente, nascido em Foz do Iguaçu (PR), foi vítima de um bombardeio na cidade de Kelya, a 30 km de Beirute, na manhã de segunda-feira (23). Ele estava morando com o pai e dois irmãos no Líbano.
A família havia se mudado para cuidar de uma fábrica de produtos de limpeza. Segundo o vereador Adnan El Sayed, parente de Ali, Haj Kamal Abdallah e os filhos se mudaram para o Líbano há cerca de um ano. O pai, que também morreu no ataque, era nascido no Paraguai, mas vivia em Foz do Iguaçu há muitos anos. Ele era conhecido e respeitado entre os membros da comunidade libanesa da região, segundo o vereador. As mortes foram confirmadas nesta quarta-feira (25) pelo Itamaraty ao UOL.
Mãe não pôde se despedir do filho e do marido, sepultados ontem (25) no Líbano. "Foi uma tragédia. A mãe do Ali está em choque, não consegue falar", contou Sayed, ressaltando que ela sequer pôde se despedir do filho, que foi sepultado no Líbano, juntamente com o seu marido.
Soubemos que os meninos estavam com medo de ficar em casa e, por isso, foram com o pai à fábrica. E foi justamente esse local a ser atingido por um ataque aéreo. A única coisa que a mãe quer agora é que Mohamed, que sobreviveu, chegue logo ao Brasil.
Mohamed Kamal Abdallah, 17, deve chegar na noite de hoje ao país. Ele sobreviveu à explosão que vitimou o irmão e o pai, e destruiu a fábrica de produtos de limpeza da família.
Conseguimos, junto ao Itamaraty, uma liberação especial para que ele pudesse viajar sem a permissão da mãe. Porque, do contrário, ela teria que se deslocar do Paraná, onde ainda mora com uma das filhas do casal, até São Paulo, para poder assinar a autorização.
Adnan El Sayed
Na opinião do vereador, o que está ocorrendo no Líbano é um massacre. "Em dois dias, os ataques de Israel já mataram mais de 500 cidadãos", declarou. "Eles querem abalar a moral do povo libanês através dessas mortes e desastres. Abafar a dignidade e o nacionalismo e a vontade de defender sua soberania e o seu país".
Irmã acusa Israel
A irmã de Ali, Hanan Abdallah, acusa Israel pela morte dele e do pai. Ela republicou um vídeo nas redes sociais com imagens de Ali, inclusive jogando bola com outras crianças. Nas imagens, Hanan incluiu a frase: "O anjo que Israel matou". O vídeo gerou grande repercussão e comoção entre os seguidores.
Imagens mostram sepultamento do pai e do irmão. Um vídeo, publicado no Instagram, contém imagens do sepultamento do irmão e do pai de Hanan. "Ah, luz dos meus olhos, nos perdoem por não estarmos perto de vocês, meus queridos", ela escreveu.
Itamaraty toma medidas
O Itamaraty condenou os ataques, se solidarizou com a família e tomou medidas para auxiliar brasileiros no Líbano. Na última segunda-feira (23), o governo brasileiro orientou a Embaixada no Líbano a consultar os cidadãos brasileiros no país. O objetivo é verificar se desejam assistência para repatriação devido à intensificação dos conflitos.
Aqueles que optarem por ficar devem tomar precauções. O Itamaraty recomendou que os brasileiros que decidirem permanecer no Líbano saiam das regiões ao sul, próximas a Israel. Áreas de fronteira e outras zonas de risco também devem ser evitadas.
Essas medidas visam proteger os brasileiros em meio ao conflito crescente. A orientação é parte de um esforço do governo para garantir a segurança dos cidadãos em meio à escalada de tensões e ataques na região. O acompanhamento pela embaixada continua.
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