México: Sheinbaum exalta AMLO e defende reforma no Judiciário em posse
Claudia Sheinbaum, 62, tomou posse nesta terça-feira (1º) como presidente do México, se tornando a primeira mulher a ocupar o cargo. A cerimônia foi realizada na Câmara dos Deputados, na capital Cidade do México.
O que aconteceu
Sheinbaum fez o juramento oficial e recebeu a faixa presidencial pelas mãos da presidente da Câmara dos Deputados. Andrés Manuel López Obrador, agora ex-presidente, entregou a faixa para Ifigênia Martínez, que, por sua vez, passou o objeto simbólico para a nova chefe de Estado, como pede a tradição mexicana.
"Depois de, pelo menos, 503 anos, pela primeira vez, as mulheres chegaram para conduzir o destino da nossa linda nação", comemorou. Claudia disse que não chegou ao cargo sozinha, mas sim com todas as outras mulheres, e destacou a importância da luta feminina pela democracia, liberdade e justiça."É tempo de transformação, é tempo de mulheres", repetiu mais de uma vez.
Sheinbaum exaltou o ex-presidente, AMLO, e agradeceu profundamente por seu trabalho. A presidente classificou López Obrador como "o dirigente político e lutador social mais importante da história moderna" e "o presidente mais querido". Ela afirmou que o ex-presidente estará sempre no coração do povo mexicano por ter devolvido esperança e alegria. Ao longo do discurso, citou frases de AMLO, como "dê comida para quem nos dá comida", destacando o compromisso social do político.
Mandatária defendeu a reforma no Judiciário e declarou que o controle presidencial da Suprema Corte é autoritarismo. "A recente reforma constitucional no poder Judiciário, que marca a eleição por voto popular de juízes, magistrados e ministros, dá mais autonomia e independência ao poder Judiciário", afirmou. Ela explicou que uma comissão será convocada para selecionar os candidatos, garantindo que os devidos requisitos sejam cumpridos, mas será o povo quem terá a palavra final. "Tenho certeza que, daqui a alguns anos, todos estaremos convencidos de que essa reforma é o melhor", concluiu.
Discurso incluiu críticas ao neoliberalismo, intolerância e discriminação. Sheinbaunm destacou a importância da chamada "quarta transformação" da vida pública do país — uma das promessas de campanha de López Obrador, que visa reduzir pobreza e a desigualdade e desenvolver regiões negligenciadas. Ela argumentou pela defesa dos mais pobres e dos povos originários e afromexicanos, e frisou ainda que os dirigentes devem governar com amor, não com ódio, pedindo por mais humanização na política.
Presidente prometeu não aumentar os preços de serviços básicos. Os preços da gasolina, gás de cozinha, eletricidade devem permanecer os mesmos. Na próxima semana, o governo irá convocar empresários para confirmar o acordo que mantém os custos da cesta básica também. Além disso, a presidente afirmou que irá trabalhar para aumentar o salário mínimo, para que o valor chegue ao equivalente a 2,5 cestas básicas.
"Sou mãe, avó, cientista e uma mulher de fé" foi como Claudia se definiu ao final do discurso. "E, a partir de hoje, pela vontade do povo mexicano, sou presidente do México", complementou. O discurso foi finalizado com gritos de "Viva o México" e seguido pelo hino nacional.
Relações internacionais
Nova chefe do Executivo iniciou o discurso agradecendo a presença de representantes de 105 países, inclusive Lula. A presidente mencionou o nome de diversos representantes, e declarou que a presença deles é um reflexo do compromisso do México com a comunidade internacional e da amizade que o une o país com todos os povos do mundo.
Sheinbaum afirmou que México, EUA e Canadá se complementam economicamente. A presidente afirmou que aproveitará os tratados comerciais firmados com os países da América do Norte para seguir com o desenvolvimento regional, e defendeu a proteção do meio ambiente. "Seguiremos fortalecendo nossa relação econômica e cultural com os países da América Latina e Caribe, aos quais estamos unidos pela história e pelo compromisso", acrescentou.
O presidente Lula (PT) participou da cerimônia de posse da nova presidente do México. O petista está no país desde o domingo (29) e voltará ao Brasil logo depois da solenidade. Representantes de 105 países e de 16 líderes internacionais também estiveram presentes.
Lula tem afinidade com Claudia Sheinbaum. Ela é do grupo político de Andrés Manuel López Obrador, presidente mexicano que está deixando o cargo e que é um dos principais aliados do petista no cenário internacional.
Quem é Claudia Sheinbaum
Veio de uma família judia, laica e de esquerda. Nasceu em 24 de junho de 1962, na Cidade do México. Seus avós chegaram ao México vindos da Bulgária e da Lituânia, fugindo da Segunda Guerra Mundial. Sua mãe, Annie Pardo, foi expulsa e perdeu o cargo de professora universitária por denunciar o massacre de estudantes na década de 1960. "Sou filha de 1968", repete Sheinbaum com frequência.
Como aluna, participou do Conselho Estudantil Universitário. O grupo impediu uma tentativa de privatizar a Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e foi uma fonte dos atuais líderes da esquerda mexicana. Lá, Sheinbaum se formou em física e se tornou mestre em engenharia de energia e doutora em engenharia ambiental, com estágio na Universidade da Califórnia, em Berkeley.
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Quero receberNa política, foi secretária em 2000 e eleita prefeita em 2018. Ex-secretária de Meio Ambiente, Sheinbaum comandou a capital mexicana durante a pandemia de covid-19, e a crença na ciência e na tecnologia marcou sua gestão, apesar da alta taxa de mortalidade. "Ela usava máscara, mesmo na presença de López Obrador", como destaca o livro "Presidenta", do analista mexicano Jorge Zepeda Patterson.
Casou-se duas vezes; na última, com um namorado da faculdade. Sheinbaum e Jesús Maria Tarriba se reencontraram pelo Facebook em 2016, quando ela já estava divorciada do marido Carlos Imaz Gispert, e se casaram em novembro de 2023. A nova presidente do México tem dois filhos, ambos do primeiro casamento: Rodrigo Ímaz Gispert, seu enteado; e Mariana Imaz Sheinbaum.
Desafios
México registrou quase 200 mil homicídios nos seis anos de AMLO. Os cartéis travam disputas violentas pelo controle de territórios, do tráfico de drogas, de combustíveis roubados e de pessoas. No estado de Sinaloa, os combates entre grupos rivais deixaram dezenas de mortos desde 9 de setembro. A violência de gênero, com 10 mulheres ou meninas assassinadas diariamente, é outro grande problema.
País também enfrenta problemas econômicos e até diplomáticos. Sheinbaum provocou uma divergência com a Espanha por excluir da cerimônia de posse o rei Felipe 6º, que se recusou a reconhecer os abusos da colonização. Madri decidiu não enviar um representante oficial ao evento, do qual participarão os principais líderes de esquerda da América Latina — incluindo o presidente Lula (PT).
Analista crê que Sheinbaum tentará 'apaziguar as inquietações'. A presidente herda uma agenda política de quase 20 propostas de reformas constitucionais, incluindo a polêmica autorização para que juízes sejam eleitos por voto popular. As iniciativas preocupam investidores dos Estados Unidos e do Canadá, mas "tudo indica que ela [Sheinbaum] é pragmática e entende que o México não pode se dar ao luxo de ter inimizades", disse à AFP Michael Shifter, analista do centro de estudos Diálogo Interamericano.
Relação com os EUA ainda dependerá das eleições de novembro. Para Pamela Starr, professora da Universidade do Sul da Califórnia, Sheinbaum poderia ter um bom relacionamento com a democrata Kamala Harris porque "ambas estão interessadas em fazer avançar a agenda e os direitos das mulheres" e estão em sintonia "no que diz respeito às mudanças climáticas". Em caso de vitória de Donald Trump, porém, a relação será muito mais complicada, "em parte porque o republicano não tem o mesmo respeito pelas mulheres governantes que tem pelos homens".
(Com AFP)
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