Conteúdo publicado há 29 dias

Com vitória de Trump, 11 milhões de imigrantes entram na mira do exército

O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, promete intensificar as medidas contra imigrantes ilegais, o que inclui a expansão do muro na fronteira com o México, o deslocamento do exército e deportações em massa com invasões a locais de trabalho.

O que pode acontecer

As propostas fazem parte dos planos que Trump divulgou durante a campanha e que chegou a flertar com ideias racistas. No ano passado, ele disse que os migrantes estavam "envenenando o sangue do nosso país". Em outubro último, afirmou que imigrantes irregulares cometem assassinatos porque têm "genes ruins".

Veja algumas das principais propostas:

Deportação em massa

Trump prometeu a "maior operação de deportação doméstica na história americana". O objetivo seria expulsar 11 milhões de imigrantes ilegais, estima artigo da revista Time. O método será encurtar os processos de deportação, realizando as expulsões sem a realização de audiências, exigidas por lei atualmente.

Republicano diz que a medida vai melhorar os salários de americanos, mas o resultado pode ser desastroso. A remoção abrupta de milhões de imigrantes provavelmente levaria à instabilidade econômica, particularmente em indústrias fortemente dependentes de mão de obra dos ilegais, como agricultura e turismo.

Para cumprir a promessa, Trump gastaria bilhões de dólares. O custo para deportar um milhão de imigrantes ilegais por ano custaria mais de US$ 88 bilhões (R$ 502,3 bilhões em valores de hoje), totalizando US$ 967,9 bilhões (R$ 5,5 trilhões) ao longo de mais de 10 anos, de acordo com relatório do Conselho Americano de Imigração.

Exército contra imigrantes

Trump quer usar o exército para expulsar imigrantes sem documentos. As tropas federais no exterior rumariam para a fronteira sul do país, que dá acesso à América Latina, onde os militares teriam autorização para prender imigrantes.

Continua após a publicidade

A intenção é criar uma presença militar sem precedentes na fronteira. A Guarda Nacional e polícia local de estados liderados pelos republicanos reforçariam a vigilância.

Trump também quer construir novos campos de detenção de imigrantes irregulares. A campanha de Trump disse que a medida vai acelerar o processo de expulsão, que também contará com a ajuda dos militares.

Em 2021, os Estados Unidos tinham centros de detenção que abrigavam mais de 20 mil crianças. Em uma reportagem, a BBC descobriu que esses menores enfrentavam baixas temperaturas, doenças, negligência, piolhos e sujeira.

23.dez.22 - Imigrantes em busca de asilo se reúnem em torno de uma fogueira para se aquecer durante um dia de ventos fortes e baixas temperaturas em um acampamento improvisado perto da fronteira entre os EUA e o México
23.dez.22 - Imigrantes em busca de asilo se reúnem em torno de uma fogueira para se aquecer durante um dia de ventos fortes e baixas temperaturas em um acampamento improvisado perto da fronteira entre os EUA e o México Imagem: DANIEL BECERRIL/REUTERS

Invasão a locais de trabalho

Trump planeja invadir locais de trabalho para identificar e prender imigrantes ilegais. A estratégia desestimularia indústrias a contratarem essa mão de obra e beneficiaria trabalhadores americanos. A medida, porém, afetaria economias locais e resultariam em caos social, com a separação de famílias e piora da vulnerabilidade de populações inteiras de imigrantes.

Continua após a publicidade

Murando a fronteira

Ainda presidente, Trump afirmou que seu muro na fronteira com o México seria "instraponível"
Ainda presidente, Trump afirmou que seu muro na fronteira com o México seria "instraponível" Imagem: Getty Images

Outra prioridade do presidente eleito é expandir o muro na fronteira com o México. Durante seu primeiro mandato, Trump construiu 804 km na fronteira de 3,1 mil km com o país vizinho. "Nós completaremos o muro da fronteira", diz seu programa de governo, que pretende usar dinheiro militar para levantar a barreira.

Muçulmanos na mira

Trump também quer voltar a proibir viagens de países de maioria muçulmana. Ele prometeu, em outubro do ano passado, que "restabelecerá e expandirá" o veto a viagens de "países assolados pelo terror" e "implementará uma forte triagem ideológica para todos os imigrantes".

Agentes de imigração seriam enviados para protestos nos EUA para expulsar manifestantes "pró-jihadistas", ou contra o Estado de Israel. O país também revogaria os vistos de estudante "estrangeiros radicais antiamericanos e antissemitas" em universidades. "A simpatia por jihadistas, Hamas ou ideologia do Hamas será automaticamente desqualificante" para imigrantes que se candidatam a entrar nos Estados Unidos, escreveu a campanha no X.

Continua após a publicidade

Sobrou até para o fantasma comunista. Durante a Convenção Nacional Republicana em julho, a plataforma do partido divulgou a informação de que "os republicanos usarão a Lei Federal existente para manter comunistas, marxistas e socialistas estrangeiros que odeiam cristãos fora da América".

Verdade ou retórica?

Embora Trump possa dificultar a vida de imigrantes, seu governo não deve cumprir todas as promessas. "Eu vejo muito mais uma retórica do Trump para conseguir voto na campanha", diz Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM. "É logistica e economicamente impossível deportar 11 milhões de pessoas."

Apesar de maior "perseguição ao imigrante indocumentado", Trump não pode prejudicar a economia do país. "Os republicanos sabem que boa parte do motor da economia dos Estados Unidos e dos estados onde ele ganhou é baseado na economia do imigrante, seja ele irregular ou não", diz o professor.

Os principais alvos devem ser os imigrantes que tentam cruzar a fronteira. "Ele vai endurecer a política de combate à imigração irregular, por meio de coiotes, o que os governos anteriores sempre fizeram."

A gente vai ver um aumento de deportações dos imigrantes que já estão presos nos Estados Unidos, mas eu não vejo uma espécie de caça às bruxas, não pelo menos nesse primeiro ano de governo, porque ele sabe que o imigrante é fundamental para a economia dos Estados Unidos.
Roberto Uebel, da ESPM

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.