'Vingança': China debate fenômeno social após ataques em massa a crianças
A China vive uma onda de ataques em massa, que fez dezenas de vítimas nos últimos meses. O mais recente, um atropelamento em massa em frente a uma escola infantil, deixou crianças feridas e acabou com um homem preso.
O que aconteceu
Atropelamento desta terça-feira aconteceu dois dias depois de um ataque a facas com oito mortes. No sábado, um aluno do Instituto Profissional de Arte e Tecnologia de Wuxi, em Jiangsu, atacou colegas e professores.
Ataque recente com mais mortes deixou 35 vítimas. Ele aconteceu quando um homem de 62 anos jogou um carro contra uma multidão que praticava exercícios do lado de fora de um ginásio em Zhuhai.
Presos, autores dos ataques alegaram "insatisfação". Enquanto o idoso de Zhihai reclamou de um divórcio recente, o estudante de Jiangsu afirmou que estava "insatisfeito com o valor da bolsa de estudos que recebia".
Para especialistas, os atentados são reflexos das pioras na economia doméstica do país. À agência de notícias AFP, a professora Hanzhang Liu, da Pitzer College, nos Estados Unidos, afirmou que o aumento do desemprego e os altos custos de moradia e de cuidado com os filhos têm frustrado a sociedade.
Ela afirma que os ataques são "esporádicos, mas têm ocorrido com maior frequência". "Isso sugere que mais pessoas na China estão sofrendo com "dificuldades e angústias que eles não tinham vivido anteriormente", afirmou.
Um problema "muito novo" para a China, diz professora. Também à AFP, a cientista política Lynette Ong afirmou que a China vive uma transformação social que acaba mostrando um "lado feio" da sociedade.
Esses são sintomas de uma sociedade com muitos ressentimentos reprimidos. Enquanto algumas pessoas desistem, outras, com raiva, decidem se vingar.
Lynette Ong, professora de política chinesa na Universidade de Toronto, à AFP
Crimes acontecem como "vingança contra a sociedade", analisam chineses nas redes sociais. Usuários do Weibo opinaram que fatores sociais podem justificar a crescente dos ataques, segundo mensagens divulgadas pelo jornal BBC.
Se há uma falta generalizada de segurança trabalhista e uma enorme pressão para sobreviver? a sociedade estará destinada a ser cheia de problemas, hostilidade e terror.
Usuário da rede social chinesa Weibo, em mensagem divulgada pela BBC
"Sofrimento social" também é apontado como causa de massacres nos EUA
O país, que sofre com violência armada, viu a quantidade de ataques de "grande porte" quase triplicar entre 2014 e 2021. Enquanto em 2014 273 ataques com mais de quatro mortes aconteceram, em 2021 o número foi de 690. No ano seguinte, 647 ataques do tipo foram registrados no país.
Além do acesso facilitado a armas, problemas que fazem as pessoas "agirem e responderem de forma violenta" são listados como questões que contribuem para os dados. Uma pesquisa do Instituto de Violência Armada publicada em 2023 mostrou que 93% dos autores de ataques armados sofrem com problemas de divórcio, saúde, escolares ou de trabalho.
China e Estados Unidos se diferem quanto à legislação de armas. Enquanto o gigante asiático tem uma das legislações mais restritivas do mundo, com 35 armas para cada mil habitantes, o país americano tem mais armas do que habitantes (1205 para cada mil pessoas, segundo o laboratório Small Arms Survey).
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