Partidários de Obama lutam contra a desilusão das minorias

Philippe Bernard

Em Tampa (Flórida)

  • Jewel Samad/AFP

    Voluntária do Partido Democrata tenta incentivar as pessoas a votarem antecipadamente em Columbus, capital do Estado de Ohio. O voto nos EUA é facultativo, e pode ser realizado de modo antecipado em alguns Estados

    Voluntária do Partido Democrata tenta incentivar as pessoas a votarem antecipadamente em Columbus, capital do Estado de Ohio. O voto nos EUA é facultativo, e pode ser realizado de modo antecipado em alguns Estados

Com a bíblia na mão, o pastor Bartholomew Banks conclui o sermão do domingo pré-eleitoral diante de uma centena de fiéis de sua igreja batista St. John, no centro de um bairro popular negro do leste de Tampa: "Quando o dia a dia fica difícil, os bravos progridem". Para os frequentadores em suas roupas de domingo, um festival de chapéus floridos e ternos escuros, a mensagem é clara. "Na condição de cristãos, não podemos permitir que o país regrida", traduz uma paroquiana em uma van da Ford que, na saída do ofício, leva os fiéis até o posto de votação do bulevar Martin Luther King, a algumas ruas de lá.

Desde que teve início a votação antecipada, às 7h do sábado, a fila de eleitores foi contínua. No estacionamento, bolinhos de peixe eram distribuídos pelos partidários de Obama. Neste domingo, 48 ônibus vindos de diferentes igrejas convergiam para esse único posto, perpetuando a tradição do "All the Souls to the Polls" ("todas as almas para as urnas") originada no movimento dos direitos civis.

Espelho demográfico do país, a Flórida, o mais populoso dos "swing states" (Estados sem uma preferência partidária clara, que decidem as eleições) conta com 17% de eleitores negros e 13,5% de hispânicos. Segundo as pesquisas, nesse Estado decisivo onde Barack Obama venceu por pouco em 2008 e agora está em dificuldades, ele só poderá se sair bem se esse eleitorado amplamente garantido (quase todos os negros, dois terços dos latinos) se mobilizar. "Se nos descuidarmos e nossos eleitores não forem votar, poderemos perder essa eleição", avisou o presidente.

Só que o clima não é o mesmo de 2008. "Todos tinham a sensação de estarem participando de um acontecimento histórico. Hoje, a crise econômica continua e a apatia se anuncia", constata Albert Coleman, encarregado das minorias no condado de Hillsborough. "Muitos jovens negros ignoram as lutas do passado e não veem a importância do voto". Connie Burton, que faz propaganda de porta a porta por Obama, conta que ela foi dispensada por jovens com as seguintes palavras: "Ele é presidente há quatro anos. Eu ainda não tenho emprego".

Eleições 2012 nos EUA
Eleições 2012 nos EUA

Nos subúrbios pobres de Tampa, com seus muitos jovens ociosos, quase não se enxerga a melhoria nas estatísticas do desemprego. "Obama é como um remédio, não basta ele agir, você precisa sentir que está melhor", disse a filosofa Hakim Aquil, que vende roupas em um cruzamento.

No centro comunitário negro da 34º Avenida, nessa manhã de sábado, foi organizado um café da manhã de mobilização eleitoral. Os ovos mexidos com torrada e café a US$ 3 (aproximadamente R$ 6) atraíram poucos jovens. "Seria necessário mais fervor. Se Romney vencer, os pobres vão sofrer", diz Jetie Wilds, funcionária pública aposentada. Seu vizinho, Daryl House, comerciante, usa a metáfora esportiva: "Quando você ganhou o Super Bowl uma vez, é muito mais difícil entusiasmar a multidão na segunda vez".

Os democratas se tranquilizam com os números - 250 mil novos eleitores negros, latinos ou caribenhos inscritos desde 2008 - e as técnicas sofisticadas do partido para levar seus eleitores às urnas. Eles sabem que as ameaças de Mitt Romney aos orçamentos sociais e sua posição contrária à regularização dos jovens em situação irregular escoam esse eleitorado para Barack Obama. Há quem garanta que as leis votadas pelos republicanos visando restringir o voto das minorias (fim da votação de domingo que antecede o Election Day) só os deixou mais bravos e incentivaram sua mobilização.

Do outro lado da cidade, Town Country é um bairro muito hispânico onde as filas de espera são igualmente impressionantes. Muitos adultos estão indo às urnas pela primeira vez. Armando L., 65, médico cubano que há vinte anos se tornou um cinesioterapeuta americano, votou pela última vez em Cuba, "por obrigação"; desta vez, é para que seu novo país "avance". Não muito longe, a sede local da campanha democrata tenta se mesclar à paisagem chamando a si mesma de "Casa Obama".

Os partidários do presidente estão contando com os sul-americanos e os jovens cubanos democratas da região de Tampa para contrabalançar a influência do lobby cubano de Miami, bastante envolvido na campanha de Mitt Romney. "Os hispânicos constituem a parte do eleitorado mais dinâmica demograficamente", lembra a primeira página do "Siete Dias", publicação semanal gratuita distribuída em todos os pontos latinos de Tampa. "Temos o poder de exigir garantias contra aquilo que nos ameaça [sobretudo a deportação de imigrantes]". Menos enigmática, a página de editoriais do jornal passa claramente as instruções: "Obama para presidente".

Tradutor: Lana Lim

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