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Estados Unidos e europeus alegam em Doha que estão sem dinheiro para investir no clima

Em Doha (Catar)

06/12/2012 11h40

A União Europeia e os Estados Unidos jogaram um balde de água fria naqueles que esperavam um compromisso ambicioso de ajuda aos países do Hemisfério Sul que reivindicam US$ 60 bilhões (cerca de R$ 124 bilhões) até 2015 na COP 18, a conferência anual da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre as mudanças climáticas que acontece em Doha, no Catar. Esta ajuda era considerada uma condição para o avanço das negociações de um segundo período de vigência para o Protocolo de Kioto.

"Os tempos são difíceis para as finanças na Europa", disse negociador europeu, Pete Betts. "Nós, assim como outros países desenvolvidos, não poderemos nos comprometer até 2015.”

Embora Reino Unido e Alemanha tenham informado sobre o dinheiro que vão dedicar a este tema nos próximos anos, não se trata de recursos novos.

Os países em desenvolvimento pedem US$ 60 bi até 2015 para garantir uma transição entre a ajuda de emergência decidida em Copenhague, em 2009, incluindo os US$ 30 bilhões (mais de R$ 62 bilhões) do fundo de emergência do período de 2010 a 2012, e a promessa de mais US$ 100 bilhões (equivalente a R$ 208 bilhões) até 2020. Este dinheiro se destina particularmente a ajudar esses países a enfrentarem os efeitos das mudanças climáticas como os eventos extremos.

"Se a questão é saber se haverá anúncios aqui sobre novas promessas, não é a questão adequada", disse Jonathan Pershing, negociador dos Estados Unidos.

Trata-se de um dos principais obstáculos para as negociações sobre o clima, que se encerrarão na madrugada do próximo sábado (7), em Doha, onde cerca de 190 países tratam de desenhar um novo protocolo para enfrentar as mudanças climáticas, batizado de segunda fase de Kyoto.

Diferente do Protocolo de Kyoto, que só vincula legalmente os países industrializados - com exceção dos Estados Unidos, que não ratificaram o tratado à época – a segunda fase retende envolver todos os países a partir de 2020, inclusive os principais poluidores, como Estados Unidos e China.

"Queremos ver o dinheiro sobre a mesa antes de partirmos", disse o negociador gambiano Ousman Jarju, que representa os países menos desenvolvidos.

A secretária do Meio Ambiente da Alemanha, Katherina Reiche, anunciou na quarta-feira (5) US$ 800 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão) “adicionais” para os próximos dois anos. "Esperamos que isto permita aportar um pouco de movimento às negociações.”

Na véspera, o Reino Unido tinha anunciado que gastará 1,8 bilhão de libras esterlinas (cerca de R$ 6 bilhões) entre 2014 e 2015, mas as ONGs criticaram o fato de o país europeu ter anunciado algo que já está no orçamento.

Países árabes

Embora os efeitos das emissões de gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global, afetem todo mundo, o Banco Mundial advertiu que os países do Oriente Médio e da norte da África serão particularmente afetados.

Se a tendência atual se mantiver, as temperaturas médias nos países árabes aumentarão 3 graus Celsius até 2050 e 6 graus Celsius no caso das temperaturas noturnas, segundo informe publicado durante a cúpula da ONU. "O clima dos países árabes vai conhecer temperaturas extremas, e sem precedentes.”

A chuva na região, que já conta com o menor volume de água doce do mundo, será cada vez mais aleatória. "Cada vez haverá menos água e, com o crescimento desta população, esta região já pobre em água não terá recursos suficientes para irrigar as colheitas, para a indústria, nem fornecer água potável", advertiu o informe do Banco Mundial.

A água procedente das chuvas diminuirá 10% até 2050, enquanto a demanda por água, potável ou não, aumentará 60% neste período. Segundo o relatório, "a mudança ameaçará os pilares essenciais do desenvolvimento".

As mudanças climáticas afetaram - ou ainda vão afetar - a maioria dos 340 milhões de habitantes do mundo árabe, sendo que as 100 milhões de pessoas mais pobres desses locais irão sofrer as maiores consequências.

Ao lado da escassez de água e da elevação das temperaturas, os agricultores terão que enfrentar pragas de insetos e a deterioração da fertilidade do solo, sem contar as colheitas, cada vez mais magras. Além da agricultura, o turismo será afetado, assim como a saúde, com doenças como a malária e o dengue chegando a novas regiões.

O Banco Mundial pede que sejam tomadas medidas urgentes para garantir que os planos de adaptação às mudanças climáticas sejam integrados às políticas nacionais.