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Devastada por tufão, Filipinas pedem pressa no combate a mudanças no clima

Claire Snegaroff

Em Doha (Catar)

07/12/2012 12h11

 Devastadas esta semana pela passagem de um tufão, as Filipinas pediram ação contra as mudanças climáticas um dia antes do encerramento da COP 18, cúpula anual da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o clima, que ocorre em Doha (Catar), na qual os países do hemisfério Sul pedem ajudas financeiras às nações do Norte.

"Faço um apelo a todo o mundo, aos líderes do mundo inteiro: abram os olhos e encarem a realidade de frente", declarou o líder da delegação filipina, Naderev Sano, diante de representantes de mais de 190 países.

Na noite de terça para quarta-feira, o sul das Filipinas foi arrasado pelo tufão Bopha, que até agora deixou cerca de 500 mortos, 400 desaparecidos e mais de 250 mil pessoas sem teto.

"É um retorno brutal à realidade para minha delegação, sobre a realidade das mudanças climáticas", declarou o delegado filipino. "E enquanto estamos sentados aqui, enquanto hesitamos e adiamos as decisões, o número de mortes aumenta."

As delegações continuavam suas consultas para chegar a um acordo que, seja qual for o conteúdo, não poderá estar à altura dos grandes desafios das mudanças climáticas. 

Sem dinheiro

Um dos temas em discussão é a ajuda financeira que os países do sul pedem dos países desenvolvidos para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. Eles pedem US$ 60 bilhões até 2015 para garantir a transição entre a ajuda urgente de US$ 30 bilhões para 2010-2012, decidida em 2009, e a nova promessa de um pacote de US$ 100 bilhões anuais até 2020.

Animação mostra negociações sobre redução da emissão de CO2

No entanto, até agora, os grandes provedores de recursos, como Estados Unidos, União Europeia e inclusive o Japão, não colocaram qualquer proposta na mesa de negociações.

"Os países em desenvolvimento estão preocupados porque anualmente é preciso voltar a este tema e não há uma visão global até 2020", explicou Steve Herz, da organização não governamental americana Sierra Club, que acusa os Estados Unidos de serem o principal responsável pelo bloqueio.

"Bloqueiam as discussões sobre o financiamento a longo prazo, não propõem metas a médio prazo e nem sequer estão dispostos a se comprometer a continuar fornecendo o dinheiro público prometido na ajuda de urgência", completou.

Essa questão poderá bloquear o avanço de outros grandes temas de negociações em Doha, como o segundo ato do Protocolo de Kyoto, cujos detalhes ainda não foram resolvidos.

"O acordo sobre Kyoto decidirá o êxito desta conferência", declarou o ministro das Relações Exteriores de Nauru, Kieren Keke, que preside a Aliança dos Pequenos Estados Insulares, muito vulneráveis às mudanças climáticas.

Kyoto emperrado

No entanto, o alcance será unicamente simbólico porque o acordo só afeta 15% dos gases de efeito estufa mundiais, emitidos principalmente por União Europeia e Austrália, depois da renúncia de Japão, Rússia e Canadá.

Apesar disso, os países em desenvolvimento insistem em manter o Protocolo de Kyoto, que obriga as nações do Hemisfério Norte a agirem em nome de sua "responsabilidade histórica" nas mudanças climáticas.

Muitos países do sul, a começar pelos Estados-ilha, querem que a segunda fase de Kyoto dure cinco anos - e não oito anos, como quer a União Europeia - para não postergar mais as metas de redução dos gases estufa, já consideradas pouco ambiciosas. "Este ponto está quase resolvido", declarou um negociador europeu.

Ainda falta chegar a um acordo sobre a questão do superávit das cotas de emissão de gases-estufa herdadas do Protocolo de Kyoto, que alguns países do antigo bloco da Europa do leste, como a Polônia, querem estender.