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Negociações climáticas em Doha avançam além do previsto

Em Doha (Catar)

07/12/2012 20h26

As negociações climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas) com objetivo de conter a marcha destrutiva do aquecimento global passaram do prazo nesta sexta-feira (7), quando negociadores começaram a discutir sobre o financiamento para países pobres e a ampliação da vigência do Protocolo de Kyoto.

A noite foi longa para os delegados que trabalharam com afinco nas últimas discussões para chegar a um consenso sobre um plano interino para deter as mudanças climáticas e facilitar a via para um novo acordo que precisaria entrar em vigor em 2020. 

Animação mostra negociações sobre redução da emissão de CO2

O financiamento para ajudar países pobres a lidar com os efeitos do aquecimento global e fazer a transição para fontes de energia mais ecológicas foi um importante ponto que paralisou as negociações dos quase 200 países reunidos na capital do Catar. "Não podemos encerrar [as negociações] sem finanças", disse o negociador gambiano, Pa Ousman Jarju.

Os países desenvolvidos são pressionados a demonstrar como pretendem manter a promessa de obter o financiamento climático para os países mais pobres de US$ 100 bilhões anuais até 2020, a partir de um total de US$ 30 bilhões entre 2010 e 2012. Os países em desenvolvimento dizem precisar de, pelo menos, outros US$ 60 bilhões entre agora e 2015 - a começar com US$ 20 bilhões no próximo ano - para lidar com um número maior de secas, cheias, elevação do nível do mar e tempestades causados pelo aquecimento global.

Mas os Estados Unidos e a União Europeia se recusaram a dar números precisos relativos ao financiamento entre 2013 e 2020, alegando sérios problemas financeiros. "A UE não pode aceitar um texto que inclui um compromisso de até US$ 60 bilhões de dinheiro público, considerando as restrições orçamentárias que enfrentamos", disse o ministro francês do Desenvolvimento, Pascal Canfin.

Bônus do 'hot air'

Também está em discussão o chamado hot air, nome dado ao excesso não usado das cotas de emissões de gases de efeito estufa atribuídas aos países na primeira etapa de vigência do Protocolo de Kyoto - esse bônus já chega a um total de 13 bilhões de toneladas.

Os governos donos desses créditos querem vendê-los a países que ainda lutam para atingir suas cotas - o que significa que os níveis de gases de efeito estufa vão diminuir no papel, mas não na atmosfera - ou para abater das novas metas que serão estipuladas na segunda fase de Kyoto. 

O acordo sobre o hot air é chave para que os delegados em Doha possam prorrogar o período de vigência do Protocolo de Kyoto, cujo prazo expira em 31 de dezembro. O tratado é o único pacto legalmente vinculante para cortar as emissões de gases-estufa, mas se concentra apenas em países desenvolvidos e exclui os grandes poluidores emergentes, como China e Índia - assim como os Estados Unidos, que se recusaram a ratificá-lo.

Um novo acordo para 2020, que deve ser finalizado até 2015, na cúpula em Paris, incluirá compromissos para todos os países. Também está em discussão a duração de um "segundo período de compromissos" interino após 2012.