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Rússia indicia 14 ativistas por 'pirataria em grupo', denuncia Greenpeace

Em Moscou

02/10/2013 15h34

Dos 30 ativistas do Greepeace detidos na Rússia após protesto no Ártico contra a exploração de petróleo, 14 foram acusados formalmente pelo governo por pirataria marítima nesta quarta-feira (2).

Segundo o Greenpeace da Rússia, os detidos receberam a acusação formal que pode resultar em penas de até 15 anos de prisão. Entre eles, estão a bióloga brasileira Ana Paula Alminhana Maciel, de 31 anos, e a argentina Camila Speziale.

As audiências serão retomadas na manhã de quinta-feira (3), segundo a ONG, que qualificou as acusações de absurdas e infundadas.

Entre os acusados estão também os ativistas britânicos Kieron Bryan e Anthony Perret, o russo Roman Dolgov, o sueco-estadunidense Dmitri Litvinov, a finlandesa Sini Saarela, a holandesa Faiza Oulahsen, assim como um ucraniano e um polonês, segundo informou o braço russo da organização ambiental em sua conta no Twitter.

Todos fazem parte da tripulação do navio Arctic Sunrise, que em 19 de setembro organizou um protesto junto a uma plataforma petrolífera do gigante energético Gazprom, onde vários deles se acorrentaram.

O advogado do Greenpeace, Mikhail Kreindlin, qualificou as acusações de "absolutamente infundadas, arbitrárias e ilegais".

"Nossos ativistas não tinham nenhuma intenção de se apoderar da propriedade de ninguém. Não havia nenhum ato criminoso", acrescentou.

Ivan Blokov, diretor de programas do Greenpeace, afirmou que têm intenção de recorrer ao Tribunal de direitos humanos de Estrasburgo.

Com relação a este caso, o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, pediu que os ativistas fossem castigados pelas ações ilegais nas infraestruturas energéticas.

"A preocupação pela ecologia não deve encobrir as ações ilegais, sejam quais forem os altos ideais que das pessoas implicadas", assinalou Medvedev.

O primeiro-ministro ressaltou que "as instalações de extração de petróleo e de gás são instalações de máxima segurança", por isso as autoridades não estão dispostas a permitir atos de vandalismo, atos subversivos ou atos criminosos.

Por sua parte, Anistia Internacional tachou em comunicado de "absurdas e infundadas" as acusações de pirataria.

"As autoridades russas decidiram castigar os ativistas do Greenpeace para evitar que outros realizem protestos similares no futuro", disse Sergei Nikitin, chefe da AI na Rússia, que disse que as acusações são "uma burla para o sistema judiciário russo".

A holandesa Faiza Oulahsen se mostrou abatida e nervosa pelo o que possa ocorrer, em carta que enviou a uma colega há poucos dias desde a prisão. "Não tenho nem ideia de como vai terminar tudo isto, nem quanto tempo vai durar. A incerteza está me deixandoo louca", escreveu.

Oulahsen ressaltou que "todos os fatos estão baseados em mentiras. Absolutamente tudo é arbitrário. As acusações do FSB [Serviço Federal de Segurança russo, ex-KGB] estão cheias de inexatidões e de erros (...). Não há nem um só testemunho contra nós".

Os 30 ativistas detidos procedem da Rússia, dos EUA, da Argentina, do Reino Unido, do Canadá, da Itália, da Ucrânia, da Nova Zelândia, da Holanda, da Dinamarca, da Austrália, do Brasil, da República Tcheca, da Polônia, da Turquia, da Finlândia, da Suécia e da França.

Após o protesto junto à plataforma da Gazprom em águas do mar de Barents, no Ártico russo, o navio da ONG foi detido pela guarda de fronteiras russa e rebocado até o porto de Murmansk, onde seus tripulantes foram transferidos para comparecerem perante a Justiça.

O consórcio energético russo planeja começar a produção de petróleo nessa plataforma no primeiro trimestre de 2014, o que, segundo a ONG, aumenta o risco de que haja um vazamento de petróleo em uma área que contém três reservas naturais protegidas pela própria legislação do país.