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Com 23,8 metros, maior onda do Hemisfério Sul viaja da Oceania à América

Tempestades em alto mar não são como as da terra, mas sim ciclones extratropicais - Reprodução
Tempestades em alto mar não são como as da terra, mas sim ciclones extratropicais Imagem: Reprodução

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL

11/05/2018 14h47

Cientistas da Nova Zelândia documentaram a maior onda já registrada no Hemisfério Sul, com 23,8 metros de altura. Como ocorreu próximo à Ilha Campbell, ao sul do país, os efeitos não devem chegar ao Brasil. A costa oeste dos Estados Unidos, no entanto, deve ser o destino final dessas ondas gigantes. Segundo especialista, o fenômeno na Oceania deve chegar à América do Norte em algumas semanas.

“É um evento muito empolgante, até onde temos registrado, é a maior onda já documentada no nosso hemisfério”, afirmou o oceanógrafo Tom Durrant, pesquisador do MetService (Serviço Meteorológico da Nova Zelândia) à rede britânica BBC. Sua altura de quase 24 metros é equivalente a um prédio de oito andares.

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O MetService colocou a boia oceanográfica no local em março deste ano por causa da alta incidência de tempestades tropicais. O instituto informou que a onda registrada foi efeito de uma delas.

De acordo com Durrant, como o aparelho registra ondas somente durante 20 minutos a cada três horas, é possível que ondas ainda maiores não tenham sido captadas. O recorde anterior no Hemisfério Sul era de 22,03 metros, na ilha da Tasmânia, na Austrália.

Efeitos no Brasil

Durrant falou à BBC que é provável que os surfistas da Califórnia sintam o efeito da tempestade em algumas semanas. O mesmo não pode se dizer sobre o Brasil, informa o professor Marcelo Dottori ao UOL. O especialista, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), cita a localização dos dois países.

“A Nova Zelândia fica no Oceano Pacífico, portanto, estas ondas podem viajar até a Califórnia sem barreiras continentais no caminho", afirma Dottori. "A perda de energia neste processo é mínima.”

Já o litoral brasileiro fica no Oceano Atlântico, do outro lado do continente. “Assim, a possibilidade de observarmos estas ondas geradas próximo a Nova Zelândia chegando à costa brasileira são praticamente nulas”, explica o especialista.

“Além disso, as ondas formadas bem ao sul caminham, normalmente, de oeste para leste. Por isso, na Califórnia elas podem ser observadas, mas no Japão esta possibilidade fica muitíssimo reduzida, uma vez que este fica do outro lado do Oceano Pacífico”, completa.

Entenda o fenômeno

Ricardo de Camargo, professor do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP explicou ao UOL que essas tempestades não são como as que temos em terra, mas ciclones extratropicais.

“Não são tipo estas chuvas que caem na Zona Leste e não caem na Zona Oeste, são ciclones que podem chegar a 2 mil, 3 mil quilômetros de diâmetro, por isso movimentam tanto vento”, afirma o professor.

Camargo especula que a pista de vento tenha passado exatamente em cima da boia oceanográfica responsável pelo registro. Doutor em meteorologia, ele relava que ondas desta magnitude não são tão incomuns assim, neste caso o importante é que foram registradas.

“Nós temos diversos relatos de navios que vão à Antártica e saem dessa região ou da África do Sul e, no seu diário de bordo, fala em ondas de 20 metros ou mais, mas isso não é registrado a nível de pesquisa, é apenas uma estimativa”, argumenta.