Gramados urbanos talvez não sejam tão benéficos ao ambiente, aponta estudo
Os imensos gramados verdes no meio das cidades, embora sejam bonitos e pareçam melhorar o ar urbano, nem sempre beneficiam o meio ambiente. É o que sugere um estudo publicado nesta quinta-feira (11) na revista Science.
Segundo a pesquisa, em regiões áridas, a irrigação dos gramados urbanos pode consumir até 75% do volume anual de água das residências. Além disso, o uso de produtos para o cultivo pode contaminar as águas subterrâneas. A solução, nesses casos, poderia ser incentivar vegetações naturais das cidades e mudar a abordagem sobre as áreas verdes urbanas.
No estudo, os pesquisadores Maria Ignatieva, da Universidade da Austrália Ocidental, e Marcus Hedblom, da Universidade Sueca de Ciências Agrárias, avaliaram a sustentabilidade de utilizar gramados em ambientes urbanos.
“Os ‘tapetes verdes’ urbanos convencionais são amplamente defendidos como tendo muitos benefícios ambientais e sociais por planejadores, designers e políticos. No entanto, com a rápida urbanização e os impactos causados pelas mudanças climáticas, os aspectos negativos e controversos dos gramados altamente gerenciados entraram no foco público”, afirmam os pesquisadores no estudo.
Entre os possíveis benefícios dos gramados estão: produção de oxigênio, sequestro de carbono, redução do escoamento da água, aumento da infiltração, mitigação da erosão do solo, entre outros.
No entanto, Ignatieva e Hedblom alertam que esses impactos ainda não foram devidamente estudados. “Embora os gramados estejam se espalhando, suas propriedades receberam pouca atenção da comunidade científica em comparação com árvores urbanas ou qualquer outro tipo de área verde”, dizem.
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Em países como Suíça, os gramados ocupam 52% de toda a área verde. Nos Estados Unidos, cobrem 1,9% de todo o território. Os gramados cobrem 23% das cidades de todo o mundo, o que correspondera uma área superior aos territórios da Inglaterra e da Espanha juntos.
Nos Estados Unidos, esses tapetes verdes são a maior área de cultivo não alimentício a receber irrigação. Em Perth, na Austrália, o volume anual de água utilizada na irrigação pode chegar a 73 bilhões de litros.
Outra preocupação é a contaminação das águas subterrâneas devido a utilização de fertilizantes, pesticidas e herbicidas no cultivo. Segundo o estudo, em 2012, o setor de jardinagem dos Estados Unidos utilizou 27 milhões de quilos de pesticidas.
“O efeito positivo do sequestro de carbono na pegada climática desses grandes gramados gerenciados se mostrou anulado pelas emissões de gases de efeito estufa resultantes das operações de cultivo, tais como corte, irrigação e fertilização”.
Segundo os autores, para além dos supostos benefícios dos gramados na composição urbanística das cidades, seus efeitos são majoritariamente estéticos e recreativos. Nesse sentido, é comum escolher espécies específicas de gramas que atendam a esses objetivos estéticos, que não necessariamente são espécies nativas da região. Em alguns locais, certas espécies de gramíneas já se tornaram invasivas. A escolha por determinados tipos de gramas, segundo os pesquisadores, é cultural, e remonta séculos passados.
“No século 17, o papel dos gramados aumentou nas áreas decorativas dos jardins geométricos. Por exemplo, na icônica Versalhes francesa, a grama verde curta era perfeitamente misturada com a ideologia do poder do homem sobre a natureza”, afirma o texto. “No início do século 21, os gramados verdes perfeitos tornaram-se parte dos países não ocidentais como aceitação do estilo de vida e da cultura ocidentais ideais”.
O estudo, então, propõe um novo pensamento acerca da implementação desses gramados, no qual se aceite a existência das gramíneas silvestres e com maior diversidade de espécies. Um exemplo é encontrado em Berlim, na Alemanha, onde a vegetação espontânea é aceita como ferramenta fundamental de paisagismo. No Reino Unido e na Suécia, pesquisas já mostraram o desejo dos cidadãos em mudar o gramado monótono por um ambiente mais diversificado.
“O gramado sem grama (grass-free lawns, em inglês) é um dos movimentos mais recentes em ambas as nações e é baseado no uso de plantas herbáceas nativas de baixo crescimento (na Suécia) ou nativas e exóticas (no Reino Unido) sem o uso de gramíneas. O objetivo é criar um tapete denso, biodiverso e de baixa manutenção, que pode ser usado para recreação”.
Novas alternativas para uma estética urbana ao mesmo tempo recreativa e sustentável integram o que os pesquisadores chamam de uma natureza “selvagem”, em oposição à natureza “obediente”, em que sejam levados em consideração os aspectos geográficos, culturais e sociais do local.
“Criar uma nova norma ecológica requer demonstrações, educação pública e a introdução de soluções de design ‘comprometidas’. Assim, um desafio crucial é em acelerar a compreensão das pessoas sobre alternativas sustentáveis e a aceitação de uma nova estética da vegetação no planejamento e design urbanos”, finaliza.
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