Bolsonaro manda PF investigar relatos de incêndios criminosos no Pará
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou hoje que a Polícia Federal vai apurar fatos narrados em reportagem da revista Globo Rural, da Editora Globo, sobre o chamado "dia do fogo" --queima de pasto e áreas em processo de desmate na região de Altamira, no Pará.
A ação criminosa teria sido orquestrada e executada por fazendeiros do entorno da BR-163. O caso já era investigado pelo MPF-PA (Ministério Público Federal no Pará) desde a semana passada, mas o Executivo ainda não havia emitido posicionamento. Segundo Moro, a apuração foi ordenada hoje pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), após a publicação da reportagem da Globo Rural.
O ministro disse que Bolsonaro exigiu uma "apuração rigorosa". "Incêndios criminosos na Amazônia serão severamente punidos", completou ele em mensagem publicada no Twitter.
A decisão de abrir a investigação no âmbito da PF ocorre duas semanas após a data marcada para o "dia do fogo" (10 de agosto).
No dia 14, reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que, após o anúncio da ação criminosa, o número de queimadas disparou na região Sul do Pará. Em Altamira, que tem parte do território na área de influência da BR-163, o salto foi de 743%.
O "dia do fogo" foi revelado em 5 de agosto pelo jornal "Folha do Progresso", do município de Novo Progresso (PA). De acordo com a publicação, os produtores se sentem "amparados pelas palavras do presidente". O objetivo, segundo um dos líderes ouvidos sob anonimato, seria declarar apoio ao presidente em seus planos de afrouxar a fiscalização do Ibama.
Também pelo Twitter, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, confirmou a investigação acerca dos fatos relacionados ao "dia do fogo".
Até o momento, no entanto, nem o Palácio do Planalto nem os respectivos ministérios esclareceram como será o trabalho de apuração da PF.
Nas redes sociais, bolsonaristas têm compartilhado a reportagem do "Globo Rural" no intuito de fortalecer o discurso do presidente de que os incêndios na Amazônia seriam criminosos. Contudo, a própria matéria ressalta que o "dia do fogo" foi articulado por fazendeiros alinhados ideologicamente ao governo.
Na última quarta (21), Bolsonaro declarou, sem provas, que as ONGs (organizações não governamentais) poderiam estar por trás das queimadas.
"Pode estar havendo --não estou afirmando-- ação criminosa desses ongueiros para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos. Vamos fazer o possível e o impossível para conter esse incêndio criminoso."
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