Topo

Sarney Filho diz que "sinais" de Bolsonaro favorecem desmatamento

Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Do UOL, em São Paulo

26/08/2019 09h40

Ministro do Meio Ambiente no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999 a 2002) e no governo Michel Temer (2016 a 2018), José Sarney Filho (PV) disse, em entrevista ao jornal "Valor Econômico", que a postura de Jair Bolsonaro em relação ao tema favorece o desmatamento na Amazônia.

Dizendo que as "falas são piores que as ações", José Sarney Filho comentou sobre a crise global relacionada ao tema e disse que os sinais emitidos pelo Governo e pelo presidente têm reflexos práticos no desmatamento.

"Já é difícil conter o desmatamento com todos os órgãos funcionando adequadamente. À medida que o presidente fragiliza esses órgãos, ele fortalece o grileiro, o pecuarista ilegal, dando sinal verde para que tudo isso possa acontecer. Bolsonaro prejudica mais a política ambiental pelas suas falas do que pelas ações. As ações são ruins, mas as falas são piores", disse José Sarney Filho, que atualmente exerce o cargo de secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal.

"Os sinais, na questão do combate ao desmatamento, são muito importantes. Se o próprio presidente dá sinais de desconstrução da política ambiental, ele incentiva o desmatamento, com todas as suas consequências", completou.

Sem citar nomes, José Sarney Filho ainda criticou a equipe que auxilia Bolsonaro em relação ao meio ambiente." Não gosto de citar nomes, mas Bolsonaro está cercado de conselheiros atrasados, ignorantes e, alguns deles, com interesse na ilegalidade. Ele ouve opiniões e reproduz uma série de ideias malucas, colocando o Brasil em situação vexaminosa. São pessoas que não têm tradição na área ambiental. Querem tirar proveito imediato de tudo. Estão chefiando postos-chave. São pessoas que não representam ninguém, não têm conhecimento técnico, mas feeling de negociante do século passado", disse.

José Sarney Filho ainda citou duas ações do atual governo como indicativos de que poderia haver aumento de desmatamento: o questionamento a órgãos como o Ibama e a diminuição de recursos.

"Desde que o novo governo começou a dar declarações que fragilizaram a política de comando e controle ambiental eu já previa que o desmatamento iria ficar desenfreado, como de fato está. A relação entre queimadas e desmatamento é muito clara na Amazônia: dificilmente os incêndios são espontâneos; a grande maioria é criminosa", disse.

"O fato de os dez maiores municípios desmatadores também terem focos de incêndio dá conta desta vinculação direta. Quando o governo questiona o próprio Ibama, sinaliza que multas podem ser revistas, minimiza as unidades de conservação e prega a mineração e o plantio de soja em terras indígenas, ele fragiliza todo o pilar da política ambiental. Além disso, diminuiu recursos", completou.