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Óleo cru atinge litoral de oito estados no Nordeste e mata animais marinhos

Manchas vistas em praias do litoral de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte - Reprodução/Instagram
Manchas vistas em praias do litoral de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte Imagem: Reprodução/Instagram

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

25/09/2019 22h30

O litoral de oito estados do Nordeste já está afetado com manchas de óleo cru, que começaram a surgir no inicio do mês em praias de Pernambuco. Em poucos dias, a substância se espalhou e, segundo o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), 46 municípios, com 99 localidades, estão atingidos. Nove animais marinhos apareceram sujos com a substância e seis morreram. Até agora não se sabe o responsável pelo despejo irregular do material no mar.

Dos nove estados do Nordeste, apenas a Bahia ainda não registrou a presença das manchas no litoral. O óleo cru foi detectado primeiro em trechos das praias de Boa Viagem, na zona Sul de Recife (PE), Piedade, em Jaboatão dos Guararapes (PE), e Del Chifre, em Olinda (PE).

Em seguida, banhistas observaram a presença da substância nas praias do Cupe e Gamboa, em Ipojuca (PE), e de Tamandaré (PE). No mesmo período, manchas foram encontradas nas praias do Bessa e de Manaíra, em João Pessoa (PB), e Jacumã, no Conde (PB). Dias depois, o óleo se espalhou para o Rio Grande do Norte e Alagoas, por fim chegando ao Ceará, Piauí e Maranhão.

A substância apareceu nas praias poucos dias depois de um vazamento de cinco metros cúbicos de óleo e água na estação de tratamento de despejos industriais da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca (PE), na região metropolitana do Recife. O vazamento ocorreu no dia 26 de agosto. Entretanto, a Semas (Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade) e a Petrobras negam que o material despejado no mar tenha relação com o derramamento de óleo da refinaria.

Sem origem

Apesar de a substância ter sido identificada como petróleo cru, as autoridades ainda não descobriram a origem e o responsável pelo despejo do material no mar.

O Ibama investiga as causas e responsabilidades em conjunto com o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, Marinha do Brasil e Petrobras. Segundo a análise da Marinha e da Petrobras, a substância não se origina de nenhum derivado do petróleo. A Petrobras informou que o óleo encontrado não é produzido pelo Brasil.

"Análise realizada em amostras coletadas em praias do Nordeste indicou que o material encontrado não é produzido nem comercializado pela Petrobras. Desde o dia 12, a Petrobras vem realizando, por solicitação do Ibama, limpeza de praias que apresentaram manchas de óleo nos últimos dias, nos estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte ", informou a Petrobras.

A empresa disse que está disponibilizando o contingente de mais de 100 pessoas para o serviço.

Impactos ambientais

Analistas do Ibama que estavam no Rio Grande do Norte analisaram que a situação no estado é estável, até o momento, e as equipes foram deslocadas para o Maranhão. "Por isso, o grupo de comando foi transferido de lá para o Maranhão, onde estão chegando novos vestígios de óleo. O Ibama continuará acompanhando as ações de limpeza no litoral potiguar", informou.

Ativistas ambientais estão preocupados com o impacto ambiental, pois, manchas de óleo foram encontradas em praias de desovas de tartarugas marinhas e santuários de golfinhos, como a praia da Pipa, em Tibau do Sul (RN). Há registros do óleo na Ilha dos Poldros, na Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba, na divisa entre o Piauí e o Maranhão. A substância já atingiu os Lençóis Maranhenses (MA).

Um vídeo divulgado em redes sociais, feito pelo estudante Júlio Derazani, mostra que a poluição causada pelo derramamento de óleo na praia de Itatinga, em Alcântara (MA), afetou animais marinhos. Ele encontrou uma tartaruga agonizando, com dificuldade de respirar, em meio as manchas de óleo no último domingo (22). O animal foi lavado com água do mar, sabão em pó e areia e, depois, devolvido ao mar vivo .

Oficialmente, nove animais marinhos, sendo oito tartarugas e uma ave conhecida como bobo-pequeno, apareceram sujos com a substância. Três tartarugas apareceram mortas nas ilhas de Cocaia, no Cabo de Santo Agostinho (PE), e dos Poldros, no Delta do Parnaíba (MA). O local onde os outros três animais mortos com o óleo foram encontrados não foi informado pelo Ibama.

"Entre os animais recolhidos, uma tartaruga-marinha foi devolvida ao mar por populares e uma tartaruga-oliva foi encaminhada com vida ao Projeto Cetáceos da Costa Branca para reabilitação, ambas no Rio Grande do Norte. No Maranhão, uma das tartarugas oleadas encontradas estava viva e foi devolvida ao mar por populares. Os demais animais encontrados estavam mortos ou morreram posteriormente", informou o Ibama.

O Ibama afirmou que até agora "não há evidências de contaminação de peixes e crustáceos" com o óleo despejado no mar no Nordeste. Segundo o instituto, a avaliação da qualidade do pescado capturado nas áreas afetadas para consumo humano é competência dos órgãos de vigilância sanitária.

"Banhistas e pescadores não devem ter contato com o material. Caso seja identificado produto no mar ou nas praias, o cidadão deve informar o local à prefeitura. O óleo recolhido deve ser destinado adequadamente, não sendo recomendado misturá-lo com o resíduo comum", orienta o instituto.

O Instituto orienta que, em caso de localização de animal atingido com óleo, os órgãos ambientais devem ser acionados imediatamente para tomar providências necessárias. O animal não deve ser lavado nem devolvido ao mar antes da avaliação de médico veterinário.