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Às vésperas de leilões, petróleo em praias mostra despreparo do país, diz Greenpeace

Segundo a Adema (Administração Estadual do Meio Ambiente), esta é a maior concentração da substância já encontrada nos nove estados nordestinos afetados pelo derramamento de petróleo cru desde setembro - Divulgação/Adema
Segundo a Adema (Administração Estadual do Meio Ambiente), esta é a maior concentração da substância já encontrada nos nove estados nordestinos afetados pelo derramamento de petróleo cru desde setembro Imagem: Divulgação/Adema

Marta Nogueira

Rio de Janeiro

07/10/2019 19h27

O Brasil tem mostrado demora para reagir e evitar danos causados por um petróleo ainda de origem misteriosa que atinge há mais de um mês várias praias do Nordeste, afirmou hoje à Reuters o porta-voz do Greenpeace para assuntos de clima e energia Thiago Almeida.

O cenário é "extremamente preocupante", disse Almeida, já que o país se prepara para realizar três grandes leilões de áreas exploratórias de petróleo em um mês e tem buscado meios de acelerar os investimentos no setor, como uma forma de estimular a tão abalada economia brasileira.

"Claramente a União não está preparada para responder a um derramamento... É extremamente preocupante que é esse mesmo governo que está leiloando mais de 2 mil blocos pelo Brasil todo", afirmou Almeida, em uma entrevista por telefone.

Entre outubro e o início de novembro, o Brasil realizará três leilões de áreas de petróleo e gás, sendo dois com foco em ativos no pré-sal. Na próxima quinta-feira, está prevista a 16ª rodada de licitação de áreas sob regime de concessão. Depois, o país realizará em 6 de novembro o leilão do petróleo excedente da região da cessão onerosa. No dia seguinte, o governo faz a 6ª rodada do pré-sal.

"O governo nem mesmo conseguiu identificar a origem e encontrar os responsáveis, e a gente vê aí as manchas de óleo afetando animais marinhos, praias, pessoas, turismo e a economia dessas regiões."

De acordo com mapa divulgado no domingo à noite pelo Ibama, o óleo já se espalha pelas costas de Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, onde chegaram mais recentemente.

Nesta segunda-feira, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que equipes dos órgãos ambientais Ibama e ICMBio recolheram mais de 100 toneladas de borra de petróleo no litoral do Nordeste desde o início de setembro.

Acionada pelo governo para auxiliar nas investigações, a Petrobras informou que o petróleo encontrado nas praias é cru e não foi produzido em território brasileiro.

Depois disso, várias especulações surgiram no mercado sobre qual poderia ter sido a origem do vazamento.

"É muita informação desencontrada, muita falta de informação. Quem deveria ter essas respostas e já demorou mais de um mês é o governo", disse Almeida, ressaltando que há meios científicos para buscar a origem desse petróleo e entender melhor o que aconteceu.

Ele evitou falar sobre hipóteses sobre a origem do petróleo, que aparece nas praias do Nordeste há mais de um mês.

Em um raro comentário público sobre o caso, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse hoje que uma investigação está em curso para determinar a origem do petróleo.

Depois de uma reunião com as Forças Armadas e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que participou por videoconferência de Aracaju, Bolsonaro disse ainda que o petróleo "não parece vir de uma plataforma" e pode ser criminoso ou de algum navio afundado.

Procurado, o Ministério de Meio Ambiente não comentou o assunto imediatamente.