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Preocupação após anúncio de retirada dos EUA do Acordo de Paris

BRENDAN SMIALOWSKI/AFP
Imagem: BRENDAN SMIALOWSKI/AFP

Da AFP

05/11/2019 18h10

Os Estados Unidos oficializaram sua decisão de se retirar do Acordo de Paris sobre o clima, causando preocupação nesta terça-feira (5) à União Europeia, China e Rússia.

"Hoje, os Estados Unidos iniciam o processo de retirada dos acordos de Paris. Conforme os termos do acordo, os Estados Unidos submeteram uma notificação formal de sua retirada às Nações Unidas. A retirada será efetiva um ano após a notificação", declarou o secretário de Estado, Mike Pompeo, na segunda-feira.

Na prática, os Estados Unidos não poderão concretizar sua saída antes de 4 de novembro de 2020, o dia seguinte da eleição presidencial americana, na qual Trump aspira a um segundo mandato.

Pompeo invocou novamente "a injusta carga econômica imposta aos trabalhadores, corporações e contribuintes americanos pelos compromissos assumidos pelos Estados Unidos em virtude do acordo".

Também prometeu que Washington continuaria "propondo um modelo realista e pragmático nas negociações internacionais sobre o clima".

"Como no passado, os Estados Unidos continuarão promovendo a pesquisa, inovação e crescimento econômico enquanto reduz as emissões e se comunica com (seus) amigos e sócios no mundo todo", indicou Pompeo.

Reação internacional

As reações internacionais a esta retirada não se fizeram esperar: a União Europeia (UE) se disse disposta a "reforçar a cooperação" com as outras partes do Acordo de Paris e insistiu em que as bases do pacto são "sólidas".

"O Acordo de Paris tem bases sólidas e está aqui para ficar. A UE e seus sócios estão dispostos a reforçar a cooperação com todas as partes para aplicá-lo", tuitou o comissário europeu de Ação para o Clima, Miguel Arias Cañete.

A China, primeiro emissor mundial de gases de efeito estufa, afirmou que lamentava esta decisão.

"Esperávamos que os Estados Unidos demonstrasse uma maior responsabilidade e que contribuísse mais no processo de cooperação multilateral, em vez de adicionar mais energia negativa", indicou à imprensa um porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang.

Esta reação do governo chinês coincide com a assinatura, na quarta-feira em Pequim, de um documento conjunto sobre o clima por parte do presidente Xi Jinping e do mandatário francês, Emmanuel Macron, que está de visita oficial no país.

A saída dos Estados Unidos do acordo "torna ainda mais necessária a associação franco-chinesa sobre o clima e a biodiversidade", declarou por sua parte o governo francês.

Um porta-voz do Kremlin também lamentou este "golpe sério" ao acordo. "Sem a maior economia do mundo, é difícil falar de acordo climático", disse.

Eleições

ONGs e especialistas criticaram a decisão do segundo país que mais emite gases de efeito estufa.

"O abandono do Acordo de Paris é uma abdicação de liderança, à qual se opõem a maioria dos americanos", declarou Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, que financia uma grande campanha a favor de fechar as usinas a carvão e contra os candidatos que se opõem às ações a favor do meio ambiente.

A decisão de Trump não criou um efeito dominó que muitos temiam em países como Austrália e Brasil. Pelo contrário, levou muitos atores não federais nos Estados Unidos a se comprometerem com o meio ambiente, desde o Partido Democrata até grandes cidades e empresas privadas.

Muitas entidades se comprometeram voluntariamente a alcançar um balanço de carbono neutro antes de 2050 ou a passar a um sistema que seja 100% baseado nas energias renováveis.

Finalmente, o Acordo de Paris não sucumbiu, e além disso foi reforçado pelas mobilizações globais de jovens que começaram há um ano.

Por outro lado, o resultado das eleições de 2020 nos Estados Unidos poderia ser mais determinante. "Se houver outro governo de Trump por quatro anos, as consequências vão ser muito, mas muito diferentes", disse à AFP David Levaï, do centro de estudos Iddri.

Todos os pré-candidatos democratas que buscam enfrentar Trump nas eleições se comprometeram a voltar ao pacto, o que poderiam fazer se algum deles chegar à Casa Branca em 20 de janeiro de 2021.

"Esta decisão é um insulto para a humanidade e uma vergonha para nosso país", disse o Comitê Nacional do Partido Democrata.