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Autor de estudo citado pelo governo diz que pesca não está liberada no NE

Pescadores catam sardinhas na praia da Espera em Itacimirim, na Bahia; chegada do óleo e a incerteza sobre os efeitos nos peixes e frutos do mar têm afetado a venda de pescados na região - Raul Spinassé/Folhapress
Pescadores catam sardinhas na praia da Espera em Itacimirim, na Bahia; chegada do óleo e a incerteza sobre os efeitos nos peixes e frutos do mar têm afetado a venda de pescados na região Imagem: Raul Spinassé/Folhapress

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

12/11/2019 04h01

Resumo da notícia

  • Ministério da Agricultura usou estudo da PUC-Rio para dizer que consumir peixe do NE é seguro
  • Um dos autores da pesquisa diz que 'não é bem assim'
  • Estudo se limita a 21 amostras de pescados embalados para consumo

O ministério da Agricultura afirmou ontem, com base em estudo da PUC-Rio, que amostras de peixes coletadas em áreas atingidas por óleo estão "próprias para o consumo". Mas o professor Renato Carreira, coordenador do laboratório que participou da pesquisa, afirma que os dados não permitem dizer que a pesca esteja liberada, nem que não haja animais contaminados.

Os pesquisadores analisaram 21 amostras de peixes e lagostas coletados em Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O resultado de 12 dessas amostras já foi divulgado —- o que resultou na nota do ministério —, e conclusões sobre as outras 9 são aguardadas para amanhã.

"Nunca, em momento algum nosso laudo serve para dizer que a pesca está liberada", diz ao UOL o pesquisador, que trabalhou com mais nove pessoas no estudo.

"[A forma como eles divulgaram o estudo] pode levar a interpretação que não é a que eu acho mais correta", afirma.

No acordo firmado entre a universidade e o ministério, ficou estabelecido que o estudo ficaria a cargo do laboratório, enquanto a divulgação seria competência exclusiva da pasta.

"A gente fez um retrato, um primeiro esboço de divulgar níveis de contaminantes. Fizemos isso sem cobrar, como um esforço para divulgar a qualidade do pescado", diz o pesquisador.

Manchas de óleo chegam ao Sudeste

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Estudo não abrange 'pesca artesanal'

O estudo avaliou os níveis de contaminação nas amostras por HPAs (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos), elemento presente no petróleo e nocivo à saúde.

Os peixes coletados vieram de estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF), ou seja, pertencem ao segmento da pesca industrial. A pesca artesanal e recreativa não foi contemplada pelo estudo.

"Isso é uma primeira informação dentro de uma escuridão total", diz o pesquisador da PUC-Rio.

Na última semana de outubro, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) realizou uma pesquisa com 50 animais marinhos. Foram detectados metais pesados em todos eles.

A análise do laboratório da PUC-RJ foi feita em peixes e lagostas embalados para consumo.

Carreira ainda alerta para as consequências na vida marinha da região a longo prazo.

"É compreensível a preocupação com a qualidade do pescado para consumo, porque há pescadores em situação econômica crítica e impacto sobre o turismo. No entanto, outra face que pouco se fala é o impacto de longo prazo da presença do óleo na região. Animais e vegetais expostos a concentrações pequenas, mas por longo período, podem levar a bioacumulação de compostos em animais como golfinhos e tartarugas", destaca.