Manchas de óleo e restos de borracha reaparecem em praias do Nordeste
Manchas de óleo voltaram a aparecer nas praias de Alagoas e Pernambuco no último final de semana. Além do material poluente, fardos de borracha também surgiram hoje em Maceió.
Segundo a Marinha, fragmentos de óleo apareceram em Alagoas nas praias de Lagoa do Pau, no município de Coruripe, e da Lagoa Azeda, em Jequiá da Praia. Também há relatos de manchas de óleo em Japaratinga.
Em Pernambuco, foram identificadas manchas de óleo nas praias do Cupe e de Muro Alto, em Porto de Galinhas, em Ipojuca e em Tamandaré. O material foi encontrado no primeiro dia que as praias do estado foram abertas após a pandemia do novo coronavírus.
Segundo o governo pernambucano, as primeiras avaliações técnicas apontam que o material encontrado em uma das praias é proveniente de manchas de petróleo que atingiram o litoral do Nordeste no ano passado, naquele que é tido como o maior desastre ambiental da história do país.
Ainda de acordo com o governo, este material teria ficado sedimentado no leito ou preso em corais, chegando às areias das praias devido a uma "combinação de fatores meteorológico".
"Nos últimos cinco dias, essa região registrou marés de sizígia, que geram grandes variações, uma maior intensidade das correntes marítimas devido à época do ano e a chegada de um Swell com ventos acima de 20 nós."
Além das manchas citadas, fardos de borracha de origem desconhecida apareceram na praia de Riacho Doce, em Maceió. O item é semelhante a outros fardos que encalharam em estados do Nordeste no ano passado após o derramamento de óleo.
No ano passado, amostras do material foram enviadas pela Polícia Federal de Alagoas para serem analisadas pelo setor técnico-científico da PF na Paraíba, em uma tentativa de identificar a origem e o tipo do material.
No entanto, a investigação realizada em 2019 não conseguiu apontar o responsável pelos fardos, identificando apenas que eles são compostos por látex, em sua denominação RSS (Ribbed Smoke Sheets). A substância é matéria-prima utilizada pela indústria para produção de pneus, preservativos, luvas de proteção, entre outros.
Pesquisadores do Labomar (Instituto de Ciências do Mar) da UFC (Universidade Federal do Ceará) afirmaram, no ano passado, que os fardos são do navio cargueiro alemão Rio Grande, afundado durante a Segunda Guerra Mundial.
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) informou que o recolhimento das manchas de óleo e dos fardos de borracha, assim como a destinação, ficarão sob responsabilidade dos municípios em que o material apareceu.
A Capitania dos Portos de Alagoas informou que uma equipe de Inspeção Naval realizou a limpeza nas praias atingidas pelo óleo e coletou amostra do material para análise no IEAPM (Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira), no Rio de Janeiro.
Equipes da Semas (Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade), da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco, representantes da Capitania dos Portos de Pernambuco e do Ibama estiveram nas praias de Tamandaré, Cupe e Muro Alto para verificar o caso.
A Semas e a CPRH orientou que municípios atingidos recolham os fragmentos, acondicionem o material em tonéis e enviem para aterros industriais ou destinem à reciclagem.
Fato preocupa especialistas
ONGs que monitoram o litoral nordestino estão preocupadas com o surgimento do óleo devido ao desastre ambiental ocorrido nas praias do Nordeste no ano passado. Na ocasião, o derramamento de óleo atingiu praias de todos os estados da região, além do Espírito Santo.
A ONG Salve Maracaípe ressaltou que está preocupada com o surgimento de novas manchas, uma vez que o meio ambiente não se recuperou do derramamento ocorrido em 2019 (confira imagens do caso no álbum abaixo).
O biólogo Bruno Stefanis, do Instituto Biota, que monitora a vida de tartarugas marinhas em Alagoas, observa que o surgimento do óleo e dos fardos ocorreu "depois de evento climático atípico, como ressaca do mar", e que a Marinha havia feito um alerta que ocorreriam ventos fortes, com intensidade de até 60 quilômetros por hora, da Bahia até o Rio Grande do Norte entre os dias 16 e 19 de junho.
"Não sabemos [se o surgimento das manchas] está associado, mas teve esse alerta da Marinha", explicou Stefanis.
Já o biólogo Cláudio Sampaio argumenta que é necessário, primeiramente, fazer uma análise do óleo que surgiu nas praias para saber se ele tem a mesma origem do material que atingiu o litoral no ano passado.
"É muito difícil falar sem ter o mínimo de informação do volume que está chegando, do aspecto. Pode ser um óleo que foi soterrado pela dinâmica da praia, as ondas levantam sedimento, areia, recobriram o óleo e ele ficou imobilizado. Depois, com as fortes ondas e com toda essa movimentação de água, ele acaba aparecendo de novo na praia. O primeiro passo é examinar se é o óleo mesmo que apareceu ano passado. A partir daí a gente precisa começar a discutir medidas de limpeza e saúde coletiva", explica Sampaio, que é professor dos cursos de biologia e engenharia de pesca, coordenador do Laboratório de Ictiologia e Conservação da Ufal (Universidade Federal de Alagoas).
Já sobre os fardos, Sampaio afirma que o aparecimento dos cubos de borracha estão associados a ventos do quadrante leste-sul e as fortes ondas. O biólogo aproveitou para criticar a falta de conclusão das investigações conduzidas pelas autoridades para identificar o que teria provocado o enorme vazamento no litoral do Nordeste no ano passado.
"Provavelmente, o que estava boiando próximo às praias foi suspendido pela ação das ondas e dos ventos", explica o professor, afirmando que "é triste ocorrerem tantos problemas e a gente não ter políticas claras de combate à poluição e de apoio às instituições que produzem ciência."
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