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Pantanal passa de 16 mil focos de incêndio, pior nº já registrado pelo Inpe

Fogo atinge vegetação próxima à Rodovia Transpantaneira, no Pantanal de Mato Grosso - Mauro Pimentel/AFP
Fogo atinge vegetação próxima à Rodovia Transpantaneira, no Pantanal de Mato Grosso Imagem: Mauro Pimentel/AFP

Do UOL, em São Paulo

22/09/2020 20h22Atualizada em 22/09/2020 21h32

O Pantanal ultrapassou a marca de 16 mil focos de incêndio em 2020, o maior número de queimadas desde 1998, quando o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a registrar os dados. Até ontem, data da última atualização, o bioma somava 16.119 focos.

Comparado com os 12 meses de 2005 (12.536), o pior ano da série histórica até então, o número de focos acumulados em 2020 já é 28,6% maior. Em relação ao ano passado inteiro (10.025), a situação é ainda mais grave: houve aumento de 60,8% — tudo isso em menos de nove meses.

Em 21 dias, o mês já superou todos os setembros desde 1998. Já são 5.966 focos de incêndio identificados pelo Inpe neste mês, superando setembro de 2007 (5.498), pior período da série histórica.

Em meio aos incêndios, a fauna nativa — uma das mais diversas do mundo, com 1.200 espécies diferentes de animais, 36 ameaçadas de extinção — é a que mais sofre. Onças, cobras, macacos, cobras e até jacarés povoam as imagens do desastre ambiental causado pelo fogo. O biologista Rogério Rossi, da Universidade Federal do Mato Grosso, afirma que no mínimo mil animais já morreram queimados.

O bioma tem batido recordes atrás de recordes de incêndios este ano e a reação começou tarde. Foi só em agosto que o governo federal tentou organizar uma reação e enviou aviões e brigadistas para combater os incêndios.

O fogo já destruiu 15% da região, com 2,3 milhões de hectares no que é a maior área úmida do mundo. O fogo já destruiu um refúgio de araras azuis, animal em extinção, e chegou às áreas de proteção de onças pintadas.

Em entrevistas, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), e o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atribuem o desastre na região a uma combinação de fatores que seriam quase um acaso: uma seca mais forte que anos anteriores e um acúmulo de vegetação seca, que pegaria fogo mais facilmente.

A Polícia Federal, no entanto, investiga cinco fazendeiros da região por suspeita de terem iniciado propositalmente o fogo em zonas remotas, dentro de áreas de proteção ambiental, com objetivo de expandir as áreas de pastagem. Os cinco são donos de áreas onde os incêndios começaram.

"Apologia ao crime"

Jair Bolsonaro - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Mais cedo, a ex-presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Suely Araújo, criticou a narrativa negacionista adotada por Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Para ela, o tom está na origem do aumento do desmatamento verificado em 2020 e não ajuda a resolver o problema.

"A narrativa que se expressa com maior força é a que questiona os órgãos ambientais, a legislação, questionam-se as multas... Quando o presidente, o ministro [Ricardo] Salles e outras autoridades assumem esse discurso, há uma espécie de 'liberou geral' e aumenta o número de infrações ambientais. É quase uma apologia ao crime", disse Suely à CNN Brasil.

Ela avalia que houve um enfraquecimento dos órgãos ambientais sob o governo Bolsonaro, com problemas orçamentários e uma situação "bastante problemática". Independentemente do que diz o presidente, acrescentou Suely, os números comprovam a gravidade da realidade brasileira.

"Não adianta negar o problema, porque ele não vai se resolver, e nem ameaçar as fontes de dados, como o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]", afirmou, fazendo referência às críticas do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) ao instituto. "O problema vai ser resolvido quando o governo atuar para a implementação correta da política e da fiscalização ambiental."

*Com Reuters