Mourão diz haver 'opositor' no Inpe que divulga dados ruins sobre queimadas
Sem citar nomes ou apresentar provas, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) sugeriu hoje que há "alguém" da oposição no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que seria o responsável por divulgar dados negativos sobre as queimadas no país.
"É alguém lá de dentro que faz oposição ao governo. Eu estou deixando muito claro isso aqui. Quando o dado é negativo, o 'cara' vai lá e divulga. Quando é positivo, não divulga", disse o general a jornalistas, na entrada do prédio da Vice-Presidência. Quando questionado sobre quem seria esse opositor, Mourão desconversou: "Não sei, não sou diretor do Inpe".
Os dados sobre queimadas no país, na verdade, são públicos e estão disponíveis em uma página especial do Inpe na internet. Os números são alimentados diariamente, gerando relatórios automáticos sobre os focos em todos os biomas do país, o crescimento nos últimos cinco dias e a comparação com o mesmo período do ano anterior.
É possível ter dados nacionais, por estado e por bioma. Também é possível consultar os municípios com maior número de focos de incêndio.
Neste momento, os dados do Inpe mostram 133.974 focos de incêndio acumulados em todo país entre 1º de janeiro e 14 de setembro, um aumento de 13% em relação ao ano passado. Só na Amazônia estão 64.498 desses pontos de queimadas.
Os números deste mês mostram ainda uma aceleração nas queimadas. Até 14 de setembro de 2019, o Inpe registrou 11.003 focos acumulados na Amazônia; em 2020, nos mesmos 14 primeiros dias do mês, já são 20.485 — um aumento de 86%.
210% mais incêndios no Pantanal
Só no Pantanal, os incêndios aumentaram 210% neste ano em comparação com o mesmo período de 2019, segundo relatório publicado ontem pelo Inpe. Entre 1º de janeiro e 12 de setembro, o número de focos de calor chegou a 14.489, contra 4.660 em 2019.
Mesmo a três meses do fim de 2020, esse já é o ano com o maior índice de queimadas para o bioma. O recorde anterior era de 2005, quando foram registrados 12.536 incêndios, sendo que os números começaram a ser medidos em 1998.
A situação é tão grave que levou o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), a decretar situação de emergência. Ao menos 79 municípios do estado e 1,4 milhão de hectares foram atingidos, incluindo áreas de proteção ambiental e de preservação permanente.
*Com ANSA, Estadão Conteúdo e Reuters
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