Em recado a Bolsonaro, Barroso critica realidade paralela no meio ambiente
Ao encerrar uma audiência sobre políticas ambientais, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso criticou o que chamou de "realidade imaginária paralela" no enfrentamento da questão ambiental no Brasil e disse que o setor precisa de diagnósticos baseados em fatos.
A declaração do ministro aconteceu na tarde de hoje, horas depois da fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), que, com dados imprecisos e mentiras, afirmou que o país é vítima de uma campanha de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.
"Para resolvermos os nossos problemas, nós precisamos fazer diagnósticos corretos e não criar uma realidade imaginária paralela", afirmou o ministro.
Barroso não deu exemplos do que considera "realidade imaginária" e não citou o presidente da República em nenhum momento.
"Nós procuramos conhecer os fatos e as diferentes perspectivas que o debate envolve, o mundo comporta múltiplos pontos de observação e a verdade não tem dono, embora a mentira deliberada tenha, e um dos nossos esforços aqui foi o de identificar narrativas que não têm apoio nos fatos", disse Barroso.
O ministro comandou hoje o segundo dia de audiências públicas ligadas à ação que acusa o governo de ter paralisado o Fundo Clima (Fundo Nacional sobre Mudança do Clima). Barroso é relator do processo, que ainda não tem data para ser julgada.
Na manhã de hoje, Bolsonaro usou a tribuna internacional, em pronunciamento gravado, para se defender das acusações de omissão na preservação ao meio ambiente, mas seu discurso se valeu de mentiras e imprecisões.
Na ONU, o presidente afirmou que índios e caboclos são responsáveis por incêndios na Amazônia e disse que as queimadas no Pantanal acontecem em decorrência das altas temperaturas na região.
A fala do presidente foram checadas pelo UOL Confere, que encontrou dados imprecisos e teses sem comprovação. O discurso de Bolsonaro também foi mal recebido entre o corpo diplomático dos outros países, que entenderam as declarações como uma recusa do presidente brasileiro em se comprometer com o desafio ambiental e com a cooperação com outras nações.
Houve críticas ainda de ambientalistas. A ex-presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Suely Araújo, afirmou que a postura negacionista de Bolsonaro se aproxima da "apologia ao crime" ambiental.
No STF, o debate sobre o Fundo Clima convocado por Barroso, ouviu entre ontem e hoje ministros do governo Bolsonaro, ambientalistas, cientistas e representantes do setor produtivo.
Ao encerrar os debates, o ministro afirmou que a proteção ao meio ambiente é uma obrigação imposta aos governantes pela Constituição.
"A constituição estabelece que o poder público tem o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações e portanto uma de nossas premissas é que a proteção ambiental não é uma escolha política, é um dever constitucional", disse Barroso.
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