Chuva na Europa e calor de 47ºC no Canadá acendem alerta de clima no Brasil
Eventos climáticos têm chamado a atenção e acendido um sinal de alerta. Uma onda forte de calor no Canadá causou centenas de mortes súbitas quando termômetros chegaram a registrar a marca recorde de 49,5ºC. Na Alemanha, também no hemisfério norte, uma chuva forte deixou ao menos 165 mortos, pessoas desaparecidas e um rastro de destruição.
Já o Brasil sofre atualmente com temperaturas baixíssimas no inverno. No final de junho, pela primeira vez desde 2000, Santa Catarina registrou três dias seguidos de neve, com a cidade de Bom Jardim da Serra chegando a marcar -7,5ºC. Na cidade de São Paulo, a onda de frio matou ao menos 12 pessoas, segundo o Movimento Estadual da População em Situação de Rua.
Para Marina Hirota, doutora em Meteorologia e professora e pesquisadora da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), esses eventos são consequência de mudanças ambientais globais, que incluem o clima. Ela explica que a chamada "crise climática" envolve também uma crise na biodiversidade e uma crise ecológica.
"O que a gente vive acontece a partir das atividades humanas desenfreadas de mudanças de uso da terra, de emissão de gases na composição da atmosfera e a consequência disso é uma elevação da temperatura de equilíbrio do planeta."
Essas mudanças geram o que chamamos de eventos extremos. É como se o ser humano estivesse perturbando o sistema. Agora até o planeta encontrar um novo equilíbrio dessas perturbações, teremos uma série de eventos extremos de maior frequência e intensidade"
A especialista destaca que, apesar das mudanças e perturbações, há outras causas e fatores que podem influenciar e até potencializar esses eventos recentes.
E no Brasil?
Sobre uma possível forte onda de calor que possa atingir o Brasil no verão, levando em conta os exemplos recentes em outros locais do mundo, Marina diz ser impossível prever com clareza.
"Ainda é precoce dizer, esses eventos causados pelas mudanças decorrem de uma alta variabilidade e de pouca previsibilidade. Com base em outros eventos, a gente pode ter uma ideia, mas é muito difícil fazer uma previsão e adiantar o que vai acontecer."
Apesar de pontuar que ainda temos que atravessar a primavera e que centros de meteorologia do Brasil ainda não fizeram previsões para o verão, ela alerta para os eventos do inverno brasileiro, que também estão mais rigorosos que o habitual.
"Estamos tendo temperaturas bem frias agora no inverno, está sendo um inverno mais frio e com mais dias de temperaturas mínimas bem baixas."
"Proteção" ao clima
As consequências do que já foi feito já estão em andamento e não há como "freá-las", porém, é importante uma mudança de hábitos para que o sistema não seja mais perturbado e possa encontrar seu novo equilíbrio.
"Se a gente parasse hoje com todas as perturbações no sistema terrestre, ainda assim a gente ia sofrer algumas consequências desses extremos porque existe um atraso na resposta do sistema. Agora ele está respondendo e vai responder até o momento que encontrar um novo equilíbrio, pois está em desequilíbrio", pontua ela.
Ela também destacou que independentemente de frear os extremos agora ou não, é importante uma atuação em instâncias locais e também globais para a adoção de "políticas de adaptação".
"São políticas de mitigação desses efeitos, no sentido de tolerar esses eventos. Pensar em soluções como a diminuição da emissão de gases de efeito estufa e também ações que, mesmo em pequenos gestos, reverberem numa escala maior. É importante atuar em nível individual, no nível de comunidade e até estadual, federal e mundial."
"Uma forma é buscar a emissão de carbono zero. Não podemos contar apenas com a governança para essas medidas, mas também em ações individuais, por isso, é importante nos atentar para aquilo que consumimos e o quanto alguns tipos de alimentos emitem de gases de efeito estufa."
Ainda de acordo com a especialista, o próprio uso de carros e aviões interfere nas mudanças e eventos climáticos extremos e, por isso, destaca a importância da consciência individual.
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