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Governo Federal quer 'amordaçar' Inpe ao mudar atribuição, diz ex-diretor

Incêndio atinge o Pantanal; mudança na divulgação de dados sobre incêndios. - CBMMS/Reprodução
Incêndio atinge o Pantanal; mudança na divulgação de dados sobre incêndios. Imagem: CBMMS/Reprodução

Do UOL, em São Paulo

19/07/2021 07h54

Diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre 2005 e 2012, o cientista da computação Gilberto Câmara disse, em entrevista ao jornal O Globo, que o Governo Bolsonaro quer "amordaçar" o instituto com medidas como a mudança na divulgação de dados sobre incêndios.

Na última semana, o governo federal anunciou que a atribuição de divulgar alertas sobre incêndios em todo o país passará do Inpe, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, ao Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), ligado ao Ministério da Agricultura.

Segundo integrantes do governo, o Inpe continuará participando do monitoramento como parte do SNM (Sistema Nacional de Meteorologia), que integrará outras instituições federais de meteorologia. Porém, a divulgação de dados passará a ser centralizada no Inmet.

"A criação do SNM é uma cortina de fumaça, fruto do desespero do governo, que está perdendo apoio eleitoral e é pressionado internacionalmente para tomar medidas contra o desmatamento e as queimadas. Com a falta de boas notícias, resolve amordaçar o Inpe, que é um mensageiro independente", disse Gilberto Câmara.

Na avaliação do ex-diretor, o Inpe "está vulnerável" desde a saída de Ricardo Galvão, que foi excluído da diretoria do órgão em 2019. Segundo Gilberto Câmara, o atual diretor Clezio de Nardin é "tão fraco como o ministro" [Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia].

"Eles não defendem o Inpe, e outros órgãos estão tirando proveito para tomar funções que o instituto desempenha há décadas. O Inmet quer divulgar dados sobre queimadas, mas o que ele sabe sobre isso? Nada. É de um primarismo vergonhoso", afirmou.

Gilberto Câmara ainda disse temer que o Inpe perca poder sobre outras atribuições, como a divulgação dos dados do desmatamento. Ele citou como fonte de preocupação o fortalecimento do Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), que é ligado ao Ministério da Defesa e também integrará o SNM.

"O Censipam já tentou várias vezes assumir esse papel, mas esbarrou em reações. O Censipam diz que tem dados sobre desmatamento, só que ninguém nunca viu. Então, qual é sua credibilidade? As Forças Armadas querem controlar a produção de informações sobre a Amazônia. A questão não é se o Inpe será novamente usurpado, e sim quando isso ocorrerá", completou.