Relatório aponta Brasil como 4º país em assassinatos de líderes ambientais
Relatório da ONG Global Witness, divulgado na noite de hoje, aponta o Brasil como o quarto país no mundo com mais assassinatos de lideranças ambientais e do direito à terra.
Segundo o levantamento, intitulado "Última Linha de Defesa", das 227 mortes violentas ocorridas no último ano, 20 foram no Brasil. Em 2019, o Brasil registrou 24 mortes, quatro a mais do que em 2018, tendo passado do quarto ao terceiro lugar na lista internacional naquele ano. A maioria das mortes foi na Amazônia, tendo sido dez assassinatos de indígenas.
Entre os mortos contabilizados em 2020, está Ari Uru-eu-wau-wau, 33, cujo corpo foi achado em 19 de abril na estrada do distrito de Tarilândia, município de Jaru (a 292 km de Porto Velho), em Rondônia.
O documento aponta que casos assim foram comuns em 2020, especialmente na América Latina, onde ocorreram três a cada quatro assassinatos de ativistas. Ao todo, 165 pessoas foram mortas na região por defesa de terras e do meio ambiente.
As mortes em 2020 foram registradas em número recorde pelo segundo ano consecutivo. A Colômbia, mais uma vez, foi o país com mais mortes do mundo, totalizando 65. Ao todo, o relatório contabiliza dados de 22 países.
Ranking de mortes de 2020
- 1º - Colômbia - 65
- 2º - México - 30
- 3º - Filipinas - 29
- 4º - Brasil - 20
- 5º - Honduras - 17
- 6º - Congo - 15
- 7º - Guatemala - 13
- 8º - Nicarágua - 12
- 9º - Peru - 6
- 10º - Índia - 4
Ainda segundo o documento, em todo o mundo, quatro defensores foram mortos, em média por semana, desde a assinatura do Acordo de Paris, sobre alterações climáticas, em 2015.
O levantamento aponta que esse número é subestimado, já que as crescentes restrições ao jornalismo e a outras liberdades fazem muitos dos casos nem serem notificados.
'Lucro acima da vida e do meio ambiente'
Segundo o relatório, 30% dos ataques estavam diretamente ligados à exploração de recursos naturais, como a extração de madeira, mineração, agronegócio, construção de hidrelétricas e outras obras de infraestrutura.
A extração de madeira, por sinal, foi o setor ligado ao maior número de assassinatos: 23 casos e ataques relatados no México, no Brasil, na Nicarágua e no Peru.
"No ano em que os países latino-americanos sofreram crises sem precedentes, uma constante permaneceu: a violência contra os defensores e as defensoras. A América Latina tem sido, de forma consistente, a região mais afetada por essas questões. Com muita frequência, as pessoas que defendem sua terra e nosso planeta sofrem criminalização por parte de governos, intimidação em suas comunidades e assassinatos", diz Marina Commandulli, assessora de campanhas da Global Witness.
Essa violência sistêmica é resultado de décadas de impunidade para agressores e, entre esses, empresas que colocam a extração e o lucro acima da vida humana e do meio ambiente.
Marina Commandulli, assessora da Global Witness
"O governo de Jair Bolsonaro priorizou as indústrias extrativas nas regiões da Amazônia e do cerrado", diz resumo do estudo. Além disso, "organizações de direitos indígenas e seis partidos políticos alegaram que a má administração da covid-19 pelo governo Bolsonaro poderia levar a um 'genocídio' dos povos indígenas", prossegue o documento.
O relatório ainda faz uma série de recomendações aos países, entre elas reconhecer o direito humano a um meio ambiente seguro, saudável e sustentável e garantir que os compromissos sejam assumidos na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021), que acontece em Glasgow, na Escócia, em outubro, sob a presidência do Reino Unido.
Além disso, a ONG pede a garantia de políticas nacionais para proteção de defensores e defensoras da terra e do meio ambiente e ação da Justiça para existir investigação de todos os casos de morte violenta.
A Global Witness é uma organização internacional britânica dedicada a denunciar abusos de direitos humanos. Desde 2012, publica este levantamento anual sobre assassinatos de defensores de meio ambiente e de direitos humanos no mundo.
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