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Relatório aponta Brasil como 4º país em assassinatos de líderes ambientais

Ari, na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, morto em abril de 2020 - Gabriel Uchida/Kanindé
Ari, na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, morto em abril de 2020 Imagem: Gabriel Uchida/Kanindé

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

12/09/2021 20h01

Relatório da ONG Global Witness, divulgado na noite de hoje, aponta o Brasil como o quarto país no mundo com mais assassinatos de lideranças ambientais e do direito à terra.

Segundo o levantamento, intitulado "Última Linha de Defesa", das 227 mortes violentas ocorridas no último ano, 20 foram no Brasil. Em 2019, o Brasil registrou 24 mortes, quatro a mais do que em 2018, tendo passado do quarto ao terceiro lugar na lista internacional naquele ano. A maioria das mortes foi na Amazônia, tendo sido dez assassinatos de indígenas.

Entre os mortos contabilizados em 2020, está Ari Uru-eu-wau-wau, 33, cujo corpo foi achado em 19 de abril na estrada do distrito de Tarilândia, município de Jaru (a 292 km de Porto Velho), em Rondônia.

O documento aponta que casos assim foram comuns em 2020, especialmente na América Latina, onde ocorreram três a cada quatro assassinatos de ativistas. Ao todo, 165 pessoas foram mortas na região por defesa de terras e do meio ambiente.

As mortes em 2020 foram registradas em número recorde pelo segundo ano consecutivo. A Colômbia, mais uma vez, foi o país com mais mortes do mundo, totalizando 65. Ao todo, o relatório contabiliza dados de 22 países.

Ranking de mortes de 2020

  • 1º - Colômbia - 65
  • 2º - México - 30
  • 3º - Filipinas - 29
  • 4º - Brasil - 20
  • 5º - Honduras - 17
  • 6º - Congo - 15
  • 7º - Guatemala - 13
  • 8º - Nicarágua - 12
  • 9º - Peru - 6
  • 10º - Índia - 4

Ainda segundo o documento, em todo o mundo, quatro defensores foram mortos, em média por semana, desde a assinatura do Acordo de Paris, sobre alterações climáticas, em 2015.

O levantamento aponta que esse número é subestimado, já que as crescentes restrições ao jornalismo e a outras liberdades fazem muitos dos casos nem serem notificados.

10.set.2019 - Índio guajajara, "guardião da floresta", segura uma arma enquanto se prepara para buscas por madeireiros ilegais em Arariboia - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
10.set.2019 - Índio guajajara, "guardião da floresta", segura uma arma enquanto se prepara para buscas por madeireiros ilegais
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

'Lucro acima da vida e do meio ambiente'

Segundo o relatório, 30% dos ataques estavam diretamente ligados à exploração de recursos naturais, como a extração de madeira, mineração, agronegócio, construção de hidrelétricas e outras obras de infraestrutura.

A extração de madeira, por sinal, foi o setor ligado ao maior número de assassinatos: 23 casos e ataques relatados no México, no Brasil, na Nicarágua e no Peru.

"No ano em que os países latino-americanos sofreram crises sem precedentes, uma constante permaneceu: a violência contra os defensores e as defensoras. A América Latina tem sido, de forma consistente, a região mais afetada por essas questões. Com muita frequência, as pessoas que defendem sua terra e nosso planeta sofrem criminalização por parte de governos, intimidação em suas comunidades e assassinatos", diz Marina Commandulli, assessora de campanhas da Global Witness.

Essa violência sistêmica é resultado de décadas de impunidade para agressores e, entre esses, empresas que colocam a extração e o lucro acima da vida humana e do meio ambiente.
Marina Commandulli, assessora da Global Witness

"O governo de Jair Bolsonaro priorizou as indústrias extrativas nas regiões da Amazônia e do cerrado", diz resumo do estudo. Além disso, "organizações de direitos indígenas e seis partidos políticos alegaram que a má administração da covid-19 pelo governo Bolsonaro poderia levar a um 'genocídio' dos povos indígenas", prossegue o documento.

O relatório ainda faz uma série de recomendações aos países, entre elas reconhecer o direito humano a um meio ambiente seguro, saudável e sustentável e garantir que os compromissos sejam assumidos na COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021), que acontece em Glasgow, na Escócia, em outubro, sob a presidência do Reino Unido.

Além disso, a ONG pede a garantia de políticas nacionais para proteção de defensores e defensoras da terra e do meio ambiente e ação da Justiça para existir investigação de todos os casos de morte violenta.

A Global Witness é uma organização internacional britânica dedicada a denunciar abusos de direitos humanos. Desde 2012, publica este levantamento anual sobre assassinatos de defensores de meio ambiente e de direitos humanos no mundo.