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Na contramão mundial, emissão de gases de efeito estufa aumenta no Brasil

Incêndio florestal e desmatamento na Amazônia visando a expansão da pecuária, em Candeias do Jamari (RO) - Victor Moriyama/Amazônia em Chamas
Incêndio florestal e desmatamento na Amazônia visando a expansão da pecuária, em Candeias do Jamari (RO) Imagem: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

28/10/2021 10h00

A três dias da abertura da Cúpula do Clima, o relatório de 2020 do Observatório do Clima aponta uma crescimento de 9,5% na emissão de gases de efeito estufa no Brasil. O país aparece na contramão mundial, já que as emissões do resto do mundo caíram 7%.

Os dados fazem parte do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, divulgado hoje pelo Observatório do Clima. Segundo o relatório, as emissões brutas de CO2 no Brasil passaram de 1,97 bilhão em 2019 para 2,16 bilhões em 2020— o maior valor já registrado desde 2006.

O setor responsável por elevar os números brasileiros foi de mudança de uso da terra, que engloba o desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Este setor emitiu 998 milhões de toneladas de CO2 em 2020, um aumento de 24% em relação a 2019.

"Apenas na Amazônia a emissão por alterações no uso do solo alcançou no ano passado 782 milhões de toneladas de CO2", explica o Observatório do Clima.

Se a floresta brasileira fosse um país, seria o 9º maior emissor do mundo, à frente da Alemanha. Somando o Cerrado à conta, os dois biomas emitem mais que o Irã e seriam o 8º emissor mundial."
Observatório do Clima em relatório

Energia foi único setor a registrar queda

A mudança do uso da terra correspondeu a 46% do total bruto das emissões do país. Em seguida vêm a agropecuária, com 27% das emissões; o setor de energia, com 18%; os processos industriais, com 5% e o setor de resíduos, que detém 4% das emissões brutas.

O setor de energia foi o único a apresentar queda na comparação com o ano de 2019. Foram 394 milhões contra 412 milhões do ano anterior, uma queda de 4,6%.

"Isso ocorreu em resposta direta à pandemia, que nos primeiros meses de 2020 reduziu o transporte de passageiros, a produção da indústria e a geração de eletricidade", explica o Observatório.

Por outro lado, a crise econômica é apontada como causa do aumento das emissões do setor de agropecuária, que foi de 577 milhões de toneladas em 2020.

"A crise econômica diminuiu o consumo de carne, com uma redução de quase 8% no abate de bovinos. Isso aumentou em 2,6 milhões de cabeças o rebanho nacional, o que, por sua vez, aumentou também as emissões de metano por fermentação entérica (o popular 'arroto do boi')"

gases, efeito, estufa - Reprodução/SEEG/Observatório do Clima - Reprodução/SEEG/Observatório do Clima
Emissões de gases de efeito estufa no Brasil de 1990 a 2020
Imagem: Reprodução/SEEG/Observatório do Clima

Quinto maior poluidor

Enquanto o mundo viu uma redução de quase 7% nas suas emissões de carbono, o Brasil consolidou sua posição como um dos maiores poluidores. De acordo com o levantamento, o país ocupa a quinta posição entre os poluidores climáticos, com 3,2%. O país fica atrás apenas de China, Estados Unidos, Rússia e Índia.

A pandemia é apontada pelo relatório como a causa provável para a redução da média mundial, que ficou em torno de 6,7 toneladas de CO2 emitidos. Já no Brasil, essa emissão atingiu 10,2 toneladas brutas.

"Mais uma vez, o desmatamento distorce essa média: a emissão per capita de estados amazônicos como Mato Grosso e Rondônia em 2020 foi quatro vezes maior do que a dos EUA", aponta o documento.

O relatório destaca que, com os números de 2020, o Brasil fica em desvantagem para cumprir suas metas no Acordo de Paris. "Grandes emissores de gases de efeito estufa, como o Brasil e os demais países do G20, têm a responsabilidade maior pela forte redução de emissões necessária para cumprir o objetivo do Acordo de Paris de estabilizar o aquecimento da Terra em 1,5°C neste século", diz o texto.

Para cumprir a meta até 2030, o mundo precisa reduzir em 7,6% as suas emissões todos os anos a partir de 2021.

"É necessário, portanto, aumentar sobremaneira a ambição das ações de mitigação (redução de emissões) para evitar os piores efeitos da mudança do clima. E os dados do SEEG mostram que o Brasil está no caminho inverso", registra o documento.

Objetivo do pais é chegar à neutralidade de emissões em 40 anos

A meta brasileira para o Acordo de Paris é reduzir as suas emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030 —em comparação com os índices de 2005—, além de atingir a neutralidade em 2060.

"Quem planta desmonte ambiental colhe gás carbônico", disse Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, em nota. "O Brasil conseguiu a proeza de ser talvez o único grande emissor que poluiu mais durante o primeiro ano da pandemia. Os dados do SEEG confirmam que os destruidores da floresta, embalados pela antipolítica ambiental de Jair Bolsonaro, não fizeram home office. É mais um golpe na imagem internacional do país, que chegará completamente desacreditado a Glasgow na semana que vem para a COP 26."