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Governo Bolsonaro faz promessa ambiental para ganhar tempo, diz Marina

Colaboração para o UOL, no Rio

01/11/2021 18h27Atualizada em 02/11/2021 12h36

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-AC) disse hoje no UOL News que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz promessa ambiental para ganhar tempo.

Nesta manhã, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse que o Brasil vai ampliar a meta de redução de emissão de gases do efeito estufa de 43% para 50% até 2030. O anúncio foi feito de Brasília e transmitido no Pavilhão Brasil, instalado na COP26, a 26ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que começou ontem em Glasgow, na Escócia.

"O que o governo fez foi igualar o compromisso que já havia assumido na época da presidente Dilma em redução das emissões do Brasil em 50%. O governo faz esse anúncio, mas na verdade já conhecemos como funciona o governo Bolsonaro. O governo Bolsonaro faz anúncios para que possa ganhar tempo", disse Marina.

Marina afirmou que o governo federal fez a sinalização de hoje porque o Brasil está no "olho do furacão". Para ela, o país vive um isolamento internacional muito grande em relação às questões ambientais.

Ninguém quer ficar perto do Bolsonaro. Nem mesmo os países que têm governos autocratas querem ter nenhum tipo de presença ao lado do Bolsonaro. Ele fica isolado o tempo todo
Marina Silva

'Anúncios loucos'

A ex-ministra criticou também a falta de explicação sobre como o país irá reduzir em 50% a emissão dos gases estufa até 2030. Para ela, o governo precisa detalhar como irá chegar a essa marca.

"Da parte do governo Bolsonaro, sabemos que eles são especialistas em apresentar PowerPoint aqui no Brasil ou fazer anúncios loucos internacionalmente como acabamos de ver fazer, porque não tem nenhum tipo de detalhamento. A meta brasileira deveria ser bem maior para que se faça frente à necessidade de aumento dos compromissos por parte dos países que são grandes emissores, e o Brasil é um grande emissor", disse Marina.

Marina disse ainda que a política feita por Bolsonaro para o setor ambiental é muito alinhada aos setores retrógrados do agronegócio do país. Ela classificou o anúncio de hoje como "vazio" e sem credibilidade.

Qualquer meta que ele (Bolsonaro) anuncia não é acompanhada da recomposição do orçamento do Ministério do Meio Ambiente, do Ibama, do ICMBio, do Instituto de Pesquisas Espaciais, a recomposição dos quadros técnicos para poder atuar com todo suporte à frente do maior vetor de missão que é o desmatamento e a queimada
Marina Silva

Lira agindo como Salles

A ex-ministra ainda cita o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), como o responsável pela política ambiental do governo Bolsonaro. Marina diz que o aliado do presidente da República assumiu o lugar do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

É ele que opera a agenda do retrocesso dentro do Congresso e o governo não tem nenhum compromisso com aquilo que diz
Marina Silva

Como uma das soluções para a redução da emissão de gases estufa, Marina aponta as diminuições do desmatamento e das queimadas no país. A ex-ministra diz ainda que todo ano o Executivo federal fala em redução, mas o que se vê é mais "o governo se portando ao lado dos criminosos".

"Reduzir desmatamento é fundamental, diversificar matriz energética para uma matriz energética limpa e segura, reforçar as equipes, retomar novas bases de plano de prevenção e controle do desmatamento, que a gente sabe que funciona, e fazer todos esses detalhamentos em parceria com a comunidade científica e com a sociedade civil, que têm um conhecimento muito grande", afirma Marina.