Sebastião Salgado lamenta contágio de covid entre indígenas: 'Funai acabou'

Com o avanço do surto de covid-19 entre indígenas que vivem isolados, Sebastião Salgado atribui a responsabilidade deste cenário à Funai (Fundação Nacional do Índio). O fotógrafo é o único que realizou trabalhos nas aldeias Korubo, na Amazônia e as declarações foram ditas de Paris, onde mora, ao jornal O Globo.

"A Funai acabou. Ela é a responsável por essa contaminação. Se houver uma quantidade de mortes eu, pessoalmente, acho que tem que se imputar à política da Funai. Porque ela está ali para proteger. Ela sabe que eles são de recentíssimo contato, mesmo os que foram contatados em 2015, porque ainda é um contato extremamente recente", disse o fotógrafo.

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Salgado detalhou ainda que membros da etnia isolada na Amazônia não desenvolveram os mesmos anticorpos do grupo de indígenas que já convivem há mais tempo com as populações de fora das aldeias. O avanço da contaminação de indígenas pela covid-19, segundo ele, faz parte de um comportamento negacionista da Funai.

"Vamos torcer para esse governo acabar e a gente renovar a esperança no órgão", declarou ao O Globo.

O fotógrafo foi informado pela equipe de reportagem sobre o avanço do número de casos entre os Korubo e disse sentir muito. Segundo ele, os Korybos do Rio Ituí foram vacinados com a primeira e a segunda dose, enquanto outros que vivem isolados não foram imunizados contra o vírus.

Para ele, a Funai sabe que o distanciamento entre indígenas é algo difícil de controlar e que a fundação tinha como obrigação "protegê-los".

"Eu não sabia que o nível de contágio era tão alto, ou seja, praticamente está todo mundo infectado. E é certo que os outros também se contaminarão já que é muito difícil pedir para eles tomarem distanciamento. São muito unidos, dormem juntos, caçam juntos, fazem tudo juntos".

Leilão de fotos como 'retaliação' da Funai

A Funai ordenou a retirada de 15 fotos registradas por Sebastião Salgado de sua sede. As imagens retratavam os korubus e foram à leilão.

Ao ser questionado se haveria mágoa diante do ocorrido, o fotógrafo disse entender a cena como uma retaliação política por usa participação em uma campanha de artistas ara que o governo, o Congresso e o Judiciário evitassem o extermínio nas aldeias.

"Em momento algum, nós atacamos o governo, nós apenas demandamos os Três Poderes, e eles (Funai) responderam com uma reação hiperviolenta. Eles quiseram me devolver as fotos, mas estas fotos não são nem da Funai e nem são minhas. Essas fotos pertencem ao meu país, pertencem ao Brasil. Hoje elas estão em exposição no MPF (Ministério Público Federal)", disse ao O Globo.