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Brasileiras lideram: só estas empresas emitem mais gas que países inteiros

REUTERS/Paulo Whitaker
Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker

Do UOL, em São Paulo

22/11/2022 04h00

Gigantes brasileiras lideram emissões de 15 grandes produtoras globais de carne e laticínios. No topo do ranking, JBS emite mais que França, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia juntos.

As emissões de metano de 15 empresas do setor de carne e laticínio representam somam cerca de 12,8 milhões de toneladas e equivalem a mais de 80% de toda a pegada deixada pela União Europeia e mais do que países inteiros, como Rússia, Alemanha, Canadá ou Austrália.

O dado foi divulgado em novembro no relatório "Emissões impossível: Como a indústria de carne e laticínios está aquecendo o planeta", pelo Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP) e a Changing Markets Foundation.

As brasileiras JBS e Marfrig aparecem no topo da lista —tanto de emissões de metano (CH4), quanto de CO2 equivalente, que, além do metano, inclui os gases de efeito estufa CO2 e óxido nitroso.

"Apenas uma empresa de carnes, a JBS, é responsável por quase 40% das emissões pecuárias estimadas por essas corporações. Suas 287,9 milhões de toneladas de emissões de CO2 equivalente superam as emissões da Espanha", diz trecho do documento.

"Suas emissões de metano [da JBS] excedem as emissões combinadas de metano na pecuária da França, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia, e se comparam a 55% do metano na pecuária dos EUA."

Quanto à Marfrig, a segunda maior produtora de carne bovina do mundo, o documento aponta que as emissões de metano da empresa estão no mesmo nível das provenientes da pecuária na Austrália.

Emissões de metano (kg CH4) de cada empresa

  1. JBS (sede Brasil) - 4.793.839.720
  2. Marfrig (sede Brasil) - 1.881.892.248
  3. Tyson (sede EUA) - 1.572.725.034
  4. Dairy Farmers of America (sede EUA) - 990.078.641
  5. Groupe Lactalis (sede França) - 516.891.224
  6. Fonterra CO (sede Nova Zelândia) - 494.643.030
  7. Yili Group (sede China) - 417.022.965
  8. Saputo (sede Canadá) - 392.985.061
  9. Arla Foods (sede Dinamarca) - 326.332.247
  10. Nestlé (sede Suíça) - 323.950.260
  11. FrieslandCampina (sede Holanda) - 281.074.490
  12. DW Group (sede China) - 261.372.039
  13. Danone (sede França) - 232.473.624
  14. DMK Group (sede Alemanha) - 157.211.156
  15. Danish Crown (sede Dinamarca) - 147.359.890

Se essas empresas fossem uma nação, esta seria a décima maior emissora de gases de efeito estufa do planeta, aponta o relatório.

Em nota, tanto a Marfrig quanto a JBS afirmaram que têm metas de redução das emissões de gases de efeito estufa com base na ciência.

A JBS afirmou que está comprometida em atingir emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2040. "Não vimos o relatório ou a metodologia que essas organizações de defesa de campanha podem ter usado para calcular as emissões. No entanto, quaisquer cálculos feitos sem o benefício de dados completos e precisos são meramente especulativos", diz a nota.

A Marfrig afirmou que pretende diminuir as emissões de gases do efeito estufa da parte industrial da produção (que envolve transformar a matéria prima em produto e a energia utilizada na planta de suas indústrias) em 68% (ano-base 2019) até o ano de 2035, e que utilizará somente energia renovável até 2030.

Papel do metano no aquecimento

O metano é apontado como peça-chave para conter as mudanças climáticas, uma vez que é cerca de 80% mais potente ao aquecimento da Terra do que o CO2.

O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) estima que o gás seja responsável por 30% do aquecimento global desde os tempos pré-industriais.

Cerca de 100 países de comprometeram na Conferência do Clima de Glasgow, no ano passado, a reduzir em 30% as emissões de metano até 2030. Na COP27, o número de signatários subiu para 150 países, mas a China, um dos maiores poluidores climáticos, ficou de fora. O Brasil é um dos signatários.

Gás do boi?

Gás de vida curta, porém de efeitos persistentes, o metano é produzido no aparelho digestivo do gado, em processos naturais e em uma série de atividades humanas, como os resíduos de aterros e a produção de óleo e gás.

Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, explica que as emissões do setor pecuário no mundo estão ligadas à fermentação entérica do boi, mas também à desmatamento associado à expansão das pastagens degradadas. "Com destaque de 54% no caso do Brasil", diz.

Dados de 2021 do MapBiomas mostram que mais de 98% do desmatamento no país é causado pela agropecuária.

Leis urgentes e ambiciosas

O documento faz recomendações aos governos e pede que os países adotem uma legislação "urgente e ambiciosa para abordar os impactos climáticos significativos das corporações globais de carne e laticínios", e que "apoiem uma transição justa para a transformação da pecuária industrial em agroecologia".

O relatório também recomenda às empresas analisadas que estabeleçam "metas separadas de redução de metano e planos de ação para alcançá-las, incluindo relatórios separados de emissões de metano".

Antes que a carne seja apontada como vilã do clima, os especialistas afirmaram à DW que é possível promover uma pecuária de baixo impacto climático com as seguintes medidas:

  • Recuperar pastagens degradadas. O solo recuperado remove o carbono da atmosfera e ainda melhora o alimento do gado. Com alimentação em pastos saudáveis, é possível reduzir a emissão de metano da fermentação entérica;
  • Incluir aditivos na alimentação do gado que inibem a produção de metano durante a digestão;
  • Reduzir o tempo de abate do animal para reduzir a sua permanência no pasto;
  • Melhorar a qualidade das pastagens para aumentar o número de cabeças de gado por hectare;
  • Investir em sistemas integrados de pastagens, promovendo a integração lavoura-pecuária-floresta.

Renata Potenza, coordenadora de projetos de Clima e Cadeias Agropecuárias no Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), diz que o Brasil tem oportunidade de reduzir as emissões da pecuária e ainda sequestrar carbono por meio de solos recuperados.

"Temos tecnologia disponível, mas falta assistência técnica para o produtor. Precisamos focar na transferência de tecnologia para o campo, para quem produz a carne", afirma. (Com DW)