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Jornal: Bolsonaro ignorou indígenas e gastou R$ 4 mi em sardinha e linguiça

Sob governo Bolsonaro, Funai assinou contratos milionários para enviar alimentos inapropriados para indígenas - Marco Bello/Reuters
Sob governo Bolsonaro, Funai assinou contratos milionários para enviar alimentos inapropriados para indígenas Imagem: Marco Bello/Reuters

Do UOL, em São Paulo

15/05/2023 12h40Atualizada em 15/05/2023 13h02

O governo Jair Bolsonaro (PL) gastou R$ 4,4 milhões para enviar aos yanomamis alimentos que não são consumidos por indígenas. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

O que aconteceu:

A Funai desprezou uma recomendação técnica e assinou contrato milionário para comprar cestas básicas com sardinha e linguiça calabresa durante a crise humanitária na Terra Yanomami. Nenhum dos alimentos faz parte da dieta local.

Também não há registros de que as cestas foram integralmente entregues, segundo o Estadão.

O Estadão apurou que a empresa contratada para vender linguiça e sardinha foi aberta dois meses antes da assinatura do primeiro contrato. A H. S. Neves Junior foi a empresa que mais vendeu sem licitação para a Funai na gestão Bolsonaro.

A Terra Yanomami foi a que mais recebeu recursos do governo Bolsonaro para a compra de alimentos (R$ 7,8 milhões). Mesmo assim, centenas de indígenas morreram por desnutrição.

Para o MP, alimentos como sardinha e linguiça "podem gerar doenças e hábitos alimentares ruins, que comprometem a aceitação dos alimentos saudáveis e tradicionais produzidos localmente."

Em 2021, o MP pediu a condenação da União para considerar estudos antropológicos e nutricionais na composição das cestas. A Justiça acatou, mas o pedido foi ignorado pelo governo Bolsonaro.

No governo Bolsonaro, a Funai também comprou 19 toneladas de bisteca para enviar ao Vale do Javari (AM), mas a carne congelada não chegou às aldeias, revelou o Estadão.

O contrato de bistecas para indígenas segue em vigor. A Funai, sob o governo Lula (PT), mandou investigar a compra.

Os yanomamis não comem sardinha, não comem calabresa. Então, eles realmente jogavam fora, porque isso não é suficiente. Isso não mata a fome. Não nos consultaram sobre o envio desses alimentos.
Dário Kopenawa, representante das comunidades que vivem na Terra Yanomami, ao Estadão

Parte dos alimentos chegava sem condições para consumo, mas a ordem era entregar. Era um desperdício, realmente, do dinheiro público.
Mislene Metchacuna Martins Mendes, atual diretora de administração e gestão da Funai, ao Estadão